Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, maio 05, 2008

Antonio Sepulveda,Dengue demagógica




Em 2009, certamente, teremos outra epidemia de dengue, talvez ainda mais devastadora que esta última. Por quê? Porque 365 dias e o bissexto não são suficientes para que as administrações federal, estadual e municipal recobrem o brio, desmanchem a pose de competência, consigam interagir e, milagrosamente, trabalhar com eficácia para evitar outra tragédia. Quem eles pensam que enganam? Daqui a um ano, o cenário será exatamente o mesmo: expressões de surpresa e indignação, um show de conversa-fiada, a demagogia do discurso inflamado e, sobretudo, um dilúvio avassalador de mediocridade. O povo também não vai mudar; portanto, teremos de volta os criadouros de mosquitos com suas pirâmides de pneus e outras manifestações de irresponsabilidade explícita, somadas à agravante da indiferença de uma população mal-habituada a buscar alívio no paterno assistencialismo estatal.

A burocracia só consegue respirar com jurisdições bem definidas. A integração de tarefas e objetivos soa como uma obscenidade. Planalto, Estado e Município batem boca e se eximem de culpa. Um inspirado leitor do JB sugeriu rebatizar o mosquito com a alcunha “Aedes Maia Cabral Aegypti da Silva”, numa possível alusão à alienação do prefeito, à demagogia do governador e à estupidez do presidente. Outro pôs o dedo no ponto nevrálgico da questão: o serviço sanitário encontra-se nas mãos de politiqueiros e das criaturas dos politiqueiros. Os cargos essenciais à saúde pública transformaram-se em moeda de troca do clientelismo, quando deveriam ser entregues a profissionais experientes e bem-intencionados.

O governador Sérgio Cabral limpou um falso pigarro, alçou a fronte, impostou a voz e disparou: “Não é normal lutar contra uma epidemia por mais de uma década. Da mesma maneira que não podemos tolerar a ocupação das favelas por traficantes de drogas, temos de combater a dengue”. Eis o clichê típico do mau governante que não sabe o que dizer nem o que fazer em situações de calamidade pública e enuncia obviedades como se fossem frases de efeito. Pois bem, com plena convicção, afirmamos que a dengue vai afligir os cariocas ainda por muitos anos, e os traficantes permanecerão altivos no controle absoluto dos morros. Das autoridades atuais — e não se espere muito das subseqüentes — só teremos o discurso inócuo, embora acompanhado da volúpia da reeleição.

O padronizado político brasileiro já demonstrou cabalmente que só tem um único e obsessivo propósito na vida: eleger-se e reeleger-se; e ele consegue, invariavelmente, com votações espetaculares, porquanto nossos eleitores são assim mesmo, conforme demonstram as pesquisas de opinião sobre o desempenho do governo de Lula da Silva. É uma cambulhada de aproveitadores que abraçou a vida pública como um meio de vida bem remunerado e uma fonte inesgotável de mordomias. Imaginação e criatividade, quando existem, se direcionam para políticas de interesses pessoais, trocas de favores, ou realizações eleitoreiras.

Não se vislumbra um único e escasso estadista em Brasília ou nos estados da federação. E o cenário será sempre este até que — Deus sabe quando — o Brasil seja abençoado com um sistema educacional justo e eficaz, e tenhamos eleitores conscientes. Enquanto predominar a massa atual de eleitores apedeutas e analfabetos que se deixam levar pela esmola do assistencialismo, seremos amaldiçoados com esta praga de cretinos, ladrões e socialistas de opereta que infestam a Praça dos Três Poderes.

Os traços fundamentais de nossos políticos são a impostura e o embuste; a partir da mentira pura e simples eles constroem suas biografias de pais dos pobres e salvadores da pátria. Lula da Silva, por exemplo, é um mentiroso compulsivo, como já foi plenamente demonstrado. O brasileiro pensante sonha com um líder que atinja os corações e as mentes da pequena parcela esclarecida da população; aspira por um Churchill que atirava a verdade nua e crua aos famintos ingleses, como se fosse um naco de carne sangrenta.

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