Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 10, 2007

Celso Ming,O argumento errado

O argumento errado

celso.ming@grupoestado.com.br

Ficaram insustentáveis os argumentos de que o câmbio só está torto porque é enorme a especulação que tira proveito da diferença entre juros externos e internos.

Juros reais a um dígito já é perspectiva para daqui a poucos meses. Ficou descabido afirmar que vale a pena tomar dinheiro emprestado lá fora a juros baixos para reaplicar aqui e ganhar no mercado financeiro.

Nos Estados Unidos ou na Europa está difícil encontrar empréstimos a juros de 7% ao ano ou a menos do que isso. O tomador de empréstimos ainda tem de enfrentar o prêmio de risco Brasil (de 1,5%), mais a inflação (de 3,5% neste ano) e só aí já estamos falando de um total de 12% ao ano, o nível dos juros básicos vigentes.

As operações de arbitragem com juros são intensas, mas já não se baseiam na tomada externa de empréstimos. É, por exemplo, o exportador que antecipa a liquidação do câmbio e usa os reais obtidos como capital de giro, que os bancos brasileiros não fornecem por menos de 60% ao ano. Ou é o importador que consegue adiar por até dois anos o pagamento ao fornecedor externo. Ou a filial de empresa estrangeira que adia a remessa de lucros e, enquanto isso, usa o dinheiro da venda da mercadoria como capital de giro. Mas isso não tem nada a ver com o tamanho da Selic.

Os jornais de quinta-feira publicaram nova estimativa do Ministério do Desenvolvimento de que as exportações deste ano poderão beirar os US$ 160 bilhões e puxar o superávit comercial para perto dos US$ 50 bilhões. É aí e na farta entrada de investimentos externos que os críticos deverão buscar a explicação principal para o achatamento do câmbio.

Isto posto, não faz sentido defender a derrubada dos juros 'a canetadas' nem impor quarentena à entrada de capital especulativo. Também parecem descabidas as reivindicações de dirigentes da indústria de que seja imposto um prazo para pagamento de importações ou cobrado um IOF nas operações de Antecipação de Contrato de Câmbio pelos exportadores. Medidas assim só antecipariam a compra ou adiariam a venda de dólares, com efeito marginal nas cotações.

Além da redução da exposição cambial dos bancos anunciada sexta-feira, há quem advogue a imposição de retenções compulsórias sobre posições vendidas em moeda estrangeira dos bancos. Como a toda posição vendida corresponde uma posição comprada, o efeito parece irrelevante.

Se a oferta de dólares provém do comércio exterior e do investimento de risco, só faria sentido uma ação sobre o câmbio que contemplasse esses segmentos. Mas a taxação das exportações, para reter dólares antes que cheguem ao câmbio, além de discriminatória, inibiria as exportações.

Ah, sim, seria bom incentivar importações para aumentar a demanda por dólares e reequilibrar o câmbio. Mas quem defende a virada nas cotações do dólar diz que a indústria está sendo enfraquecida pela forte concorrência externa, o que o encorajamento das importações só agravaria.

Está demorando para cair a ficha de que o problema é a perda de competitividade da indústria brasileira perante o concorrente externo que o câmbio baixo só está desnudando. Outra vez, a saída é desonerar os custos das empresas com a redução de impostos e de encargos sociais. Para isso, o governo precisa derrubar suas despesas (para que a carga tributária possa cair) e apressar a reforma trabalhista.

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