Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 04, 2008

Celso Ming Abertura dos portos

Talvez com algum exagero, pode-se dizer que a obtenção do grau de investimento pela dívida externa terá para a economia brasileira impacto equivalente ao que teve há 200 anos o ato de d. João VI, que abriu os portos brasileiros "às nações amigas".

É uma bobagem achar que o Brasil está escancarando seu mercado financeiro para o capital especulativo. É exatamente o contrário. Os capitais que não vinham para cá (porque não podiam correr riscos), e que agora podem vir porque este se tornou um porto mais confiável, são justamente os conservadores, proibidos de especular. É o dinheiro dos fundos soberanos, dos fundos de pensão, seguradoras e o patrimônio de carteiras de baixo risco. Vêm para ficar por aqui por um período longo e não para dar uma mordida e bater em retirada. Logo se verá que escolhas farão, mas é razoável esperar que, num primeiro momento, se concentrem na produção de commodities e na construção civil.

Essa peculiaridade é suficiente para mostrar que não faria sentido, como exigem alguns, coibir a entrada de capitais especulativos porque provocariam excessiva valorização do real. E aí é preciso reexaminar um conceito e seu equivalente preconceito. Trata-se da questão do déficit corrente.

As Contas Correntes correspondem ao fluxo de pagamentos para dentro e para fora. Aí entram os resultados do Comércio Exterior (exportações e importações), da Conta de Serviços (juros, transportes, royalties, seguros, turismo, etc.) e as Transferências Unilaterais (como as remessas de/para brasucas e dekasseguis). Só fica de fora o fluxo da Conta de Capitais.

No passado, o rombo crescente nas Contas Correntes foi o fator que empurrou o País para a moratória e calotes da dívida. Era desse déficit que o então ministro Mário Simonsen dizia: "A inflação aleija, mas o câmbio mata." Mas foi por causa dele que o País ficou parado por tanto tempo. É um trauma não inteiramente digerido por algumas correntes de economistas brasileiros.

Um certo déficit nas Contas Correntes é normal e saudável, não só porque garante alguma desvalorização da moeda nacional o que, por sua vez, dá competitividade ao produto brasileiro no exterior, mas também porque estimula a entrada de capitais.

A formação do seu contrário (superávit nas Contas Correntes) implica exportação de poupança na medida em que aumenta as reservas que, por sua vez, são aplicadas em títulos internacionais de alta aceitação. Alto e longo superávit nas Contas Correntes implica levar o País a emprestar dinheiro para país rico, o que não deixa de ser anomalia quando o credor é pobre e precisa se desenvolver.

Mais do que isso, se graças à obtenção do grau de investimento está prevista maior entrada de capitais externos de longo prazo, esse déficit fica perfeitamente justificado.

Falta agora o governo definir de quanto ele pode ser e como serão ajustados os outros departamentos da política econômica de modo a obter resultados favoráveis.

O problema é que o governo Lula não tem formuladores de política econômica. Com exceção do Banco Central, uma equipe econômica atrás da outra apenas reage aos fatos e, ainda assim, de maneira confusa e imediatista.

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