Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 23, 2008

Cortesia de palanque


editorial
Folha de S. Paulo
23/5/2008

Afagos entre adversários nos comícios do PAC obedecem à lógica de um momento peculiar na economia e na política

A FAVELA de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, presenciou um momento de elegância política na última terça-feira. Por ocasião de mais um lançamento de obras do PAC, reuniram-se no mesmo palanque o presidente Lula, o governador José Serra, o prefeito Gilberto Kassab e a ministra Marta Suplicy.
O ambiente primou pela camaradagem. Kassab, do DEM, agradeceu ao petista Lula e ao tucano Serra, sublinhando seu próprio empenho em dar continuidade à gestão da petista Marta Suplicy. Lula reconheceu ser adversário político de Serra, mas ressaltou a importância da parceria administrativa. O governador foi além ao dizer que há convergências nas posições dos governos estadual, municipal e federal no que tange ao problema das favelas.
Nada melhor, com efeito, do que ver em prática a parceria entre representantes de correntes políticas diversas quando está em jogo a realização de obras voltadas para o conjunto da população. Mas a racionalidade administrativa conta menos, neste episódio, do que as velhas artimanhas da política.
Interessa ao governo Lula revestir o PAC de caráter suprapartidário, ainda que o programa dê ocasião a uma óbvia seqüência de comícios para o petismo em todos os cantos do país.
No quadro paulistano, o congraçamento teve o efeito de isolar a candidatura de Geraldo Alckmin. O pretendente tucano à prefeitura aparece nas pesquisas como adversário mais forte do que Kassab na disputa com Marta Suplicy; a estes dois últimos, convém uma provisória conjunção de forças.
Intrigas deste tipo, mais próximas de um "reality show" do que de uma disputa ideológica consistente, são ainda assim um aspecto menor do fenômeno estrutural em curso. Há algumas décadas não se verificava a disponibilidade de recursos para obras públicas que, atualmente, os níveis de crescimento econômico (moderados) e de arrecadação (altíssimos) podem propiciar.
Ocorre, nas diversas instâncias do Poder Executivo, um pouco o inverso daquela situação cristalizada no adágio popular, segundo o qual "em casa onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão". Um ameno e sorridente partido -o Partido das Obras Públicas- compõe num mesmo palanque administradores dos mais diversos partidos, enquanto no Legislativo as infindáveis rusgas entre governo e oposição parecem descolar-se da realidade eleitoral concreta.
No comício de Heliópolis, deu-se um breve entrevero. O vereador Agnaldo Timóteo (PR) exigia ser admitido no palanque das autoridades. Lula interveio em seu favor. Há lugar para todos; e, enquanto jorrarem as torneiras, não há ideologia que resista.

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