Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 04, 2008

CLÓVIS ROSSI O espetáculo e o vira-lata

SÃO PAULO - Os cinco e pouco por cento de crescimento do ano passado foram um "espetáculo", a julgar pela euforia incontida em quase todos os quarteirões da pátria.
Não é que, há 30 anos, esse mesmo nível de crescimento era tido pela Fundação Getulio Vargas como "recessão de crescimento"?
Quem lembra é João Paulo dos Reis Velloso, ministro do Planejamento entre 1969 e 79, criador do Fórum Nacional, uma associação de cerca de cem economistas, sociólogos e cientistas políticos cuja finalidade é oferecer propostas ao país. A lembrança de Velloso aparece no número de março de "Desafios do Desenvolvimento", a revista editada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas.
Diz o ex-ministro: "Perdemos o know-how de crescer rapidamente. Hoje, 5% é razoável, mas em 1977 ou 1978, quando tivemos que desacelerar a economia por causa da crise do petróleo, o crescimento estava em 5%, por coincidência, e a FGV falou (que) o Brasil está em recessão de crescimento".
O Brasil parece tomado por uma espécie de "complexo de vira-lata", expressão de Nelson Rodrigues de que tanto gosta o economista Paulo Nogueira Batista Jr.
Conforma-se com pouco e, pior, tem medo de ser mais feliz. Basta lembrar que, depois de 25 anos de crescimento medíocre e imediatamente após os 5,4% do ano passado, todo mundo prevê crescimento inferior neste ano (menos o presidente Lula, ressalve-se), como se fosse normal um teto que em tempo não tão remoto assim era apenas "recessão do crescimento".
O "vira-lata", aliás, abana o rabo com a miçanga do "investment grade", quando até o Financial Times pergunta e responde: "A classificação da Standard & Poor's deveria ser tão importante? A resposta é não. Como aprendemos com a crise de crédito, é perigoso que tantos dêem tanto peso à avaliação de uma agência de classificação".

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