Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 17, 2008

As Farc usam submarinos para traficar drogas

O narcossubmarino das Farc

Os guerrilheiros e seus sócios no tráfico
de drogas adotam pequenos submergíveis
para levar cocaína para os Estados Unidos


Duda Teixeira

Reuters
Submarino capturado pela Marinha colombiana no Oceano Pacífico: nove em cada dez escapam

Exército colombiano impôs derrotas humilhantes às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia nos últimos cinco anos. As surras sucessivas, contudo, não diminuíram a ousadia das Farc naquilo que é sua principal atividade – o narcotráfico. No último ano, a organização comunista adotou o submarino como seu meio preferido de transportar cocaína para o principal mercado consumidor da droga, os Estados Unidos. Em média, dez pequenos submergíveis carregados de drogas são interceptados a cada mês pela guarda costeira americana ou por forças navais de países da América Central. A popularidade desse meio de transporte inusitado deve-se a duas razões. Cada submarino transporta 10 toneladas de cocaína – cinco vezes mais que uma lancha de alta velocidade –, no valor de 250 milhões de dólares. A segunda é a facilidade com que essas embarcações enganam os radares dos aviões de patrulha, pois são facilmente confundidas com baleias ou golfinhos. A guarda costeira americana estima que, para cada submarino capturado, outros nove conseguem descarregar sua carga na costa dos Estados Unidos.

"Nossos esforços, em conjunto com outras nações, para combater os métodos tradicionais de transporte obrigaram os narcotraficantes a ser mais inovadores e a aceitar mais riscos", disse a VEJA a americana Betty Lightcap, diretora da Força Tarefa Conjunta, na Flórida, uma divisão do Exército americano responsável pelo combate ao tráfico. Sabe-se que as embarcações pertencem às Farc, ou navegam com autorização da organização comunista, porque praticamente todos os estaleiros clandestinos descobertos pelo Exército colombiano estavam em áreas de floresta sob controle da narcoguerrilha. Ninguém construiria uma embarcação dessas por ali sem permissão e proteção das Farc. Trata-se igualmente de uma confirmação de que a guerrilha comunista hoje atua em todas as etapas do narcotráfico – do refino ao transporte da droga para os Estados Unidos.

A rota de entrada de drogas nos Estados Unidos mais fácil e segura ainda é a fronteira mexicana. Mas esse caminho é agora dominado por traficantes locais e já não serve aos colombianos. Sem alternativa de rota terrestre, estes se especializaram no transporte marítimo de cocaína. Em meados da década de 90, eles usavam lanchas capazes de navegar a 90 quilômetros por hora e deixar a guarda costeira para trás. Esse meio de transporte foi abandonado depois que as autoridades americanas equiparam aviões com radares e aumentaram a vigilância no Caribe. Os colombianos passaram a esconder a droga em contêineres misturada às exportações legítimas de vegetais e flores. Em resposta, as autoridades americanas instalaram enormes aparelhos de raio X para rastrear o conteúdo dos contêineres. Os narcotraficantes voltaram-se então para os submarinos, cujo custo de construção é estimado em 2 milhões de dólares.

A única forma de flagrar um desses submarinos anões é a olho nu. Os agentes colombianos e americanos ficam atentos a tubos de PVC cortando a superfície da água. A maior parte dos narcossubmarinos não tem capacidade para afundar totalmente e, por isso, navega pouco abaixo do nível do mar. A função dos tubos é levar oxigênio para a tripulação. Movidos a diesel e com autonomia média de 1.500 quilômetros, os submarinos são reabastecidos em alto-mar para seguir viagem até os Estados Unidos. Quando chegam ao litoral mexicano ou americano, a carga é transferida para barcos maiores e mais rápidos. A viagem pelo Pacífico demora mais de duas semanas. Um piloto pode ganhar o equivalente a 50.000 reais pela aventura. Tanto empenho por soluções tecnológicas por parte do narcotráfico tem sólidas razões mercadológicas. Da Colômbia saem 90% da cocaína consumida pelos americanos. O negócio mais lucrativo, no entanto, não é a produção, e sim a venda nos Estados Unidos. Um quilo da droga no porto de Buenaventura, na Colômbia, vale 5.000 dólares. Em uma cidade americana custa 25.000. Vale o risco de se fingir de baleia nas águas do Caribe e do Pacífico.

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Foto Reuters/Scott Dalton/AP

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