PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
30/11/2007 |
L. não sabe, mas é um teste para o Brasil. L. é uma espécie de soro da verdade. Cada vez que uma autoridade abre a boca para falar dela, diz alguma insensatez que vai revelando com que calma se aceita o inaceitável no Pará. Nestes breves dias de sua notoriedade, com seu cabelo cortado a faca, seu andar desengonçado e sua inequívoca menoridade, L. dói como um nervo exposto. Um a um foram caindo pela boca os envolvidos com seu sofrimento. É chegar perto de L., e a autoridade em questão começa a dizer sandices. Ela tem o efeito de produzir atos falhos em série. Às vezes, a autoridade diz mentira tão descarnada de qualquer sentido que acaba revelando a verdade, pelo avesso. Às vezes, deixa escapar a verdade do preconceito contra pobres e convicções de arrepiar. A delegada Flávia Verônica Monteiro, que a prendeu, disse que "a lei não me dava o direito de fazer outra coisa". Por essa estranha interpretação da delegada, a lei a manda prender uma menor de idade e, pior, numa cela com vários homens. A delegada disse que "nunca ouviu falar" dos abusos contra ela na cela. Quase celestial essa delegada! Nunca imaginou o que poderia estar acontecendo atrás das grades instaladas na cara da rua de Abaetetuba. A corregedora Elcione dos Santos Moura disse que ainda não sabia o nome dos policiais que ameaçaram L. após o ocorrido. A delegada corrigiu a corregedora: são os inspetores Pires e Roosevelt. Eles a ameaçaram para que ela nada revelasse. L. tudo revelou. O delegado-geral do Pará, Raimundo Benassuly, também foi tocado pelo soro de L.: "Ela tem alguma debilidade mental", disse, em pleno Senado. Na sua estranha forma de pensar, a culpa é da "débil mental" que não revelou ser menor de idade. Antes disso, o soro da verdade havia surtido efeito em outros personagens da tragédia. O superintendente da Polícia Civil Fernando Cunha foi o primeiro a dizer a frase: "Se ela dissesse que era menor, seria dado um outro procedimento." A frase foi repetida, com algumas alterações, por várias outras autoridades. A repetição revela que a convicção na polícia do Pará é de que, após a maioridade, a mulher pode ser posta prisioneira para ser estuprada ao bel prazer dos colegas de cela. Os casos continuam vindo à tona. A perversidade era rotina. Mais uma verdade revelada por L. Atingida também pelo soro que faz todos revelarem as sandices que pensam, a governadora Ana Júlia desafinou. Admitiu que era comum a prática no estado que governa há um ano. Depois, disse que a sociedade deveria se mobilizar para que esse tipo de prática seja abolido. Ora, senhora governadora! Passou o tempo da passeata; a senhora é o poder no estado. Uma manifestação contra esse crime terá que bater à sua porta. A deputada Maria do Rosário, que relatou com tanto brilho a CPI contra a exploração sexual infantil, foi ao Pará para defender a governadora. Ela disse que Ana Júlia não pode ser responsabilizada, já que está há pouco tempo no cargo. Seria fundamental a deputada ver que L. é a encarnação extremada do objeto do seu trabalho na CPI: uma menina abusada sexualmente nas dependências, e sob as ordens, do Estado brasileiro! Ela não deveria ser parte de uma disputa política entre PT e PSDB. O soro da verdade de L. faz efeito até em quem fica em silêncio. O silêncio da ministra Nilcéa Freire, que hesitou tanto nos primeiros dias em se pronunciar. O que faltou à ministra da Mulher entender é que esse caso é um sinistro de grandes proporções. Equivale para a Secretaria Especial da Mulher o que um grande desastre significaria para a Defesa Civil. A ministra deveria ter ido para o local do sinistro no primeiro instante e lá ficado vigilante até saber