Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 23, 2008

E agora ministro?- Luiz Carlos Mendonça de Barros



Folha de S. Paulo
23/5/2008

Nas últimas semanas, os índices de inflação no Brasil têm mostrado um comportamento assustador

A ECONOMIA brasileira entra no segundo trimestre deste ano a todo o vapor. Nesta semana, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e o Ministério do Trabalho e Emprego divulgaram as estatísticas sobre o mercado de trabalho em abril, mostrando um dinamismo extraordinário. A taxa de desemprego ajustada é a mais baixa da série, com crescimento de quase 6% no número de brasileiros empregados nos últimos 12 meses. Se considerados apenas os empregados com carteira assinada, o aumento supera 7% ao ano. Apesar da aceleração da inflação nos últimos meses, a renda real do trabalho ainda cresce.
A melhora na renda dos trabalhadores, turbinada por um crescimento de mais de 25% do crédito bancário, se traduz em aumento do consumo acima de 12% ao ano. Aqui faço uma observação relevante: as vendas no varejo já crescem a taxas mais elevadas nas regiões Sudeste e Sul do país, deixando as regiões Norte e Nordeste para trás. O ciclo de expansão, que se iniciou na metade da população que ganha até dois salários mínimos, hoje é liderado pelas camadas de renda mais alta.
Os dados sobre investimentos privados também apontam para a sua continuidade. Os investimentos previstos na extração de petróleo para os próximos anos terão uma magnitude ainda não incorporada pelo mercado. A vitória do consórcio liderado pela empresa francesa Suez para a construção de uma hidrelétrica no rio Madeira é um sinal inconteste da confiança do investidor estrangeiro. Digo isso por conhecer bem a forma de agir das empresas multinacionais francesas, sempre marcada pelo conservadorismo em seus investimentos fora da Europa. Finalmente, a arrecadação de tributos federais registrada em abril garante que o terceiro elo de dinamismo da economia -os gastos correntes do governo- vai continuar a todo o vapor.
Sempre digo que o governo Lula criou um novo padrão monetário no Brasil: é ele o PT$ LULA, que corresponde a R$ 1 BILHÃO. Convido o leitor a seguir o noticiário econômico e político para acompanhar quantos PT$ LULAs são empenhados em cada semana. Agora a base do governo fala em uma nova CPMF...
Infelizmente, o funcionamento de uma economia de mercado como a brasileira de hoje tem regras próprias para que cresça com estabilidade e sustentabilidade. E nem mesmo um presidente com 70% de popularidade tem poderes para alterar esses princípios. E essa racionalidade ameaça o paraíso econômico em que vivemos hoje.
A intensidade do crescimento do consumo é hoje uma ameaça ao controle da inflação. Assusta-me a rapidez com que o aumento dos preços permeia as cadeias produtivas. Nas últimas semanas, os índices de inflação no Brasil têm mostrado um comportamento assustador. Alguns analistas já trabalham com aumento do IPCA da ordem de 6,5% para este ano. Os economistas da Quest Investimentos ainda não visualizam esse número cabalístico -limite superior da meta de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional-, mas é provável que cheguemos a ele mesmo com um aumento moderado dos juros pela Selic.
Os argumentos do nosso ministro da Fazenda para evitar uma ação mais firme do Banco Central caem como um castelo de cartas. Primeiro foi a inflação do feijãozinho; depois, que a meta de inflação deve acomodar a sua banda de dois pontos percentuais para mais. E agora ministro, qual é o novo argumento para sua irresponsável tranqüilidade, já que podemos ter chegado ao topo da banda?

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