Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 13, 2007

Velhas raposas estão de volta

O esquema está operante"

Deputados do PP e mensaleiros se assanham
com a candidatura do petista Arlindo Chinaglia


Otávio Cabral

Dida Sampaio/AE
Paulo Maluf chega ao Planalto: o ex-prefeito de SP saiu da cadeia para a base de apoio de Lula


Não é por acaso que a confraria que partilha cargos e verbas públicas aparece no epicentro de todos os escândalos de corrupção. Em uma eleição, seja para a Presidência da República, seja para síndico de prédio, podem-se discutir idéias e projetos ou interesses e conveniências. Na semana passada, o petista Arlindo Chinaglia se transformou em franco favorito. Não se sabe precisamente as idéias que ele tem para implementar reforma política ou a postura que pretende assumir diante do Executivo. Mas a atuação de seus auxiliares e da máquina do governo não deixa margem para dúvidas sobre os interesses que ele representa. Além do apoio do PT, do PMDB e de uma parte dos tucanos, na semana passada também o PP, um superabrigo de mensaleiros, fechou com a candidatura petista. Antes de anunciar o apoio formal, porém, era necessário resolver um pequeno problema. O deputado Ciro Nogueira, do PP, é coordenador da campanha de Aldo Rebelo. Na tentativa de convencer o colega a trair Aldo, o deputado João Pizzolatti, do PP de Santa Catarina, usou um argumento poderoso e assustador: "O esquema está operante de novo", anunciou empolgado o parlamentar. Estavam presentes à reunião, além de Ciro e Pizzolatti, os deputados Mário Negromonte e Pedro Corrêa, cassado no escândalo do mensalão.

Como ninguém perguntou a que esquema Pizzolatti estava se referindo, é óbvia a conclusão de que todos sabiam do que se tratava. Procurado por VEJA, Pizzolatti confirmou o encontro em sua casa, mas negou que a tentativa de convencer Ciro Nogueira a mudar de lado tenha passado pela citação de algum esquema. "Foi uma conversa com argumentos políticos", resume. João Pizzolatti mora no apartamento funcional que antes era ocupado pelo deputado José Janene, que escapou da cassação, mas foi apontado como um dos líderes do esquema do mensalão. O apartamento era conhecido como "pensão" e, segundo a CPI dos Correios, usado por Janene para repassar o dinheiro recebido do esquema Marcos Valério para os deputados do partido. Como se vê, o PP, que na próxima legislatura terá o ex-prefeito Paulo Maluf como estrela de primeira grandeza, gosta de esquemas. E, seja lá qual deles estiver operando de novo, coisa boa não deve ser. "Parece que estamos assistindo a um filme repetido", diz a deputada Luiza Erundina, do PSB de São Paulo.

João Souza /AE
Dirceu: apoio a Chinaglia para colocar em votação projeto que o anistia

O empenho do governo em eleger um petista na Câmara tem ressuscitado práticas antigas que, mesmo podendo ser consideradas legítimas, se revelam grotescas pela desfaçatez. Em busca de apoio, o governo sempre acena com a possibilidade de liberação de dinheiro das emendas parlamentares. Na terça-feira passada, dia em que o PMDB resolveu apoiar Chinaglia, ao menos cinco deputados do partido estiveram no Palácio do Planalto e saíram de lá satisfeitos com a celeridade na liberação do dinheiro para obras em sua base eleitoral. Entre eles estavam André Zacharow, do Paraná (1,1 milhão de reais), o gaúcho Darcísio Perondi (1,75 milhão de reais) e o fluminense Eduardo Cunha (1,1 milhão de reais). Muitos dos deputados que vão eleger o presidente da Câmara, porém, só tomam posse no mês que vem. Portanto, não podem ser cooptados com esse tipo de oferta. Problema? Não. O governo criou o "vale-emendas", uma espécie de mercado futuro de liberações. O parlamentar que votar em Arlindo Chinaglia vai poder apresentar emendas para o orçamento de 2008, com a inédita garantia de que será atendido. As negociações de emendas são todas feitas por Marcos de Castro Lima, subchefe de assuntos parlamentares da Presidência da República, cargo ocupado no início do governo por Waldomiro Diniz, aquele que pedia 1% de propina aos empresários.

Daniel Ferreira/AE
Dirceu: apoio a Chinaglia para colocar em votação projeto que o anistia

Há outras figuras sombrias torcendo e trabalhando pela eleição de Arlindo Chinaglia. O ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que teve o mandato cassado e foi apontado como chefe da quadrilha dos mensaleiros, deixou de lado suas atividades de consultor privado e mergulhou na campanha petista. Duas semanas atrás, ele teve um encontro sigiloso com Tarso Genro, no qual firmaram um pacto de convivência. Embora não se suportem, concordam que o melhor para ambos é o fortalecimento do PT, e a presidência da Câmara é fundamental para a concretização desse objetivo. Dirceu tem dado entrevistas, posto diariamente textos em seu blog, mas seus interesses são menos magnânimos. O ex-deputado está obstinado com a possibilidade de ser perdoado. Ele quer conseguir 1 milhão de assinaturas para entrar no Congresso com um projeto popular de anistia política. Conta para isso com a máquina do PT para coletar adesões e com a boa vontade do amigo Chinaglia, que já avisou que, se eleito, põe o projeto em votação. Mesma pretensão ainda tem Roberto Jefferson, que também terá o apoio de Chinaglia, desde que o PTB o ajude a ser eleito, é claro.

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