a imensidão do suplício que atinge as mulheres infratoras do Pará para exigir nada menos que todos sejam punidos. Todos os criminosos que - em nome do Estado e financiados pelos nossos impostos - expõem mulheres prisioneiras ao sofrimento do estupro serial. L. revela até a relatividade de certo rufar de tambores. O Brasil bate o recorde de entrada de capital estrangeiro, vira país de Alto Desenvolvimento Humano no ranking da ONU, espera o grau de investimento e vai formar um fundo soberano. Mas parece pré-sal. Parece estar num estágio anterior à civilização. Todos esses avanços merecem ser comemorados, todos são verdadeiros; só que o caso de L. mostra que o Brasil está numa encruzilhada. Se aceita esse padrão de tratamento aos desamparados, nunca será, de fato, desenvolvido. Será o que sempre foi: uma sociedade partida, onde a proteção da lei é para alguns poucos. L. é o fio do novelo. Puxando pelo fio, o país foi conhecendo as outras histórias, todas inconcebíveis, inaceitáveis, independentemente da idade que tenha a vítima. L. revela os retratos do pior lado do Brasil. Mas uma informação está ainda faltando. A juíza que a condenou sem culpa formada, os promotores que nada fizeram em sua defesa, a delegada que a enjaulou, a corregedora, os secretários que falaram sobre o caso ainda não explicaram o que de tão valioso L. roubou para ser condenada desta forma sumária e cruel. Parece que, para todos eles, o que L. roubou não é importante, o fundamental é que ela fosse punida. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, novembro 30, 2007
Míriam Leitão - A verdade de L.
Merval Pereira - Disputa de poder
Merval Pereira - Disputa de poder |
O Globo |
30/11/2007 |
Nada poderia ser melhor para a empreitada do antigo PFL de transformar-se em um partido identificado com os anseios da classe média urbana do país do que a pesada crítica que o presidente Lula fez à campanha dos Democratas contra a prorrogação da CPMF. Pesquisas já divulgadas mostram que nada menos do que 60% dos brasileiros são contrários à CPMF, e os Democratas já têm demonstrações claras de que o combate à alta carga tributária é um discurso político que tem acolhida em uma ampla faixa da sociedade. Lula já havia dito anteriormente que os tucanos, partido que está acostumado a exercer o poder, entendiam melhor do que os Democratas a importância dos cerca de R$40 bilhões que a CPMF arrecada por ano para a execução de programas sociais. Jogava assim não apenas com a necessidade imediata dos governadores do PSDB, muitos dos quais, como a do Rio Grande Do Sul, Yeda Crusius, e o da Paraíba, Cássio Cunha Lima, trabalham a favor da prorrogação, como também com a expectativa de voltarem ao poder central em 2010, compartilhada por dois fortes governadores do PSDB, José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas. Quanto aos Democratas, o presidente Lula primeiro desdenhou sua ação contra o imposto, afirmando que eram contrários simplesmente porque não tinham "perspectiva de poder". Ontem, passou do desdém à crítica irritada, jogando sobre os ombros dos Democratas as conseqüências de uma eventual rejeição pelo Senado da prorrogação da CPMF. Disse que "os pobres" é que sofrerão, ameaçando com prejuízos para os programas sociais como o Bolsa Família, ou para a educação e a saúde. Lula acusou os que são contra a CPMF de serem "sonegadores", e disse que os Democratas torcem pelo quanto pior, melhor. Tudo para fazer o que tem caracterizado sua ação política quando a disputa com a oposição se acirra: jogar o que chama de "elite" contra o povo, como se o povo não sofresse com a alta carga tributária. É verdade que os Democratas foram os primeiros a endurecer contra a CPMF, nessa nova fase que