Depois de comprar o Wall Street Journal, o
polêmico Rupert Murdoch agora mira a web
Julia Duailibi
Tom Stoddart/Getty Images |
Com a chinesa Wendi, 38 anos mais nova, Murdoch vive entre iates e viagens: ele aprendeu cedo a cortejar poderosos |
Poucos empresários são tão controversos e beligerantes quanto o australiano Rupert Murdoch, dono da News Corp., o terceiro maior conglomerado de comunicações do mundo. Em 1996, Murdoch revolucionou a maneira de fazer televisão ao criar o canal de jornalismo americano Fox News, que, embalado por posições conservadoras e pela defesa intransigente do Partido Republicano, abocanhou audiência da então todo-poderosa CNN. Aos 77 anos, com um fôlego para os negócios que seus funcionários comparam ao de alguém "pronto para escalar o Monte Everest", o empresário continua a abrir novas frentes de batalha. Nos últimos meses, Murdoch comprou o tradicional Wall Street Journal e passou a mirar o New York Times, o jornal mais influente do mundo. Seu plano é dar ênfase a assuntos como política e internacional nas páginas do Wall Street Journal, a bíblia das finanças e dos negócios dos Estados Unidos. Nem começou a colher os primeiros resultados desse ousado plano, o incansável Murdoch se volta agora para uma tarefa ainda mais complicada: dominar a internet. Depois de comprar o site de relacionamento MySpace, que, uma vez em seu poder, se tornou o maior do mundo, e de ter disponibilizado num novo site, o Hulu, o conteúdo de alguns de seus canais de televisão, ele está em negociações com o Yahoo! para comprar a empresa. Concorre com a Microsoft, de Bill Gates, e com o Google. "Sei que preciso entender os novos tempos para não ficar para trás", costuma dizer Murdoch.
A diferença dessa batalha para as outras que ele já travou em sua extensa carreira é que, ao contrário do mundo da televisão e dos jornais, o empresário não conhece o terreno em que está pisando. Apenas 3% do faturamento de 30 bilhões de dólares da News Corp. vem da internet hoje (veja o quadro ao lado) – e o próprio Murdoch relata que a tarefa de se manter atualizado no mundo digital lhe demanda grande esforço, algo natural para alguém de uma geração tão distante da daqueles bem-sucedidos empresários do Vale do Silício. Isso não o intimida. Em sua mesa, Murdoch tem planilhas nas quais a circulação dos maiores jornais americanos só cai – 3,6%, apenas nos últimos seis meses – e a publicidade na internet aumenta. Trata-se de um mercado de 20 bilhões de dólares por ano. Por motivos óbvios, portanto, Murdoch não dá um passo nos negócios sem considerar seus possíveis desdobramentos na rede. Foi assim, afinal, com a recente aquisição do Wall Street Journal. Com 2 milhões de leitores diários, o empresário vislumbra no horizonte uma oportunidade de faturar na internet. Sua estratégia é oferecer mais conteúdo – de graça. Ele diz: "Só vai fazer dinheiro com a internet quem entender que as pessoas não esperam colocar a mão no bolso quando buscam informação on-line".
Num tempo em que os grandes conglomerados de comunicação começam a ser controlados por investidores, e não mais pelas famílias que lhes deram origem, Murdoch é uma espécie de último grande barão da imprensa. Poucos também tiveram sua imagem tão associada ao próprio império – ainda que as referências a ele sejam freqüentemente pouco lisonjeiras. Murdoch é lembrado, por exemplo, pelos tablóides sensacionalistas que comprou e para os quais, na juventude, costumava criar os títulos de próprio punho. É conhecido também por dar aos repórteres de alguns de seus jornais a missão de investigar a vida de seus inimigos. Por essas e outras, serviu de inspiração para um personagem no seriado americano Os Simpsons. Nome: "Rupert Murdoch, o bilionário tirano". Chama atenção o fato de ser tão conhecido nos Estados Unidos, país para onde transferiu a sede de seu império há menos de quatro anos, apesar de ser naturalizado americano desde a década de 80. Hoje, Murdoch está alojado no 8º andar de um elegante prédio em Manhattan, onde dá asas a excentricidades como dispor de três salas para receber suas visitas, cada qual destinada a um tipo de negócio: jornal, cinema ou televisão. Em breve haverá uma para a internet.
Antes disso, Murdoch comandava seu império da cidade de Adelaide, na Austrália. É de lá o primeiro jornal que dirigiu, o Adelaide News, que herdou do pai. Chegou às suas mãos falido e logo se tornou o maior da cidade, embalado por uma fórmula que ele repetiria mais tarde em vários de seus jornais: páginas repletas de violência, sexo e celebridades, algo que seus adversários temem ver estampado no tradicional Wall Street Journal. Murdoch ironiza: "Ninguém verá mulher pelada. Só se elas tiverem MBA". Ele tinha 22 anos quando assumiu seu primeiro jornal. Foi na juventude também que estudou economia, filosofia e política, na universidade inglesa de Oxford. Nesse tempo, tinha um busto de Lenin em casa e era mais conhecido como "Red Rupert" (o Rupert vermelho). Nada que faça lembrar o empresário que, hoje, preza tanto viajar em seu avião particular, um 737, quanto zarpar da costa de Saint-Tropez a bordo de seu iate. Com seis filhos e dez netos, ele casou-se pela terceira vez em 1999, com uma executiva chinesa 38 anos mais nova, funcionária de sua empresa. Com a mulher e as duas filhas mais novas, de 4 e 6 anos, ele mora numa das coberturas mais caras de Man-hattan. O mesmo vigor e a mesma capacidade de renovação Murdoch demonstra à frente de seus negócios: "Vou viver pelo menos mais vinte anos. Tenho tempo de sobra para dominar a internet".