Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, maio 22, 2008

Alberto Tamer É a hora da infra-estrutura

Presidente, é hora de mudar. O sucesso do leilão da segunda usina do Rio Madeira pode ser considerado um novo marco na abertura da infra-estrutura brasileira aos investidores externos. O Grupo Suez, que ganhou a licitação, ofereceu preços pelo KW/h bem mais baixo que seu concorrente e passa a ser o maior gerador privado no Brasil. Isso é uma prova definitiva de que os investidores estrangeiros estão decididamente interessados em participar da reconstrução e expansão da deficiente e arcaica infra-estrutura nacional, exatamente o ponto que estrangula o crescimento. Ninguém, absolutamente ninguém, duvida que, sem essa reconstrução, não poderemos manter a taxa de crescimento de 4,5% ou 5%, pois as estradas, os portos, os armazéns (esses já em fase de esgotamento da capacidade) e, principalmente, sem a certeza de energia firme, o crescimento estagna e recua.

O governo deveria atentar para essa nova oportunidade que, felizmente, se abre para o Brasil, abrindo imediatamente todo o setor de infra-estrutura para o capital privado estrangeiro que, associado ao nacional, pode promover uma verdadeira revolução nesse setor até agora meio esquecido por falta de recursos.

Já teve um expressivo exemplo na privatização de rodovias, mas ficou apenas no primeiro passo. Passaram-se meses desde que uma empresa espanhola ganhou a concorrência para construir a estrada e, até agora, nada mais foi feito. A exemplo da Suez, no caso do KW/h, também a espanhola OHL ofereceu preço de pedágio abaixo do estimado pelo governo. E ganhou a licitação para investir pesado em estradas importantes como a Fernão Dias e a Régis Bittencourt.

Mais ainda: já iniciou as obras que caminham a todo vapor. E pergunto: por que paramos aí? Por que não abriu nenhuma nova concorrência para construir, reconstruir reformar, revitalizar velhas estradas? O que o Planalto está esperando? Ninguém sabe. Ideologia? Proteção às empresas nacionais? Mas elas já são fortes, poderosas e, simplesmente, estão se associando ao capital externo, como aconteceu agora no Madeira.

Medo do investidor estrangeiro? Medo de quê? Será medo de que ponha a estrada debaixo do braço e a leve para fora?. Ou desative suas usinas hidrelétricas, transformando-as em sucata para vender? Quem, além dos ideólogos do PT, tem medo do capital estrangeiro? O que se prefere: não ter estradas transitáveis e portos para escoar as safras, perdendo terreno na competição internacional, ou abrigar o capital externo que está vindo para ficar?

ELES INVESTEM MUITO POUCO!

Sim, estão entrando no Brasil, neste ano, cerca de US$ 32 bilhões, mas pouco, muitíssimo pouco em infra-estrutura. Levantamento da Abdib, com base nos dados do Banco Central, mostra que em 2008 os investimentos estrangeiros em infra-estrutura estão recuando. Entre janeiro e março, apenas US$ 894,2 milhões em energia elétrica, petróleo, construção, transporte. E sabem quanto foi no mesmo período de 2007? Atentem para este número: US$ 1,188 bilhão!!!

Querem mais? Pois vejam: os investimentos em energia elétrica simplesmente despencaram. No primeiro trimestre do ano passado, foram US$ 479,1 milhões; neste, US$ 227,6 milhões! E esse é um setor que precisa angustiadamente de recursos privados, nacionais e estrangeiros. Temos ainda risco de racionamento, sim, porque as duas usinas do Madeira só entrarão plenamente em operação em cinco ou seis anos e, mesmo assim, a energia que vierem a gerar mal cobre o aumento da demanda em um ano! Sim, em um ano precisaremos mais 4 milhões ou 5 milhões de megawatts para crescer 4% ou 5%. Não dá, simplesmente, não dá.

PRIVATIZAÇÃO NOS EUA

Mas haverá dinheiro? Há, há sim. Montanhas de dólares à nossa espera. Querem um exemplo? Nesta semana, o consórcio liderado pela Abertis, operadora espanhola de infra-estrutura, associada ao Citigroup, ganhou concessão de 75 anos - sim, tudo isso - para construir uma rodovia nos Estados Unidos, na Pensilvânia. Sabem de quanto será o investimento? US$ 12,8 bilhões! É a maior privatização rodoviária nos Estados Unidos. E os espanhóis, que entraram timidamente aqui, querem mais, como também querem mais aqui se o governo acabar com essa hesitação infantil. É só oferecer projetos e eles virão trazendo os seus bilhões de dólares. E, olhem, se eles não vierem, acabarão indo para países "menos desenvolvidos" como os Estados Unidos.

E OS PORTOS, PRESIDENTE?

Sim, presidente, e os portos há tantos anos superados? Não sei se o sr. se lembra, mas temos até um Ministério dos Portos. E os nossos empresários estão pagando o custo mais caro do mundo para escoar a produção por eles, sempre abarrotados, quer pela escassez de espaço, quer pela lentidão de uma burocracia que teima em ficar. Houve muito progresso com a Lei dos Portos que, embora tenha levado 4 anos (!) para se consolidar, o avanço foi indiscutível. Mas é pouco. E por que não acabar logo com isso, presidente, antes que eles resolvam investir em países "menos desenvolvidos" como os Estados Unidos.

*E-mail: at@attglobal.net

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