quer identificar o partido com o dia a dia da população. E que a posição inflexível deles foi que levou o PSDB a repensar sua disposição de negociar a prorrogação com o governo, pois muitos tucanos incomodavam-se com a possibilidade de o eleitorado considerar que os Democratas faziam oposição no duro, enquanto o PSDB apenas "fingia" que se opunha. Os Democratas, graças a Lula, conseguiram ontem entrar para o rol dos verdadeiros oposicionistas e, aparentemente, sintonizados com o que pensa a maioria da sociedade brasileira. Mas é preciso que se diga que foi o governo o maior culpado pela falta de acordo com o PSDB, pois prometeu o que não podia dar, como uma reforma tributária séria, e não quis se comprometer com a contenção dos gastos. O PSDB, ao aceitar negociar com o governo os termos de uma redução gradual das alíquotas da CPMF até que ela se torne, a médio prazo, um instrumento meramente controlador da sonegação, estava sendo coerente com a postura de uma oposição que pode colaborar com o governo quando considera que os interesses do país estão em jogo. Assim como os tucanos saíram da negociação quando sentiram que estavam sendo "levados no bico" pelo governo pela promessa de uma reforma tributária que nunca viria, agora é a vez de os senadores do PDT temerem estar sendo "cozinhados". É interessante como, sempre que está em jogo uma negociação com o governo, os envolvidos acabam sendo acusados de "ingênuos" políticos, dado o histórico de não cumprir o prometido. Os tucanos já se acusaram mutuamente de ingênuos por entrarem em tentativa de acordo para a prorrogação da CPMF, e agora o senador Cristovam Buarque teme que mais um acordo frustrado com o governo reforce a fama que já tem de ser um "ingênuo" político. O que, numa arena de feras se auto-destruindo em que se transformou a política brasileira, não deixa de ser um elogio. Mas o senador Cristovam Buarque, batendo na sua nota só da educação, quer forçar o governo a revogar a famosa DRU - desvinculação dos recursos orçamentários --, mecanismo que permite ao governo mudar a destinação de 20% do Orçamento. Com isso, ele acredita que a educação voltará a ter mais recursos, que vêm sendo desviados pelo governo para outras áreas. O que o governo negocia é, em vez de extinguir a DRU, ir reduzindo a percentagem de recursos que podem ser manipulados, aceitando baixar o índice para 15%. Temo que o senador Cristovam Buarque esteja esperando mais do que o governo pretende dar, e duvido que o Ministro do Trabalho do PDT, Carlos Lupi, avalista do acordo, saia do governo se ele não for cumprido. Mas o PDT, através do senador Jefferson Peres, quer também um compromisso do governo de redução dos gastos públicos, o que poderia ser conseguido por um antigo projeto do tempo do ex-ministro Antonio Palocci, que tem no atual ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, um defensor ferrenho, mas acho difícil que se transforme em realidade. No entanto, os dois senadores são emblemáticos na oposição, e seus votos favoráveis, motivados por razões nobres, podem influenciar outros oposicionistas. De qualquer maneira, começando com o PSDB e indo agora para negociações programáticas com outros partidos, o governo está conseguindo sair do engessamento dos acordos puramente fisiológicos da pequena política para fazer acertos com base em princípios programáticos, o que já é um avanço. |
Luiz Garcia - No Pará, no Rio
O Globo |
30/11/2007 |
