Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 02, 2008

Míriam Leitão - Visão de Meirelles



PANORAMA ECONÔMICO
O Globo
2/5/2008

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, acha que o Brasil agora tem que ter projetos de investimento para oferecer àqueles que poderão escolher o país para investir. Ele alertou que "grau de investimento se ganha e se perde". Disse que o presidente da República tem dado ao BC as condições para combater a inflação com "medidas técnicas e não com medidas de popularidade momentânea".

- A grande conseqüência e causa da concessão do grau de investimento é o aumento da previsibilidade. O investimento não é resultado de um entusiasmo momentâneo, mas de uma impressão dos investidores de que a política econômica de um país é consistente agora e será no futuro. O grau de investimento é apenas um fato simbólico, mas muito importante.

Numa entrevista que me concedeu no programa "Espaço aberto", da Globonews, ontem à tarde, Meirelles admitiu que, para alguns fundos, é necessário mais de uma agência concedendo grau de investimento.

- Para algumas instituições, sim; para outras, basta uma agência. E, para outras, não existe a definição de que a segunda seja também de uma das três grandes agências de risco. E existem hoje avaliações positivas para o Brasil de agências no Japão e no Canadá. Cada vez mais a abordagem da economia brasileira será positiva.

Ele não quis quantificar o dinheiro que pode vir para o Brasil neste momento.

- Vai depender. Esses projetos precisam ser viabilizados; o dinheiro não vem no ar, vem se houver projetos de infra-estrutura para investir.

Meirelles lembrou também que o "dinheiro quente" pode sair agora que "a aposta de que o Brasil ia ganhar o grau de investimento se realizou". Portanto, para o presidente do Banco Central, não é certo que o dólar vai continuar se desvalorizando por causa da chegada de dinheiro novo.

- Vamos aguardar (sobre a queda do dólar). Uma parte importante da entrada do capital já houve, porque já se sabia que o Brasil seria promovido, apesar de ter havido uma certa surpresa que tenha acontecido agora, por causa da crise americana. De qualquer maneira, este recurso não vem do dia para noite, vai procurar as oportunidades na economia real.

Ele disse que não está preocupado com os resultados negativos das contas externas.

- O segredo não é evitar desequilíbrio, porque, do contrário, a economia seria estática; o importante é ter os mecanismos para corrigir os desequilíbrios. Temos condição de enfrentar resultados negativos e voltar à situação de equilíbrio. E agora o grau de investimento ajuda.

Perguntei se uma eventual queda do dólar reduziria a pressão inflacionária, permitindo a redução do movimento de alta dos juros.

- Quando o Copom se reúne, ele analisa uma série de fatores. Agora existe um dado novo. O valor do dólar é um dos fatores que entram na análise. Mais dinheiro para investimento de longo prazo é também positivo, dá mais capacidade de expandir a economia. Não pode analisar um ou outro dado apenas, porque isso induz ao erro.

No médio prazo, ele diz que a trajetória de queda de juros, que vem dos 20% reais do final da década de 90 aos níveis atuais, deve continuar.

Perguntei se, numa economia previsível e com regras estáveis, a gasolina tem um aumento de preços decidido pela Presidência da República e o ministro da Fazenda.

- Não participei dessa questão. A Petrobras precisava aumentar o preço por causa da elevação dos preços internacionais. Não sei quem decidiu, mas o importante é o resultado: eles subiram e os impostos foram reduzidos para atenuar os efeitos macroeconômicos do reajuste.

Sobre a pressão fiscal, Meirelles comentou:

- O fato concreto: a arrecadação está crescendo. A meta fiscal está sendo entregue, ou superada. Um debate que vai se colocar agora, na sociedade e no governo, é o aumento do gasto público. O passado de arrancadas e freadas da economia ficou para trás. Mas, para garantir o novo momento, o país precisa investir em educação, infra-estrutura e discutir a tendência da questão fiscal.

Ele contou que, na conversa que tem com os investidores, muitos se dizem surpresos e admitem que não achavam que o país teria, em seis anos, tantos avanços.

- Surpreendeu muita gente, mas é preciso continuar. Grau de investimento se ganha e se perde. É hora de ter mais segurança. O que o Brasil conseguiu foi um prêmio da persistência. É continuar.

Segundo Meirelles, as reservas brasileiras continuam principalmente em dólar porque o passivo brasileiro é maior em dólar, mas ele admitiu que o país tem tirado partido da diversificação das moedas. Administrar US$200 bilhões é bem diferente dos US$17 bilhões que havia quando ele chegou lá. O presidente do BC conta que funcionários têm ido ao exterior se preparar, que partes pequenas das reservas estão sendo entregues, através de processo licitatório, a algumas instituições e que se cobra desempenho.

Indaguei se ele estava preocupado com a inflação, e ele respondeu:

- Banqueiro central está sempre preocupado, mas menos agora, pelas condições dadas pelo presidente para que se combata a inflação com medidas técnicas e não de popularidade momentânea. O BC tem feito movimentos preventivos. Inflação é ameaça em qualquer país. Estamos atuantes e tomaremos as medidas adequadas. Estou preocupado com a inflação, mas sereno.

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