Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 11, 2008

Dora Kramer Sepulcros caiados

No frenesi de uma semana de conflitos no Norte, momentos decisivos no crime que obceca o País, escândalo no BNDES, charivari de quinta na sempre fidalga seara tucana, depoimento de Dilma Rousseff no Congresso com direito a gafe de senador, e a descoberta do suspeito de ter vazado o dossiê FHC, a pauta de reforma política proposta pelo novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Ayres Britto, não recebeu a merecida atenção.

Isso a despeito da atualidade da dura crítica feita por ele aos partidos, simultaneamente à decisão do PDT de emprestar solidariedade ao deputado Paulo Pereira da Silva, citado no inquérito do BNDES e flagrado em conversa telefônica tramando usar sua influência política para desqualificar a investigação da Polícia Federal.

"Sepulcros caiados pintadinhos por fora e putrefatos por dentro", manipulados pelas oligarquias partidárias "como se cada um fosse a mais colonial das fazendas de gado", definiu o sucessor do polêmico Marco Aurélio Mello, que dois anos antes tomara posse pedindo um basta na "rotina de desfaçatez e indignidade" das práticas políticas no País.

Ayres Britto usou expressões de impacto na forma, como quando apontou a existência de "políticos que não perdem a oportunidade de fazer de sua caneta um pé-de-cabra", mas defendeu idéias de conteúdo forte e, e alguns casos, inovador.

Em matéria de conceito, a inovação na agenda proposta pelo presidente do TSE está em propor que a reforma política seja feita sob a ótica do eleitor e não pela lógica dos partidos.

Os radicalmente legalistas talvez tenham visto excesso de ousadia e até fantasia nas posições do ministro. Ele realmente avançou em terrenos de acesso ainda não permitido por lei, mas teve o mérito de sacudir a poeira do debate sempre referido na demanda dos partidos, deixando ao eleitorado o papel de vítima passiva.

Para equilibrar e conferir maturidade a essa relação, Ayres Britto de saída propõe o fim do voto obrigatório e a adoção do facultativo.

Para complementar, aplica o princípio de "concurso público" à eleição, onde o eleitorado como examinador não pode se abster da responsabilidade pelo mau uso do voto. "É um ato compartilhado e, como tal, gera conseqüência."

No mais, defendeu veto a candidatos de vida pregressa duvidosa, criticou a falta de compromisso dos partidos com os respectivos programas, pregou fidelidade partidária rigorosa, propôs a interdição de candidatos com votações ínfimas, mas eleitos na "sobra" de outros e sugeriu que a Justiça Eleitoral tome a iniciativa de expor de alguma forma o suplente de senador - hoje um "sem voto" com acesso ao mandato - ao escrutínio do eleitor.

Goste-se ou não das idéias - e da maioria o Congresso com absoluta certeza não gostará -, dão à reforma política uma chance de despertar o interesse da população.

Permuta

Muita gente notou como têm andando juntos o presidente Luiz Inácio da Silva e o governador José Serra.

Entre 25 de abril e 4 de maio, apareceram em três atos públicos. Na campanha de vacinação, em São Bernardo (SP), Serra superou o horror de injeção e aplicou a agulha em Lula, em clima de quase descontração.

No lançamento do PAC, em Osasco, três dias depois, fez sentido. Mas na semana seguinte, a presença de Lula e Serra inaugurando um hospital no Piauí já causou alguma estranheza.

É normal presidente e governador participarem de solenidades, mas, a freqüência observada recentemente no caso de ambos não é habitual.

Ilações à parte, Lula não precisa de Serra para fazer sucesso na rua. A recíproca quem responde é uma pesquisa feita no ano passado pelo governo de São Paulo: 41% disseram que Serra deve se manter próximo a Lula porque é bom para São Paulo, 34% preferiram a neutralidade e apenas 19% consideraram melhor o governador manter distância do presidente.

Thereza do rio

Depois de o bispo Luiz Cappio se desentender com o governo e a atriz Letícia Sabatella se estranhar com o deputado Ciro Gomes por causa do projeto da transposição das águas do Rio São Francisco, agora é a vez de Thereza Collor levantar o estandarte da causa.

Nada de greve de fome ou orações à beira do rio. A idéia é reunir celebridades pensantes, esmiuçar o projeto e tentar formar uma tropa de elite (no bom sentido) disposta a levar o assunto para além dos limites das rodas de ambientalistas, governo e políticos dos Estados envolvidos.

O primeiro encontro será quarta-feira em São Paulo.

Interlocutores

"Quem fala a verdade conversa até com o diabo", ensinou sexta-feira o presidente Lula, acrescentando conhecimento a quem até então só ouvira dizer que quem fala demais termina dando bom dia a cavalo.

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