Opaís inteiro recebeu com a indignação adequada e alguma surpresa a história espantosa da menina de 15 anos presa com um bando de homens na cela da delegacia de Abaetuba, no interior do Pará. Nos centros do poder, autoridades como o ministro da Justiça, Tarso Genro, podem ser parceiras na indignação - e são, não vamos duvidar -, mas não na surpresa. Nem poderiam alegá-lo. Até em Washington já se sabe de violências do mesmo tipo: um relatório da Pastoral Carcerária da CNBB, entregue à OEA (e que Genro também certamente recebeu), documenta uma quantidade de casos semelhantes em pelo menos cinco estados, inclusive o Rio. É uma situação que Brasília não desconhece. Em face do episódio de Abaetuba, a ministra Nilcéia Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, comentou-o com uma generalização que parece banal, mas diz tudo: é lamentável a situação das mulheres nos presídios brasileiros. Por que, até hoje, fez-se tão pouco para melhorar o quadro? Parece que nisso as autoridades nacionais são parecidas com a opinião pública: têm o mau hábito de não dar a relatórios massudos e frios a conseqüência que merecem. E só se mobilizam em face de episódios especialmente traumáticos. Sempre tragédias com rostos, escândalos com nomes. Assim foi no Rio, por exemplo, com a tragédia do menino arrastado e morto por jovens bandidos num carro em fuga. E assim está sendo com a história da menina de Abaetuba. São situações emblemáticas, sentenciam os cientistas sociais. Os relatos e as imagens fervem o nosso sangue e nos fazem chorar, preferem dizer os cidadãos; principalmente, quem, como eu, não sabe muito bem o que é "emblemático". De qualquer forma, a indignação faz a máquina do Estado se mexer. Enquanto dura. E uma das tragédias sobre as tragédias nacionais é a vida curta das iras santas. A história da menina de Abaetuba rendeu ao governo do Pará, em menos de 48 horas, a liberação de R$89 milhões para melhorar a situação de presídios e celas de delegacias. Outros estados podem alegar que vivem problema idêntico e correr a Brasília de chapéu na mão. Mas vamos insistir: é bom não perderem tempo, porque as prioridades causadas por episódios comoventes costumam ter curta vigência. Mas, aqui no Rio, a comoção com o episódio paraense pode ser aproveitada imediatamente, num caso isolado - mas emblemático, como dizem as pessoas que escrevem bonito. O delegado Herald Paquete Espínola, da Divisão de Capturas da Polícia Civil, defendeu outro dia que homens continuem a fazer revistas rotineiras em presas - que ficam nuas para isso. Alegou que a lei não exige a revista por mulheres e bateu o pé: "Não vou perder meu tempo comentando isso." A Secretaria de Segurança talvez ache oportuno se sintonizar com o estado de espírito generalizado no momento e, pelo menos, sugerir a esse delegado que ganhe um pouco de seu tempo se transferindo para o século XXI. Outros tipos de transferência também podem ser pertinentes. |
Eliane Cantanhede - "Chique"
Folha de S. Paulo |
30/11/2007 |
Segundo Lula, o Brasil agora é "chique", porque é do Brics, com Rússia, Índia e China, e além disso integra o grupo dos países de alto desenvolvimento humano. Ele, porém, esqueceu de alguns "detalhes" e manteve aquela postura curiosa: vitórias são sempre dele; derrotas, dos outros. |
Dora Kramer - Fora da agenda
O Estado de S. Paulo |
30/11/2007 |
O Palácio do Planalto vem se especializando na prática de deixar o dito pelo não dito sem se sentir na obrigação de oferecer ao público uma explicação convincente sobre seus atos. Na quinta-feira o ministro da Defesa, Nelson Jobim, apresentou-se na hora e dia marcados para mostrar ao presidente Lula o plano para evitar atrasos nos vôos e caos nos aeroportos no fim de ano. Depois de um chá de cadeira de uma hora, o encontro foi cancelado porque o presidente precisava receber o grão-duque Henri de Luxemburgo e a agenda não lhe permitiria, ao longo do dia, dedicar mais que meia hora ao ministro da Defesa e seu plano de ação. A agenda do presidente