Inflação contida tem sido um dos principais pilares da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele sabe disso, mas ainda não mostrou disposição de agir para conter a nova escalada dos preços. Prefere deixar as medidas impopulares para o Banco Central (BC), sem comprometer a imagem de um presidente bonzinho e portador somente de boas notícias. Para que correr o risco de cortar gastos públicos e limitar a expansão do consumo de bens duráveis num ano de eleições municipais, primeira escala para a grande disputa nacional de 2010?
Os preços por atacado, medidos pelo IPA-M, continuam sendo os principais motores da inflação. Subiram 12,17% nos 12 meses terminados em abril, puxados principalmente pelos preços agrícolas (28,88%). Mas os produtos industriais também sobem perigosamente. A alta acumulada de seus preços, no atacado, chegou a 7,34%, na maior variação registrada em 40 meses. Os bens intermediários - sem contar os combustíveis para produção - encareceram 8,66%. Minério de ferro, chapas de aço e plásticos, insumos com grande peso na formação dos custos, continuam sendo reajustados tanto por causa de pressões externas quanto da procura no mercado interno.
O IPA-M é o principal componente do IGP-M, com peso de 60%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) ainda foi pouco afetado pelo repasse dos custos, mas também se move com velocidade crescente. Há um ano, acumulava uma alta de 2,72% em 12 meses. Em abril de 2008, esse número chegou a 4,75%. No mês, a variação ficou em 0,76%. Mas a variação mensal dos indicadores não é a mais preocupante. Índices de preços podem oscilar de um mês para outro por causa de fatores sazonais ou acidentais. É preciso olhar para mais longe. Há um ano sobem os valores acumulados de todos os grandes componentes do IGP-M.
Os economistas do BC identificaram essa tendência. O Comitê de Política Monetária (Copom) agiu da forma previsível, determinando uma nova alta da taxa básica de juros. Essa providência dará algum resultado - se der - apenas dentro de alguns meses. Talvez seja necessário, como já se prevê no mercado financeiro, continuar elevando os juros por algum tempo. Mas seria possível conter mais prontamente a demanda de consumo, se duas medidas fossem tomadas. Uma delas seria uma contenção real do gasto público. A despesa de governo continua a crescer velozmente, como demonstraram as contas do governo central divulgadas nessa semana. No primeiro trimestre, mesmo sem orçamento aprovado, o poder central (Tesouro, Previdência e BC) gastou 8,2% mais do que um ano antes, em termos nominais. E a previsão para o ano, de acordo com a programação orçamentária, é de um aumento bem maior que o do Produto Interno Bruto (PIB).
A outra medida seria a contenção do crédito, que continua em expansão. Em março, o maior crescimento mensal foi o dos empréstimos à indústria, mas, quando se consideram períodos mais longos - de um ano, por exemplo -, os financiamentos à pessoa física continuam sendo o destaque e isso inclui as operações de leasing de automóveis. Talvez o presidente não queira ouvir falar em contenção do consumo, mas será muito pior ter de ouvir protestos, mais tarde, contra o aumento da inflação.