Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Feliz Ano Novo (Por Lucia Hippolito)


Meu amigo Noblat estréia em casa nova e me pede para escrever um artigo sobre as expectativas para 2007.


Nunca fui muito boa nisso – sou como aquele jogador de futebol que só fazia prognósticos depois do jogo. Mas posso arriscar alguma futurologia, a partir do que aconteceu na vida política do país em 2006.


Por isso, como ensina a boa lógica, primeiro a retrospectiva, e só depois os prognósticos.


Em matéria de grandes emoções, o ano eleitoral de 2006 foi dos mais decepcionantes das últimas décadas. Talvez porque, desde 1989, na primeira eleição pós-redemocratização, o país não sofreu o risco-Lula.


Resultado: as eleições foram tranqüilas, o risco-país atingiu seu patamar mais baixo dos últimos tempos, a inflação se manteve controlada, o dólar não parou de cair.


Em compensação, o mercado – este senhor nervoso e temperamental – teve resultados mais do que exuberantes em 2006. Tudo isto em razão da ausência do risco-Lula.


Lula sai do primeiro mandato com popularidade nas alturas e um governo muito bem avaliado. Sai também mais maduro, compreendendo que precisa cuidar pessoalmente da articulação política com os partidos da base aliada, para evitar tentações mensaleiras.


Dá muito mais trabalho, mas os resultados são mais edificantes, digamos.


Como resultado do quadro eleitoral fortemente positivo, Lula vai montando seu ministério sem pressa. Não precisa trocar nenhum ministro, já que foi reeleito e seu governo aprovado pelas pesquisas. Mas há ministros que querem sair – e novos sócios da aliança que estão loucos para entrar.


Por isso, o presidente vai cozinhando as vaidades em fogo brando. Gente que já estava desfilando com cara de ministro, guardou o “carão” em casa e passou a sair com cara de paisagem. Segundo Lula, o nome que aparecer na imprensa será rifado. A vida é dura.


Quanto ao Congresso, tem todas as razões para virar rapidinho a página de 2006 e esquecer que este ano existiu. Rescaldo do mensalão, máfia das sanguessugas, perda total da iniciativa legislativa, produção medíocre, comportamento ético mais do que lamentável.


Sem favor nenhum, a pior legislatura da história do parlamento brasileiro.

O partido do governo perdeu o encanto com que subiu ao poder em 2003. Atolou-se no mensalão, atirou-se com uma fome insuspeitada ao aparelhamento da máquina pública, e fechou o ano com o episódio criminoso da tentativa de compra de dossiê contra os tucanos.


Pagou o preço da perda do capital ético, do diferencial em relação aos outros. Hoje o PT é um partido como outro qualquer: fisiológico, clientelista, dependente dos recursos da máquina pública. Se tiver aprendido a lição, o partido poderá emergir disso tudo como um ator político mais maduro.


A oposição, por sua vez, passou quatro anos atrás de um discurso – e ainda não encontrou. Perdeu a bandeira da estabilidade econômica para Lula e não construiu nada para pôr no lugar. Enquanto pefelistas encolhem de tamanho e se lançam a uma oposição muitas vezes equivocada – até por falta de hábito –, tucanos debatem-se em dúvidas existenciais do tipo “somos-ou-não-somos-a-favor-da-privatização?”.


Fala sério! Se quiser se apresentar como alternativa de poder para daqui a quatro anos, a oposição precisa correr atrás do prejuízo e construir um programa sólido, consistente que realmente atraia a população para a alternância de poder.


Com tudo isto, há espaço para algum otimismo em 2007? Sim, um otimismo cauteloso.


Lula não tem mais à disposição os nomes com que contava em 2003 para montar o ministério. A maioria de seus companheiros de 30 anos está às voltas com a justiça e o Ministério Público. Talvez por isso o presidente poderá ter um ministério composto de mais nomes técnicos do que em 2003, alguns políticos, sobretudo dos partidos aliados, e alguma troca de cadeiras, isto é, ministros antigos em pastas novas.


O peso de cada partido da aliança na máquina pública deverá ser diferente do primeiro mandato, em que o PT apropriou-se de mais de 80% dos cargos públicos. Um governo de coalizão digno do nome não pode conviver com tamanha hegemonia, sob pena de a coalizão acabar antes de começar.


A base governista, por sua vez, é mais sólida do que em 2003, muito em razão da presença do PMDB desde o primeiro momento. Se considerarmos os nove partidos da aliança atual, Lula contará com uma base de mais de 330 deputados.


Mesmo levando-se em conta a inexistência de fidelidade partidária, reformas tributária e trabalhista, prorrogação da CPMF e da DRU, lei das agências reguladoras, tudo isto tem todas as condições de ser aprovado sem que se recorra a expedientes como o mensalão.


Dá para exercitar um otimismo cauteloso, não é mesmo?


Feliz Ano Novo!

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