| 12/5/2008 |
Depois que o presidente Lula concordou em manter as bases da política econômica herdada de FHC - metas de inflação com Banco Central (BC) independente, superávit primário para pagar juros e câmbio flutuante -, não precisou fazer mais nada. O mundo engrenou um extraordinário período de crescimento, com uma demanda global crescente por produtos que o Brasil tinha para exportar. Exportações trouxeram dólares abundantes, que se somaram aos investimentos externos, tudo levando à valorização do real, derrubada da inflação e acumulação de reservas, matando vários problemas de uma vez só. Chuvas generosas completaram o serviço. Encheram os reservatórios das usinas e garantiram a energia elétrica necessária para a expansão interna. Com equilíbrio macroeconômico e recuperação do crescimento, o País surfou na onda mundial, um pouco atrás dos campeões, mas sempre ali. Inclusive alcançou os que já haviam recebido grau de investimento. Agora, porém, a situação está mudando. O mundo está se tornando hostil. Embora o pior da crise financeira nos EUA e na Europa tenha passado, as conseqüências ainda estão em andamento, especialmente a forte desaceleração nos EUA. Enquanto isso, países emergentes que têm puxado o crescimento mundial, como a China em particular, sofrem com o problema contrário: inflação elevada, resultado de economias superaquecidas (excesso de demanda). Alguns analistas sustentam que se trata de inflação, digamos, localizada, concentrada em petróleo, energia em geral e alimentos. Mas, na medida em que isso aparece em economias aquecidas, a alta de preços se espalha. Tudo considerado, ou por causa da crise financeira ou por causa da inflação, o mundo já está desacelerando. Essa situação se repete por aqui. O País não está à beira da crise, mesmo porque os fundamentos macroeconômicos construídos - eliminação da inflação, fim da vulnerabilidade externa e controle das contas públicas - permitem suportar os choques. Mas agora está na hora de fazer alguma coisa. Há muitos fatores a administrar, a começar pela inflação em alta, certamente a principal questão. Mas é preciso lidar, por exemplo, com o fortíssimo aumento das importações e a volta do déficit nas contas externas. Tudo bem? Não precisa fazer nada? Vamos, ao contrário, aumentar ainda mais as importações para compensar a falta de produção doméstica e assim manter a inflação baixa? Ou está na hora de conter as compras externas, mesmo com algum dano para a inflação? As exportações já estão em desaceleração no que refere às vendas físicas. Isso ainda não aparece porque os preços - ainda - em alta garantem faturamento - ainda - elevado. Mas, se a economia mundial está desacelerando, como isso vai ficar? De novo, tudo bem? Deixa assim mesmo ou há algo por fazer? Além disso, o forte crescimento dos últimos meses mostrou, de novo, as enormes carências de infra-estrutura. Mais do que isso, mostrou como o País continua atrasado na escolha de caminhos e tomada de decisões. Exemplos? A região de Ribeirão Preto é a capital mundial da cana-de-açúcar e do etanol. Ali temos as plantações, as usinas de açúcar e álcool, as indústrias de base que fabricam equipamentos para as refinarias e, agora, está se iniciando a produção de energia elétrica a partir do bagaço da cana, também com máquinas produzidas ali mesmo. Há um enorme movimento de produtos e pessoas, do Brasil e do mundo todo. E onde está o necessário aeroporto? Não está. Há um projeto enrolado há anos e um aeroporto que parece uma rodoviária de quinta categoria, com todo o respeito às rodoviárias. Tudo considerado, não se trata mais de apenas surfar na onda mundial. E o que faz o governo? Uma confusão danada. Na verdade, o BC está agindo. Identificou uma inflação em alta, por excesso de demanda, e está elevando os juros. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não se conforma com isso. Jura que não há inflação, apenas uma alta de preços de alimentos. Assim, diz ele, aumentar os juros é ameaçar o mercado interno, que deveria ser sustentado. Por isso, Mantega acha que não é necessário cortar os gastos do governo, que seria um complemento lógico da política de juros do BC. Ao contrário, segue aumentando os gastos. No momento em que o mundo se torna mais perigoso e em que a situação interna exige variações de política econômica, o governo Lula se perde em confusões e incompetências internas. O BC mantém sua linha de coerência, mas sua tarefa - debelar a inflação - fica mais difícil se não tem o suporte do resto do governo. A estabilidade macroeconômica continua de pé. Estamos discutindo se a inflação é de 4,5% ou 5% ao ano, coisa de país estável, grande avanço. Mas, isto posto, há muito a fazer no conjunto da economia, além da propaganda do PAC e dessas coisas como o tal fundo soberano. Falando em inflação - Se você tirar os alimentos, a inflação medida pelo IPCA cai à metade, diz o ministro Mantega. Mas se você tirar os “não-alimentos”, a inflação também cai pela metade, não é mesmo? Quando se começa a tirar isso e aquilo para melhorar o índice, o sinal é o contrário: a inflação se espalhou. O IBGE relacionou 15 itens que responderam por uma inflação de 1,35% no período janeiro-abril, portanto, a maior parte do índice cheio, de 2,04%. Tem alimentos: pão francês, tomate, óleo de soja, frutas, cebola, leite pasteurizado e feijão preto. Tem serviços: mensalidades de colégio, taxas de “cursos diversos”. Tem itens com preços controlados pelo governo: remédios, planos de saúde e tarifas de ônibus urbanos. E tem mais: salário de empregada doméstica e refeição fora de casa. Resumo da ópera: escolha o seu vilão, haverá sempre inflação. O Banco Central vai subir mais os juros. *Carlos Alberto Sardenberg é jornalista. Site: |
Entrevista:O Estado inteligente
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