Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 07, 2007

Reinaldo Azevedo : Vavá, Dario e Xerxes



Uma hipótese delirante começou a circular, vencida finalmente pela realidade, e dava conta de que Lula, de algum jeito, estava no comando da Operação Xeque-Mate, que chegou a Vavá, seu irmão, e a Dario, seu compadre -- não um compadre qualquer: o homem é quase um mordomo da primeira-dama, íntimo da família, pessoa da mais absoluta confiança. Já que se fala em Dario, aprendam a ver Lula como uma espécie de Xerxes de São Bernardo, cercado de eunucos que lhe fazem as vontades, inclusive na imprensa. Ele suspira contrariado, e logo há um serviçal para saber se é para invadir Esparta naquela hora ou mais tarde.

Segundo a tal hipótese delirante, Lula usaria o episódio do irmão para, ainda outra vez, triunfar sobre toda coisa viva. Uma besteira se a coisa for pensada dessa forma. É claro que o episódio Vavá é ruim para o presidente. É claro que o fato de um compadre estar em cana conta contra a sua reputação. E reitero: nem Lula nem Tarso sabiam de coisa nenhuma. O Rei está sob chantagem. Está sendo ameaçado por um xeque. Pode vir a ser um xeque-mate?

A imprensa, com exceções, está lenta, lentíssima. Infelizmente, já disse aqui, ela acabou se especializando em cobrir polícia e acabou perdendo um pouco o jeito de cobrir política. Os que são leitores habituais deste blog sabem que alertei para a guerra de facções na Polícia Federal já quando a tal Operação Navalha chegou a Renan Calheiros. Também naquele caso, até entre os atingidos, houve quem tentasse ver o dedo do PT: "Assim, Lula se livra do peso do PMDB". Não descarto que ele possa tentar reverter a seu favor tanto aquele caso como este -- com a afirmação, arrumada a posteriori, de que sua polícia atua sem olhar a fidalguia dos alvos. É o que lhe resta fazer. É até uma obrigação.

Os jornais desta quinta já voltam os olhos para a Polícia Federal e constatam que alguma coisa um tanto estranha anda acontecendo por lá. Posso achar, e acho, que Vavá mereça ser investigado -- desde, ao menos, outubro de 2005, quando a VEJA fez duas reportagens sobre suas andanças entre os poderosos de Brasília. Mas não tentem me convencer de que é um fato banal a Polícia Federal entrar na casa do irmão do presidente ou prender seu compadre quando ele está fora do país. Também a sua reação pública foi de tal maneira, digamos, fria, que só pode ter sido meticulosamente calculada.

Estou eu aqui afirmando que Lula está sendo vítima de alguma conspiração da PF? Ah, não mesmo. Dependesse de mim, eu até sugeriria ampliar a investigação. O ponto é outro: a Polícia Federal, um órgão do estado brasileiro, vive uma guerra de facções, sem comando, politizada, agindo um tanto à matroca, e, agora, reivindica vontade própria. Mais ou menos como o monstrengo de Dr. Frankenstein. Ao menos um de seus grupos decidiu mirar o próprio governo. Sim: melhor isso do que uma polícia política do PT, não tenham a menor dúvida. Melhor do que tudo, no entanto, é a que ela seja profissional.

Saibam: desde a chegada de Lula ao poder, em 2003 (Lula, vocês sabem, é o titular do governo de Waldomiro Diniz, mensalão, dossiê fajuto), a PF já prendeu mais de 5 mil pessoas. Exceção feita aos da última operação, sabem quantas estão na cadeia? Que eu saiba, nenhuma! Não me confundam: talvez o bom número fosse 10 mil. Não faltam corruptos no Brasil. A questão é que é preciso menos espetáculo e mais método. Márcio Thomaz Bastos, o artífice do modelo, entendia tudo do primeiro e nada do segundo. O monstro agora começou a se interessar pela mocinha...

A ninguém interessa -- muito menos à institucionalidade -- uma PF fragmentada, agindo segundo interesses que não os estritamente previstos em lei. E, nesse caso, é preciso aprender a raciocinar com equações complexas. Nada disso significa um alinhamento com a impunidade -- muito pelo contrário. Volto àquela coletiva de Lula. Ele nos convidou a pôr as barbas de molho, a andar nos trilhos, como se a PF tivesse virado o redutor da política e da realidade brasileiras. E, claro, se você não é petista, não há por que temer a facção da PF que amola o PT. Mas é bom tomar cuidado com aquela que está a serviço do partido.

Em Brasília, os ministros do STF, por exemplo, não pedem nem comida por telefone. Temem que uma "salada de alface" seja confundida com um indício. O PT está destruindo o já capenga estado brasileiro.

 
 

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