Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 09, 2007

Uma visão não convencional da economia

"Mais sexo, menos aids"

Essa é apenas uma das teses de Steven
Landsburg, o economista americano
especializado em desafiar o senso comum


Marcio Aith

Ilustrações Negreiros

O CUSTO DA CASTIDADE
A aids se propagaria mais lentamente se pessoas com hábitos sexuais restritivos aumentassem moderadamente sua freqüência sexual

"Se você sempre foi cuidadoso e seletivo, poderá elevar a qualidade média do conjunto de parceiros sexuais. Só por entrar no jogo você o torna mais puro. Graças a você, todos os que vão à caça hoje à noite têm uma chance melhor de encontrar alguém saudável."
Steven Landsburg

Equações e estatísticas se prestam a sustentar quaisquer teses e a resolver todos os problemas do mundo. Desde, é claro, que se ajeitem as variáveis direitinho, de forma a atingir o objetivo desejado. Steven Landsburg, professor de economia da Universidade de Rochester, no estado de Nova York, domina essa arte com mestria. Dotado de uma sólida formação matemática, ele se diverte construindo raciocínios lógicos para defender teses politicamente incorretas. Por exemplo: mais sexo pode retardar a contaminação pelo vírus do HIV. Ou: pornografia on-line reduz a ocorrência de estupros. Landsburg é colunista da revista on-line Slate e pioneiro no uso de métodos e ferramentas econômicas para contrariar convicções e desvendar os mistérios da vida cotidiana. O primeiro de seus três livros, The Armchair Economist: Economics and Everyday Life (O Economista de Poltrona: Economia e o Cotidiano), de 1993, serviu como referência a Steven Levitt, autor do best-seller Freakonomics e o mais notável entre a geração dos economistas pop. Ao contrário de Levitt, no entanto, Landsburg não só desafia o senso comum. Também o agride, com um humor lúgubre e com uma lógica nem sempre convincente, mas divertida e suficientemente hermética para não ser desmentida.

TRABALHEM, CRIANÇAS!
O trabalho infantil é a resposta natural do ser humano a determinados níveis de pobreza. A maioria dos pais só submete os filhos a tal experiência penosa diante de alternativas piores

"O Terceiro Mundo é pobre: tão pobre quanto os ingleses e americanos da metade do século XIX. Ser pobre significa tomar decisões difíceis, como trabalhar ou comer menos."
Steven Landsburg

As teses ousadas de Landsburg são baseadas em pesquisas econômicas inovadoras, geralmente elaboradas por outros acadêmicos. Sua proposição sobre sexo e aids, por exemplo, deriva de uma pesquisa de 1997 de Michael Kremer, professor de Harvard. Segundo Kremer, a transmissão do vírus HIV seria retardada caso as pessoas com menos de 2,25 parceiros sexuais por ano elevassem moderadamente esse índice. Tal conclusão restringe-se à Inglaterra e vem recheada de uma miríade de ressalvas. Além disso, Kremer também monta outras hipóteses estatísticas não tão róseas. Landsburg, no entanto, atém-se apenas a essa, a qual aplica indistintamente a todos os países e a todas as populações.

AVARO GENEROSO
Pães-duros fazem bem à sociedade ao
poupar recursos naturais e bens de consumo

"É a lei da aritmética. Se Scrooge (personagem avaro criado pelo escritor inglês Charles Dickens) come menos, sobra mais para o resto das pessoas."
Steven Landsburg

Escreve Landsburg: "Imaginem Martin, um jovem cuidadoso e charmoso com uma história sexual limitada e que flerta com sua colega de trabalho Joan. Martin e Joan nutrem a esperança de ficar juntos na festa de fim de ano da empresa. Infelizmente, ao ir para o trabalho na manhã da festa, Martin lê no metrô um aviso do Ministério da Saúde que prega as virtudes da abstinência e decide faltar à festa. Joan, então, cai nas garras de Maxwell, igualmente charmoso, mas menos prudente. E Joan pega aids". Por ser mais cuidadoso, sustenta Landsburg, Martin teria o poder de tirar Joan da linha de perigo. Mas e se Martin for à festa e, em vez de ficar com Joan, cair ele mesmo nas graças de Maxwell? Responde Landsburg: "Martin nos prestaria um segundo favor, de natureza macabra: nesse caso, por ser mais recluso que Joan, Martin irá para casa, viverá solitário e, quando morrer, levará o vírus com ele". E se Maxwell, insaciável, contaminar Joan e Martin na mesma noite? Aí está o calcanhar-de-aquiles da teoria de Landsburg. Seu cálculo matemático – e o de Kremer, de certa maneira – pressupõe algo improvável: mais parceiros, mas um número fixo de relações sexuais. Uma variável esperta, destinada a atingir um objetivo específico. A teoria do sexo serve de título ao terceiro livro do colunista da Slate, More Sex Is Safer Sex (Mais Sexo É Sexo Mais Seguro), cujas principais teses são ilustradas nesta matéria. O segundo livro, Fair Play (Jogo Limpo), versa sobre como os filhos podem ensinar economia, valores e o significado da vida.

MULTIPLICAI-VOS
O bem-estar da humanidade sempre acompanhou o aumento da população. Quanto mais pessoas, melhor

"O motor da prosperidade é o progresso tecnológico, e o motor do progresso tecnológico são as pessoas. Idéias vêm de pessoas. Quanto mais pessoas, mais idéias."
Steven Landsburg

Landsburg deriva conclusões usando apenas a lógica econômica. Essa é sua força e também sua fraqueza. A vida humana não se comporta como as estatísticas. O autor reconhece isso e afirma que nem todo fenômeno estatístico tem relevância ou explicação. Como explicar, por exemplo, que na Califórnia gays e lésbicas têm 70% mais probabilidade de ser fumantes do que os moradores de orientação sexual hétero. Depois de se valer de vários fatores possíveis (ausência de filhos e coragem para enfrentar preconceitos, entre outros), Landsburg resignou-se: "Não há explicação. As pessoas têm suas próprias razões, sejam elas visíveis ou não". Em outro caso, conseguiu não só provar que a pornografia na internet pode desestimular estupros entre jovens como também mostrou que o mesmo não se aplica a homicídios e roubos. Além disso, propôs-se a consertar a política, o sistema judiciário e até a combater incêndios – nesses casos, com menos lógica e mais humor. É fácil discordar de Landsburg. O difícil é não se divertir com suas teses.

RINS À VENDA
Não há razão moral ou econômica para proibir a venda de rins. O corpo humano tem dois, e só um é necessário.

"Num mundo sensato, rins seriam comprados e vendidos como carne de porco."
Steven Landsburg



UM ELEITOR, DOIS VOTOS
Todo eleitor deveria ter o direito de também votar em
outro estado que não o seu. Só assim o clientelismo e a gastança podem ser combatidos

"Quando um senador de um estado consegue converter bilhões de dólares de impostos federais em políticas clientelistas, eu quero que ele saiba que o dono desse dinheiro poderá se vingar nas eleições seguintes."
Steven Landsburg

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