Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 04, 2008

Suely Caldas Agora é construir o Brasil

"Viramos a página da moratória" - traduziu o ex-secretário do Tesouro na gestão FHC e atual diretor-financeiro da Vale, Fábio Barbosa, ao explicar o significado político da classificação do Brasil em grau de investimento. Os benefícios para a economia e para a população são tão óbvios e intensos que só mereceram comemorações, nenhuma voz crítica discordante. Nem mesmo daqueles que, por oportunismo político, desinformação ou cegueira ideológica, exploraram (e ainda exploram) a moratória, o calote e o nosso descolamento financeiro do resto do mundo como saída para combater a miséria e a pobreza.

Com a classificação, o Brasil passou a ser visto como um porto seguro para o investidor aplicar aqui seu dinheiro, financiando empresas, gerando crescimento econômico, riqueza, renda, empregos e oportunidades de ascensão social para os excluídos, que nada ganhariam com uma moratória porque ela atrofia o progresso e fecha as portas do Brasil para o investimento externo.

O Partido dos Trabalhadores (PT) por muitos anos pregou a moratória, o calote e até chegou a defender um plebiscito. Ao assumir o poder Lula enfrentou e desafiou os companheiros, manteve intacta a política macroeconômica de FHC, desprezou o ideário do PT, pagou as dívidas interna e externa, enxergou mais longe e sabiamente do que os petistas com diploma - ideológicos, preconceituosos e viciados em rótulos sem conteúdo. Lula ajudou a virar a página da moratória e hoje colhe os frutos da "herança bendita" de FHC. Já o PT - identificado como o partido do mensalão, dos dólares na cueca, dos vampiros e aloprados - só consegue sobreviver à sombra de Lula, não formula, não propõe, não tem identidade.

A Vale foi a primeira empresa brasileira a conquistar o grau de investimento antes do governo, inaugurando um clube restrito formado por Petrobrás, Gerdau e Aracruz Celulose. Antes, a Pemex (petrolífera) havia conseguido a classificação à frente do governo do México. "Já temos ações negociadas em bolsas estrangeiras, mas o grau de investimento soberano (para o País) melhora muito o acesso no exterior ao mercado de capitais e a recursos de custo baixo", comemora Fábio Barbosa. Empresas que só operam na Bovespa têm a chance agora de - melhorando transparência e governança em gestão - tirar proveito do dinheiro farto que virá de fora para vender ações e financiar seu crescimento.

Começa agora uma nova etapa para o Brasil. Longe de levar a acomodação e deitar em berço esplêndido, o governo tem pela frente um país a construir, com uma diferença: agora pode ser mais fácil, barato e rápido, dependendo das escolhas que fizer. O grau de investimento facilita a construção, mas o governo e os brasileiros precisam fazer a sua parte.

"É como sempre bater a bola enfrentando uma barreira com jogadores de 2 metros de altura e, de repente, eles encolhem para 1,50 metro. Fica mais fácil fazer o gol", compara Fábio Barbosa.

É verdade que a economia real tem crescido, mas com limites, a taxas de 4% e 5%, decorrentes das deficiências na infra-estrutura, que levam decisões de investimento à desistência. É imensa a oportunidade que se abre agora para investidores estrangeiros decidirem construir aqui estradas, portos, dutos, usinas elétricas. Mas eles condicionam ao que é obrigação do governo fazer: um marco regulatório claro, estável, divorciado de influências políticas. E agências reguladoras autônomas, despolitizadas e dirigidas por técnicos competentes. Sem isso, o investidor vai escolher outro país, mesmo com o grau de investimento alcançado pelo Brasil.

Fazer as reformas e criar um cronograma de redução da dívida pública interna também ajudam a desenvolver o País. Aliás, é o que mais têm alegado as duas outras agências de risco - Fitch e Moody?s - ao negarem a classificação do Brasil. A arrecadação tributária tem crescido com vigor, o esperado ingresso maior de recursos dará mais musculatura às empresas e aumentará a arrecadação de impostos. Portanto, não vai faltar dinheiro. É hora mais do que oportuna para o governo economizar e começar a abater sua dívida, concentrando gastos em saúde, educação, saneamento, área social e eliminando os eleitoreiros.

No mais é o Banco Central continuar monitorando a política macroeconômica para não permitir descontroles. A inflação ultrapassando o centro da meta e o péssimo resultado das contas externas em março, divulgado esta semana, são indicadores preocupantes. Não podem atrapalhar a festa.

*Suely Caldas, jornalista, é professora de Comunicação da PUC-RJ. E-mail: sucaldas@terra.com.br

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