na quinta-feira estava assim organizada: 9h, despacho interno; meia hora depois, reunião com o general Jorge Félix, chefe do gabinete de segurança institucional, a quem dedicaria 15 minutos para então receber o advogado-geral da União, José Toffoli, por 45 minutos. Às 10h30 seria a vez de Jobim. Ao meio-dia, o grão-duque e, na volta do almoço no Itamaraty, às 15h, reunião com Stephen Green, presidente mundial do grupo HSBC. Às 16h30, despacho interno. Quatro horas e meia depois, entrevistas para televisão no Palácio da Alvorada e nada mais. Como se vê, o dia não estava exatamente feérico em termos de agenda. O adiamento das medidas está mal explicado. Se o plano estava pronto e tempo havia quando se marcou a apresentação, fica a impressão de que para o presidente da República a crise no setor aéreo, a agressão ao cidadão solapado em seu direito de consumidor continua sendo assunto menor, relevante e urgente apenas quando ocorrem tragédias que lhe possam render prejuízos à imagem. Ou, então, esse plano anunciado por Jobim não traz novidade alguma, não resolve nada, não passa de simulação de providências e, portanto, não faz diferença que seja anunciado agora ou daqui a 20 dias conforme ficou combinado. Enquanto isso, as companhias fazem o que bem entendem com os passageiros. Foram autorizadas a para estender de 15 para 60 minutos o tempo considerado como atraso na alteração do horário de pousos ou decolagens. No geral, entretanto, ocorre o seguinte: o horário previsto no quadro de avisos, que antes era o da decolagem, agora é o da chamada para o embarque. Uma hora, portanto, são, na verdade, duas. Isso quando não há espera dentro do avião ou troca de aeronave. Nesses casos, a tripulação se desculpa “pelo transtorno”, diz que o passageiro tem toda razão de não gostar e fica assim tudo por isso mesmo. Já a cobrança de taxas por causa de cancelamentos e alterações de viagens por parte do passageiro obedece rigidamente ao regulamento. É uma relação desigual em que empresas quebram sistematicamente seus contratos com o cliente, não são obrigadas a cumprir nenhuma contrapartida - pois não há previsão nem fiscalização a respeito - e ao comprador resta o consolo de saber que o ocupante da poltrona ao lado tem sempre uma experiência pior para contar. O usuário de avião hoje é feito de bobo, mas o governo, a quem caberia organizar o funcionamento do sistema e zelar pela preservação de normas contratuais, não perde tempo com isso, ocupado que está em desperdiçá-lo fazendo marola. Roda-pião O PSDB abriu alas e agora só falta o governo pedir passagem. Na sessão plenária de anteontem no Senado, o líder Arthur Virgílio afirmou, em resposta a uma veemente cobrança de Aloizio Mercadante, que estava disposto a negociar a CPMF se o governo se comprometesse com um “duro” programa de corte de gastos. Ontem, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, informou que só espera “um gesto” para retomar o diálogo interrompido semanas atrás, nem o PSDB conseguiu dizer exatamente por quê. Um grupo disse que a proposta de compensações era insatisfatória; outro - Arthur Virgílio incluído - alegou que o voto contra seria eleitoral e politicamente mais condizente com o projeto oposicionista do partido: sem a CPMF agora, o presidente Lula se obrigaria a fazer o ajuste nos gastos e entregar o país mais enxuto ao sucessor. E o que houve de lá para cá para justificar tal mudança de posições? Do ponto de vista do mérito da discussão, nada, a não ser a quebra da promessa de Lula de enviar ao Congresso a proposta de reforma tributária. Já sob a ótica política, houve fato novo. Lula saiu a campo e os tucanos tremeram nas pernas quando o presidente mostrou os punhos. Atacou o Democratas e afagou o PSDB. Mas não fez proposta alguma de conhecimento público. Os tucanos têm todo o direito (até mesmo o dever) de negociar, ponderar o oferecido e, se for o caso, votar a favor. Têm todo o direito também de mudar de posição. Só não podem é esperar que, com esse vaivém referido no temor da popularidade de Lula, o eleitor acredite naquela conversa da semana passada sobre rumo, firmeza e atitude. |
