Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 18, 2008

Alberto Tamer O mundo vai bem e o Brasil, melhor

A economia mundial continua indo bem e o Brasil melhor. Os choques passaram e os que vierem serão mais fáceis de superar. Bons resultados financeiros no exterior e aqui também.

A bolsa paulista supera recordes e estoura rojões ao passar de 72 mil pontos. No trimestre, os lucros das 151 maiores empresas, abertas ou não, cresceram 9%, algo em torno de R$ 20 bilhões; sem considerar a Vale, com perdas contábeis, e a Petrobrás, com ganhos, o lucro médio foi ainda maior, nada menos que 19%.

As vendas do comércio seguem em alta, mais 12%; o nível de emprego formal aumentou e o consumo interno, mais 6,8%, já se encaminha para R$ 2 trilhões. Foram resultados excelentes no primeiro trimestre que continuam até agora.

O QUE NÃO VAI BEM

Os fatos negativos são que esse consumo não foi acompanhado pela produção industrial, apenas mais 6,3%, e o repique da inflação, que não é mais considerado um fato esporádico. Ele veio para ficar, indicando a possibilidade de nova elevação dos juros para desaquecer a demanda, apesar da eterna reclamação da Fiesp, que parece preferir a inflação ao controle do consumo exacerbado.

Dá para entender. A inflação, reduzindo o poder de compra, torna os pobres mais pobres; apesar da mesma renda, eles passam a comprar menos, para sustento de suas famílias. Mas o presidente da Fiesp, sr. Paulo Skaf, está acostumado a ter memória curta quando é útil para os seus argumentos. Ele prefere esquecer de que é exatamente ao aumento do consumo das classes de menor poder aquisitivo que se deve o atual crescimento econômico, com seus efeitos positivos no lucro das empresas, na renda, no emprego, na arrecadação, no investimento. Na economia nacional, enfim. Foram 20 milhões de consumidores que obtiveram um pouco mais de renda, que subiram de classe social, e estão sustentando o crescimento do PIB.

E OS OUTROS, NÃO?

Mas, e os outros, de maior renda não pesam? Eles pesam no aumento da demanda interna, mas não tanto. Explico: as pessoas das classes mais altas já consomem muito e uma elevação mesmo significativa de renda, não iria aumentar substancialmente o consumo. Já têm de tudo.

As classes mais pobres, não. Elas consomem pouco e qualquer aumento de renda não é utilizado no lazer, mas se destina às compras essenciais. E, atentem para isto, como são bem mais numerosas, um pequeno aumento que recebam, significa muito no consumo nacional.

Se a inflação de 5% cortar sua renda, sua capacidade de compra, os associados da Fiesp, certamente irão sentir, mas os que vivem com um ou dois salários sofrerão muitíssimo mais. Podem cair de classe. Uma inflação dessa ordem, a ''doença desgraçada'' de Lula, certamente os levará de volta à pobreza e à miséria, com repercussão sobre o crescimento.

Resumindo, ou se aceita juro mais alto, digamos de 0,50 ponto a mais, para conter o aumento do consumo, ou se aceita uma inflação de 5%, que irá derrubá-lo ainda mais, voltando aos níveis do passado, que, com a estabilização dos preços, havia superado. Seria bom se o sr. Skaf mandasse seus técnicos fazerem um cálculo para saber qual será a perda maior. Teria resultados muito instrutivos...

SEM CRISE NO EXTERIOR

No exterior, o consumo se sustenta ou aumenta gradativamente nos Estados Unidos e na Europa, e ao mesmo tempo, em abril, o desemprego continua recuando. No mês passado, na Europa, é de 7,1% da força de trabalho, quando já havia chegado a 12%; nos EUA, 5%. Mais significativo, nos 30 países mais desenvolvidos do mundo, da OCDE, o desemprego foi de apenas 5,5% em abril.

E OS EMERGENTES, A CHINA?

Nos países emergentes, o Brasil e a Índia vão bem, a Rússia nada no ouro do petróleo. A China é um caso à parte muito importante. Seus dados sobre desemprego, ''apenas'' 5,9%, são falsos. Após as tensões sufocadas no Tibet, o terremoto poderá aumentar ainda mais a inflação, já de 8,3%, pressionada pelo preço dos alimentos e aumento dos gastos com a Olimpíada. Isso talvez leve o governo a elevar juros e adotar outras medidas, que reduziria o crescimento a menos de 9%, o que já preocupa o mundo.

SERÁ? NÃO CREMOS

Decididamente, poucos acreditam que o governo fará isso porque, mais do que nunca, está hoje sob os holofotes do mundo. Já gastou dezenas de bilhões de dólares na preparação da festa e vai gastar mais algumas centenas com o terremoto.

No fundo, sem nenhum cinismo, estamos convencidos de que o autoritário governo do partido comunista chinês estaria escondendo a catástrofe, se não estivesse sob o foco da Olimpíada e olhar crítico do mundo no protesto dos monges do Tibet. Exagero? Absolutamente, não! Vejam a história.

O governo não massacrou sob as rodas dos tanques o protesto da Praça da Paz Celestial, em 1989? Não expulsou depois os jornalistas estrangeiros, prendeu e calou os chineses, de tal forma que até hoje ninguém sabe quantos foram assassinados? Os estudantes e jornalistas que sobreviveram, mas não conseguiram fugir, não foram jogados nas prisões?

SEM MEDO DA CHINA

E não foi isso o que aconteceu no terremoto de julho de 1976, esse também de 7,8 pontos da escala Richter, que abalou Pequim e destruiu Tangsham, uma cidade a 160 quilômetros da capital? O governo escondeu tudo, anunciou que só haviam morrido 240 mil pessoas quando a estimativa não oficial era de mais de 600 mil. Também naquele momento, o governo recusou ajuda externa.

A conclusão é que, exposto na vitrina do mundo, o governo chinês não irá fazer nenhum esforço sério para conter o crescimento neste ano em que, em meio à imensa tragédia, realiza a sua festa. O mundo não precisa se preocupar. A China vai continuar crescendo e sustentando a economia mundial, com prisões, condenações injustas, violações humanas e tudo o mais.

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