Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, janeiro 01, 2007

RICARDO NOBLAT Ecce Homo

"Eu duvido, desde o dia em que o Brasil foi
descoberto, que alguém em um governo
tenha cuidado mais dos pobres do que eu"

Ecce Homo

Parece de esquerda, mas não é. Por formação e conveniência, é um político conservador, sempre aplicado em evitar rupturas. No trato com os auxiliares,usa e abusa de palavrões e dá bronca com facilidade.
Manda mais do que se percebe cá fora. E só tem um objetivo: passar à História como o presidente que mais fez pelo povão a quem tudo deve.

Será como ele quer
Em meados de dezembro último, durante jantar com um grupo de empresários em São Paulo, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, pediu calma
aos que cobravam medidas drásticas para reduzir os gastos diretos do governo,
e ensinou: “Vocês precisam entender o presidente. Vejam a trajetória dele. E vejam a quem ele deve sua reeleição.
A obsessão de Lula é pelos pobres. Entre fazer o país crescer mais rápido e distribuir renda, ele distribuirá renda. Está certo?
Não importa. É assim que será se depender dele. E, em nosso país, um presidente pode muito”.

Sem dividir o poder
No princípio eram Lula,José Dirceu e Palocci. Emais Luiz Gushiken, que
cuidava de propaganda, e Luiz Dulci, da “articulação com a sociedade”. Restaram Lula e Dulci. Aos parceiros,Lula avisou no dia seguinte à eleição de 2002:
“Só quem teve votos fui eu”.
Mas deixou que agissem como se fossem seus sócios.Depois da reeleição, não tem mais para ninguém.
FHC é “sissi” — ele se acha.
Lula é “tassi” — está seachando. Antecipou aos presidentes de partidosque reuniu no início de dezembro:
“No primeiro governo,a coordenação política foi privatizada. Agora, estatizei”. Estatizou tudo. E escalou Dilma Rousseff para ser seu cão de guarda.

A largada foi dada
O segundo governo Lula começou 48 horas depois do segundo turno da eleição passada — e tem muita gente que ainda não se deu conta.
De lá para cá tem havido longas reuniões semanais para descobrir o que entrava o crescimento do país e montar uma agenda de ações. Lula não tem pressa para formar o novo Ministério.
É o senhor do tempo.
Primeiro informará aos brasileiros o que pretende fazer.
Depois chamará os partidos e dirá: “Quem concordar com esse plano de vôo governará
comigo”. Os que responderem “ok” indicarãoministros. E não terão desculpa no Congresso para negar votos ao governo.

Pelo centro-direita
Em meados de 1979, deposto da presidência do Sindicato dos Metalúrgicos
de São Bernardo por ato do regime militar, Lula encomendou a Frei Betto umaapostila sobre a esquerda.
Pouco sabia a respeito dela.
Entregue a encomenda, Betto esperou 20 dias e procurou Lula em sua casa. “E aí,leu?” — perguntou. “Claro”,respondeu Lula. Que em seguida apelou para a mulher:
“Marisa, cadê a apostila?”.
Páginas da apostila foram encontradas depois forrandoo chão da casinha do cachorro.
“Sempre que segui os conselhos da esquerda me dei mal”, admitiu Lula em reunião do Ministério em 2003.

O que ele detesta
Pela ordem: trapalhadas do PT; vazamento de informações; brigas entre seus auxiliares; e conferir que o que pediu não foi feito.
Quer distância de jornalistas.
Não confia neles. Gosta mais de publicidade do que de notícia — salvo notícia afavor. Assimila a crítica políticasem se abalar. Masnão perdoa a crítica pessoal.
Tachar seu governo de incompetente pode. Tachálo de incompetente, não. Jamais.
É por isso que ele quer ver FHC pelas costas.
E também a turma da revista“Veja”.

A hora da princesa
Esse Lula que fala pelos cotovelos é só para consumo externo. Em reuniões
com ministros e políticos,ele fala pouco. Se um assunto divide os auxiliares, pede tempo e decide sozinho.
Mas é capaz de contrariar a maioria deles. Fez isso quando conferiu à China status de economia de mercado.
Na rotina do governo, só relaxa depois do almoço.
É a “hora da princesa”, assim batizada pelos que ocercam. Dura algo como 40
minutos. É quando recebe em seu gabinete pessoas comuns que querem apenas cumprimentá-lo e posar com ele para fotos.

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