Clóvis Rossi - O câncer e o PT
Folha de S. Paulo |
30/11/2007 |
Houve época em que se preferia "insidiosa moléstia" a câncer, uma maneira de mascarar a realidade. |
Celso Ming - Vento do medo
O Estado de S. Paulo |
30/11/2007 |
Quando falam de novidades do mercado financeiro, os especialistas despejam profusões de nomes e siglas incompreensíveis para os não iniciados, como SIV, CDO, FDIC, ABCP Conduits. São coisas de um mercado em que quase tudo é virtual ou, quem sabe, puro vento. Mas não é esse o assunto do dia. Há uma novidade mais sutil e mais importante tomando corpo. Trata-se da metamorfose global na percepção do risco, um tema já abordado de passagem neste espaço. Alguma lei biológica manda que a bicharada fuja para a toca a qualquer sinal de perigo. Quando algo mete medo, o comando central manda que as pernas ajam. No mundo das finanças, essa reação é exacerbada. No passado mercantilista, a segurança econômica era passada pela posse de propriedades imobiliárias e, naturalmente, de metais preciosos, função que ainda subsiste residualmente na sociedade. Tanto subsiste que, nos dias de pânico, as cotações do ouro quase sempre disparam. Nos últimos 30 anos, foram o dólar e os títulos lastreados em dólares que passaram a desempenhar essa função. Mas isso parece outra vez em mudança. Quando más notícias prevalecem no mercado financeiro, a porta de saída ainda aponta para o dólar. Mas os investidores se comportam como se não mais se sentissem seguros no esconderijo. Ficam lá, desconfortavelmente agachados debaixo dos dólares, com o mesmo medo na barriga. Ao primeiro alívio, a manada volta para o risco. Há muito dinheiro sobrando nos mercados, os juros nunca estiveram tão baixos e um dos maiores riscos do momento está no que vem acontecendo nos mercados de câmbio. A percepção geral é a de que se pode perder mais nas aplicações em dólares do que nas aplicações tradicionais de risco. Explica-se: o que, em princípio, deveria passar segurança, é causa de insegurança. Em dois anos, o dólar caiu mais de 20% ante o euro e 17% ante a libra esterlina (ver gráfico). Quem está montado em dólares está todos os dias se perguntando o que acontecerá com seu patrimônio se os chineses, que têm US$ 1,4 trilhão em reservas, resolverem levar a sério suas ameaças de diversificação de investimentos. O que ainda sustenta a procura de ativos em dólares nos momentos de aflição é a falta de opção. Não há títulos em ienes ou em euros em quantidade suficiente para atender à demanda nessas horas. Embora sua condição de moeda de reserva esteja sendo questionada, ainda não há o que pôr em seu lugar. Na verdade, a fraqueza não está no dólar, mas na economia americana. Tem a ver com os seguidos rombos do orçamento público. Só as despesas com defesa no Iraque, Afeganistão e África estão sangrando entre US$ 3 bilhões e US$ 5 bilhões por dia, aponta o site da Yale Global. E tem também a ver com a baixa capacidade do americano em poupar. Apenas uma reversão dos fundamentos da economia americana conseguirá dar consistência ao dólar que hoje é uma moeda frouxa. Enquanto essa reversão não acontecer, os investidores continuarão desarvorados, com medo de que o dólar se transforme em vento e o Tesouro americano, em megacaloteiro.
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Muy amigos...
