Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 03, 2007

Brasil precisa aproveitar a festa mundial

Brasil precisa aproveitar a festa mundial

Alberto Tamer*

A economia mundial continuou nesta semana navegando num mar sem ondas. É uma festa. Os indicadores dos principais países estão em alta. O único negativo, o crescimento trimestral no EUA, revisto de 1,3% para apenas 0,6%, refere-se ao passado. Os últimos levantamentos, os de abril, são animadores. O nível de emprego aumentou, os salários também, o desemprego mantém-se no seu recorde de 4,5%. Há um aumento das exportações destinadas aos países asiáticos e o índice de confiança dos consumidores continua robusto. E eles respondem por 70% do PIB americano.

As bolsas, nem se fala. Mesmo com a especulação no cassino acionário chinês, onde desponta, assustada, uma valorização de 258%, as outras, em Nova York, Londres, Frankfurt e também a nossa, batem recordes sobre recordes. Embora preocupe, não se acredita que um baque na bolsa chinesa venha a provocar uma derrocada mundial. É pequena demais para isso. E a bolsa americana se mantém em alta mais pelos lucros das grandes empresas, mais de US$ 3 trilhões, do que por movimentos especulativos.

EUROPA EM CÉU AZUL

A melhor notícia vem da Europa. A Comissão Européia anunciou sexta-feira que o desemprego em abril continuou recuando. Está em 7,1% , contra 8% no mesmo mês de 2006, quando herdou um recorde de 11%. E o recuo do desemprego para níveis aceitáveis não ocorre só na eurozona, mas em todos os países da União Européia; o leste também está indo bem. O índice de confiança dos europeus, 119 pontos, é o melhor desde 2001 quando ocorreu o ataque terrorista às torres.

A França de Sarkozy ri à solta. Registrou em abril o menor nível de desemprego em 23 anos, apenas 8,2%. E os seus parcimoniosos consumidores, sempre apegados à bolsa, estão mostrando novo empenho em comprar mais, seguindo outros países comunitários, como a Inglaterra e a Alemanha. E, para coroar, a inflação comunitária recuou para apenas 1,9%, na linha fixada pelo banco central europeu.

A ÁSIA, ORA, A ÁSIA...

Na Ásia, tudo também é festa. A China continua crescendo em torno de 10,9%, acumulando superávits comerciais e em conta corrente e financiando o mundo com suas reservas de US$1.3 trilhão. Mas não é só a China. Também as Filipinas, a Malásia, a Índia. Isso tudo no leste asiático emergente.

Só fica ainda de fora o Japão, lento e pesado, que, no dizer do colega David Philling, do Financial Time, “se move para trás”, apesar do seu juro negativo.

Os japoneses não consomem. Guardam tudo que ganham sem saber bem por quê.

É A HORA E A VEZ DO BRASIL!

E nós? Vamos indo, vamos indo. Caminhamos nos passos do presente, pois estamos atrasados, mas sem olhar para o futuro, que, para nós, é amanhã. Os investimentos externos diretos estão voltando. Mas, aqui, o grande risco, o grande alerta: não estamos aplicando em obras de infra-estrutura vitais para sustentar um PIB de 5% nos próximos quatro anos.

Neste cenário festivo da economia mundial, quando todos crescem, consistentes - vamos esquecer um pouco a China -, cabe ao atual governo investir nos setores vitais e pensar em reduzir a imensa carga tributária que inibe a produção do setor privado.

NÃO É SÓ JURO E CÂMBIO

Muitos economistas afirmam que é suficiente desvalorizar o real e a taxa de juros. Não é mais. Hoje, mesmo que isso ocorra, será ainda pouco. É preciso, sim, reduzir a carga tributária de 38% de fato, a burocracia. Reduzir o tamanho de um Estado grande demais para uma economia por demais pequena.

Mas não é isso que estamos vendo. Na coluna de sexta-feira da colega Sonia Racy, o especialista em contas públicas Raul Velloso mostra que em abril “a receita do governo federal estava crescendo 13,3% mas as despesas seguiam o mesmo ritmo, 12,9%”.

Mas pode ser que esses números reflitam maior investimento! Seria bom, mas não é assim. E ele continua mostrando que, acreditem, “os gastos de pessoal fecharam acima de 12%”. E os investimentos em transporte, que significam quase a totalidade dos investimentos programados pela União, não chegam a 4%! Dá? Não, não dá. O PAC parou.

O presidente se irrita, protesta, chama à fala os ministros, mas são tantos ministros, mais de trinta, que ele nem sabe bem de quem cobrar...

Com todo esse gasto, dá para cortar impostos e estimular a produção? Não dá. O que pode acontecer é um aumento da carga tributária para financiar um governo perdulário.

É urgente que o Brasil aproveite este raro momento de euforia e reequilíbrio na economia mundial para fazer as reformas que precisam ser feitas.

A palavra de ordem é investir, investir, investir cada vez mais naqueles setores abandonados dos quais depende o crescimento da economia nacional. É hora de plantar para colher depois. E não estamos plantando nada. Estamos crescendo apenas sob o influxo dinâmico e alegre da economia mundial.

Mas, até quando? Presidente, atente logo para este desafio que se arrasta por mais de 20 anos. Temos pressa, porque ninguém sabe quanto vai durar esse mar sem ondas da economia mundial. Pressa, presidente, muita pressa.

*E-mail: at@attglobal.net

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