Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 06, 2007

Os gastos do governo do Acre com Amazônia

Bolsa-minissérie

A Globo teve o apoio de 1,6 milhão de reais
do governo acreano para gravar Amazônia


Marcelo Marthe

Divulgação
José Wilker (à dir.), como Galvez: ele não é a cara do ex-governador?



A minissérie Amazônia, que estreou na última terça-feira, é uma superprodução. A Globo investiu 20 milhões de reais na epopéia que acompanha a história do Acre do fim do século XIX aos anos 1980. A esse valor se soma 1,6 milhão de reais injetados por outro interessado: o governo acreano. Convencido de que uma produção nesses moldes enaltece o estado, o ex-governador petista Jorge Viana começou a articular a realização da "minissérie do Acre" em 2001, com a Globo e a autora Glória Perez, ela mesma acreana. Viana, que ocupou o poder até o fim de 2006, não mediu esforços para concretizar seu projeto. Ganhou até o apelido de "Jorge Galvez" – referência ao aventureiro retratado na primeira fase da trama. "Se dependesse do ex-governador, o papel de Galvez seria dele, e não de José Wilker", cutuca um opositor. Se o entusiasmo de Viana por Amazônia raiou à obsessão, segundo alguns, o fato é que sua disposição em dar apoio à série não tem nada de inédita. Receber uma equipe da Globo é sonho de políticos de muitos estados, pela publicidade e outros dividendos que a exposição pode trazer à região. Sem falar naquele gostinho de conviver com as celebridades da TV.

A presença de uma equipe de gravação da Globo provoca uma revolução em qualquer lugar. E, à exceção do que acontece com os moradores do bairro carioca do Leblon, que não agüentam mais topar com gravações de novela em sua vizinhança, essa revolução é bem-vinda. Ao menos em tese, o local brindado com ela ganha antes e depois. Antes, porque a estrutura da Globo anima a economia regional. Amazônia mobilizou mais de 200 atores (ou metade do elenco da rede). Foram enviados ao Acre, no total, 150 profissionais. Toda essa gente badalou na capital, Rio Branco. "Quando os famosos apareciam nos cafés, todo mundo corria para ficar perto deles", diz Jackie Pinheiro, colunista do jornal A Gazeta – que, aliás, deu um jeito de fazer figuração na série. O ganho a longo prazo é de imagem: a veiculação na TV ajudaria a atrair turistas e empreendimentos. Três anos atrás, o Maranhão gastou cerca de 3 milhões de reais para ter suas dunas mostradas na novela Da Cor do Pecado. Para as autoridades do estado na época, compensou. "Nunca mais os réveillons nos Lençóis Maranhenses foram os mesmos: agora tem gente saindo pelo ladrão", diz Sérgio Macêdo, secretário estadual de Comunicação no período.

No caso do Acre, chama atenção que se dê prioridade a esse tipo de publicidade num estado tão carente. O governo petista gastou cerca de 600.000 reais para bancar a hospedagem e a alimentação da equipe da Globo – a despesa foi justificada numa licitação como sendo para "intercâmbio cultural". O restante foi consumido nas duas cidades cenográficas, que serão transformadas em museus. "Não faremos como o governo de Rondônia, que construiu cenários para a Globo e depois destruiu tudo", diz o secretário de Comunicação, Anibal Diniz, em alusão à estrutura montada no estado vizinho para a série Mad Maria, em 2005. O reaproveitamento dos cenários pode até ser um sinal de que o gasto não foi fútil. Mais duvidosas, ao menos por enquanto, são as vantagens que Amazônia possa trazer em turismo. Nos primeiros capítulos, a série pintou o Acre como o fim do mundo. E olha que Glória Perez é de lá.


Fotos divulgação e Rafael Campos

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