EDITORIAL |
Folha de S. Paulo |
30/11/2007 |
Tensões diplomáticas e conflitos internos se alastram pela América do Sul e requerem mudança de atitude do Brasil SERIA EXAGERO afirmar que a América do Sul vive uma situação de crise política generalizada, mas é inegável reconhecer que emergem sinais preocupantes de todos os pontos do subcontinente. |
A truculência de Chávez
editorial |
O Estado de S. Paulo |
30/11/2007 |
Percebem-se, de um só golpe, o desequilíbrio psicológico e a vocação ditatorial do coronel Hugo Chávez pela maneira como conduz os negócios da Venezuela. O rompimento de relações com o presidente Álvaro Uribe, da Colômbia, contém esses dois elementos de instabilidade. Durante dois ou três dias, Chávez dirigiu insultos pesados contra Uribe, que o dispensara da função de mediador entre o governo colombiano e as narcoguerrilhas das Farc. O que disse de menos insultuoso foi que Uribe é “um servil instrumento do império (...), um peão do império”. Depois, convocou o embaixador venezuelano em Bogotá para consultas. Finalmente, declarou que não teria mais qualquer tipo de relacionamento com a Colômbia, enquanto Uribe fosse presidente. Mas isso não significa que tenha rompido relações diplomáticas com o país vizinho. Apenas não quer conversa com Álvaro Uribe. Esse comportamento não é novo. Repete o que fez em 2005, quando o então presidente Vicente Fox não gostou de sua interferência no processo eleitoral mexicano. Confrontado, reage não como chefe de Estado, mas como menino malcriado e cheio de vontades. Mas há lógica nessa loucura. Não erra quem associa os acessos de raiva de Chávez à resistência a seus planos de boa parte do eleitorado que, no domingo, decidirá se aceita ou não a Constituição fascista que ele escreveu para a (sua) Assembléia Nacional aprovar. Com o eleitorado dividido - as intenções de voto contra a Constituição, que superavam as a favor, agora, estão equilibradas -, Chávez joga tudo o que tem para não perder a eleição. E um dos truques mais velhos do mundo é criar um inimigo externo para promover a coesão em torno do “salvador da pátria” (e da Opep, e do mundo). Esse, aliás, é o comportamento-padrão do caudilho: ele não tem adversários políticos; tem inimigos, que precisa eliminar. Vive de criar conflitos - e quanto mais graves e ruidosos, melhor. E usa sem limites o poder discricionário que conquistou nesses oito anos na presidência. As pesquisas de opinião mostram que ele pode perder o referendo? Proíbe a divulgação. Uma emissora de televisão dá espaço à oposição? Avisa que a licença de funcionamento da rede não será renovada. Isso no varejo. No atacado, sua truculência vai muito além. A polícia se excede na repressão às manifestações estudantis, que estão mobilizando o eleitorado contra a Constituição. No início da semana, o presidente da Federação de Câmaras e Associações do Comércio e Produção (Fedecâmaras) assinou um comunicado pedindo que os venezuelanos se unissem para votar “não” à Constituição, que acaba com a livre iniciativa e a propriedade privada. A reação de Chávez foi curta e grossa: “Se o presidente da Fedecâmaras insistir em suas ameaças ao governo bolivariano, tiro-lhes todas as empresas que eles têm.” Constitucionalmente, a partir de domingo, se o “sim” for vencedor. A Conferência Episcopal da Venezuela declarou que a nova Constituição é “anticristã” e concitou os católicos a votar contra ela no referendo. A resposta de Chávez aos líderes católicos: “Se continuarem dizendo essas coisas, vamos ter de fazer algo. É triste ver um padre na prisão, mas paciência tem limite.” Em seguida, acusou os bispos de conspirar contra ele e de serem responsáveis pela morte de um militante bolivariano. Não estranha, portanto, que num relatório dirigido ao Vaticano sobre o relacionamento de Chávez com a Igreja, o cardeal hondurenho Oscar Rodríguez tenha afirmado que, na Venezuela, “certas pessoas não são mentalmente estáveis”. Quem não concorda com o projeto ditatorial de Chávez é tachado de “traidor” e perseguido pelas milícias bolivarianas. Afinal, Chávez, além de ser a reencarnação de Bolívar, é a personificação do Estado. É com base nesse delírio que ele tem dirigido a campanha pelo “sim”. A acreditar-se no que ele diz, o pleito de domingo não se destina a aprovar ou rejeitar a nova Constituição, mas é um plebiscito para mantê-lo ou tirá-lo do poder imediatamente - o que é mentira, pois seu mandato vai até 2013. Chávez pratica todas essas arbitrariedades, tendo por suporte legal apenas a famigerada Lei Habilitante. Imagine-se o que fará, como ele mesmo diz, “sempre no marco da Constituição que, a partir de domingo, será vermelhinha”. |
