Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 04, 2008

Riscos mais à frente

O grau de investimento leva euforia a mercados, mas crescimento de passivo externo exige atenção de autoridades

OS INVESTIDORES domésticos e internacionais correram às compras de papéis brasileiros. Esse foi o efeito imediato e previsível da decisão da Standard & Poor's que elevou a grau de investimento sua classificação de risco acerca da dívida pública brasileira. A Bovespa atingiu recordes de valorização.
O selo de investimento seguro estimula a entrada de recursos externos e, assim, tende a facilitar o financiamento da dívida pública e do investimento privado. Espera-se, em médio prazo, redução dos juros domésticos e sua convergência com os praticados no exterior.
Esses fatores favoráveis, contudo, devem ser matizados. No curto prazo, juros domésticos ainda elevados podem atrair um fluxo de capitais especulativos e desencadear um novo ciclo de valorização do real. Se a ascensão da moeda nacional favorece o controle da inflação, reduz a competitividade da economia brasileira, com repercussões deletérias nas contas externas.
Impulsionado pela forte queda da diferença entre exportações e importações, o saldo em transações correntes com o restante do mundo se deteriora em velocidade surpreendente. No primeiro trimestre registrou déficit de US$ 10,7 bilhões.
Segundo o Iedi ("think tank" ligado à indústria), o superávit comercial do setor fabril, que caiu de US$ 29,8 bilhões em 2006 para US$ 18,8 bilhões em 2007, vem sendo obtido graças a exportações de baixa intensidade tecnológica. No segmento de alta tecnologia houve déficit de US$ 14,8 bilhões em 2007, ao passo que o setor de média-alta tecnologia (em que está o complexo automobilístico) ficou negativo em US$ 10,3 bilhões.
O financiamento imediato do déficit em transações correntes não parece problemático. Pode ser realizado com o fluxo de investimento direto, a entrada de capital de curto prazo destinado à compra de ações na Bovespa e de títulos públicos, e a contratação de novas dívidas. Mas é preciso atentar para a evolução, a médio prazo, dos estoques de ativos internos e externos do país.
A dívida externa total do país voltou a subir. Aumentou de US$ 215,5 bilhões em março de 2007 para US$ 254 bilhões em março de 2008, acréscimo de quase US$ 40 bilhões. Essa dívida responde, porém, apenas por uma parte do passivo externo da economia brasileira -ou seja, do conjunto de compromissos em moeda estrangeira. Este monta a US$ 885,2 bilhões, de acordo com o dado mais recente divulgado pelo BC, de setembro de 2007. O ativo externo (os investimentos de brasileiros no exterior, incluindo reservas internacionais) alcança US$ 342,1 bilhões. O resultado é um passivo externo líquido de US$ 543,1 bilhões.
Obter moeda estrangeira em escala e velocidade suficientes para arcar com essa posição externa negativa será crucial para evitar, no futuro, rupturas dramáticas como as que vivenciamos reiteradas vezes nas últimas décadas. Isso requer atenção para o patamar da taxa de câmbio, bem como políticas agressivas de fomento às exportações.

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