Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 07, 2007

Celso Ming Afrouxamento nos juros : Estado

Só haveria surpresa na decisão de ontem tomada pelo Copom se a
votação fosse unânime.

Para os desavisados, a contagem pode parecer um pormenor à toa. Mas
não é. É indicação importante sobre as decisões futuras, com impacto
no mercado futuro e na economia.

O Banco Central dá enorme importância à gestão das expectativas.
Acostumar o pescador com um lambarizinho de 0,25 ponto para, de
repente, meter no anzol um pintado e, em seguida, voltar aos lambaris
criaria um pandemônio nas expectativas.

Por isso, o pintado de ontem indica que, ao menos na próxima reunião,
um corte igual deve ser mantido - a menos que um fato inesperado mude
tudo.

Na reunião de abril havia emplacado por 4 votos a 3 a proposta de um
corte de apenas 0,25 ponto porcentual. Os três diretores vencidos
tinham votado no afrouxamento maior, de 0,5 ponto porcentual. Ficara
a impressão de que pelo menos 2 ou 3 dos diretores manteriam sua
posição de um corte de apenas 0,25 ponto também na reunião de ontem.
Isso está agora confirmado.

A principal razão dessa expectativa é a de que, nas três últimas
reuniões, o Copom insistiu em chamar a atenção dos marcadores de
preço para a "demanda robusta" e para a persistência da "parcimônia
na política".

Como a indústria vinha na rabeira do processo, nem sempre capaz de
acompanhar o ritmo das encomendas, pareceu aos analistas que o Banco
Central estava preocupado com a inflação que pudesse saltar em
conseqüência da incapacidade de a oferta acompanhar o ritmo das
compras (inflação de demanda). Agora se sabe, ainda há dois diretores
do Copom pensando assim.

A percepção corrente é a de que juros de 12% ao ano ainda estão entre
os mais altos do mundo. E de fato estão. O que precisa ser agora
avaliado é até que ponto a diferença entre juros internos e externos
explica a forte entrada de dólares, responsável pela valorização do
real.

Se desses 12% ao ano agora em vigor se subtrair a inflação de 3,5%
(evolução provável do IPCA neste ano), o prêmio de risco de 1,5 ponto
porcentual e os juros reais dos Estados Unidos, de 2,5%, temos que
esses 12% se reduzem a 6,5% ao ano.

O efeito desse número é o de que já não vale a pena tomar empréstimos
externos a 6% ou 7% ao ano para reaplicar os recursos aqui a 12%,
enfrentando a inflação e o prêmio de risco Brasil, mais o Imposto de
Renda de 15% - e já não se fala do risco cambial.

Em outras palavras, as operações de arbitragem a partir de
empréstimos externos, que existem e devem continuar por mais tempo,
estão sendo desestimuladas e fica difícil sustentar que a diferença
entre juros internos e externos atrai volumes tais de capital que
tenham importância decisiva na trajetória do câmbio.

Se o corte de ontem se repetir em julho e setembro, o ano pode
terminar com juros de 10,5% (os analistas cravam 10,75%). O mercado
futuro de juros deve refletir de imediato essa expectativa.

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