Caras emoções baratas - Nelson Motta
C |
Artigo |
Folha de S. Paulo |
30/11/2007 |
Por onde andam Darci Vedoin e seus amigos das ambulâncias? E Zuleido Veras, sumiu com seu iate na baía de Todos os Santos? E o pobre Freud Godói, que, mesmo inocente, teve que pedir para sair? E Waldomiro Diniz, réu confesso e ícone histórico do clePTopetismo? Onde andará churrascando Lorenzetti? Eles não telefonam, não escrevem, não dão notícias, já estamos todos com saudades de suas peraltices. |
Lula não confia nos oprimidos: sobe hoje a favela com PF, Forças Armadas, PM e carro blindado
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O presidente Lula sobe hoje a primeira favela em morro no seu segundo mandato com um megaesquema de segurança envolvendo as polícias Militar e Federal e as Forças Armadas, segundo a assessoria da Secretaria Geral da Presidência. Lula vai participar da cerimônia inicial das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no conjunto de favelas Cantagalo/ Pavão-Pavãozinho (Ipanema e Copacabana), onde serão investidos R$ 35,2 milhões em cooperação com o governo do Estado. A principal obra é a construção de um elevador. Cerca de mil pessoas são aguardadas. O grande aparato se deve ao fato de o complexo de favelas ser dominado pelo tráfico de drogas, lá comandado pela facção criminosa Comando Vermelho, e à geografia e dificuldade de movimentação no morro. Não foi revelado o efetivo a ser empregado na segurança.O governador do Rio, Sérgio Cabral, subirá com Lula no carro o trajeto de 1 km do "asfalto" até o alto do morro, onde ocorrerá a cerimônia. Os outros convidados subirão em vans da organização.
Sarkozy: 'Distúrbios não são crise social'
Para presidente francês, conflitos nos subúrbios de Paris foram vandalismo
Paris
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse ontem que a violência nos subúrbios de Paris, deflagrada no domingo após a morte de dois adolescentes, não é sinal de crise social, mas de vandalismo. “Rejeito esse discurso inocente que considera todo delinqüente como vítima da sociedade”, disse. Em discurso diante de 2 mil policiais, em Paris, ele prometeu reprimir o que chamou de “banditocracia” responsável pelos distúrbios que atingiram os subúrbios de Paris esta semana.
Os distúrbios começaram em razão de um acidente envolvendo dois jovens em uma motoneta que morreram em uma colisão com um carro da polícia em Villiers-le-Bel, nos arredores de Paris. Os moradores da região acusam a polícia de ter causado o acidente e de não ter prestado socorro às vítimas.
Durante três noites seguidas, jovens encapuzados queimaram mais de 60 viaturas de polícia e outros veículos e depredaram lojas e prédios públicos. Cerca de 80 policiais ficaram feridos. Os encapuzados usaram paus, pedras, coquetéis molotov e até armas de fogo. A onda de violência terminou na quarta-feira, quando o presidente Sarkozy mandou reprimir os protestos e mobilizou mais de mil policiais, com o apoio de carros blindados e helicópteros.
PASSEATA
Ontem, cerca de 300 pessoas realizaram uma manifestação pacífica em Villiers-le-Bel para lembrar os jovens Mohsin Sehhouli, senegalês de 16 anos, e Lakamy Samoura, um marroquino de 15, mortos no domingo.
Enquanto isso, uma pesquisa divulgada ontem mostrou que a popularidade de Sarkozy está em queda livre. Nos últimos dois meses, de acordo com a sondagem, o presidente perdeu o apoio de 15% dos franceses - se em setembro 64% confiavam em seu governo, em novembro esse índice caiu para 49%.
EFE,REUTERS, FRANCE PRESSE E ASSOCIATED PRESS
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