Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 13, 2007

O amargo dilema de Bush

Decisões amargas

Bush admite erros no Iraque,
mas, entre o ruim e o pior, decide
enviar mais tropas


Diogo Schelp

Jim Bourg/Reuters
Bush: lágrimas em homenagem a soldado morto

O que faz o presidente americano George W. Bush quando admite que errou? Certamente não vai acatar os conselhos de quem o criticou ou o desejo da esmagadora maioria de seus eleitores. Na semana passada, Bush anunciou que pretende aumentar o contingente de soldados americanos no Iraque dos 130.000 atuais para 150.000. Antes, reconheceu que sua administração cometeu erros na ocupação do país do Oriente Médio. E que erros. O Iraque consumiu 300 bilhões de dólares do dinheiro do Tesouro americano, e mais de 50.000 civis iraquianos e 3.000 soldados americanos já morreram, enquanto a violência sectária apenas aumenta. Mas, não obstante 70% dos americanos serem contra o envio de mais tropas ao Iraque e um grupo de estudos bipartidário ter recomendado a retirada gradual das forças de ocupação, Bush, contra tudo e contra todos, decidiu que é preciso intensificar os esforços militares antes de deixar tudo na mão dos iraquianos. A alternativa, preparar um cronograma para a retirada, certamente levaria o Iraque a uma guerra civil de proporções ainda maiores do que a já existente.

Na verdade, Bush não tem uma opção real. Seu erro, ele admite, foi invadir o Iraque com poucos soldados, obedecendo à tese dominante então no Pentágono de que valia mais o poder tecnológico que a quantidade de tropas. Não houve jeito de controlar o Iraque com contingente tão escasso. Há um cheiro ruim da estratégia que não deu certo no Vietnã, nos anos 60. Dois presidentes, Lyndon Johnson e, depois, Richard Nixon, implantaram a política de vietnamização, que consistia em transferir gradualmente às forças sul-vietnamitas a responsabilidade pelos combates. Para isso, era preciso aumentar o envolvimento americano na guerra para preparar o terreno para que o exército sul-vietnamita pudesse se virar sozinho contra os comunistas. Não deu certo. O plano de Bush segue o mesmo princípio. Os 20.000 soldados americanos adicionais terão a missão de limpar os bairros de Bagdá de insurgentes, dando condições às forças iraquianas para que assumam o controle dessas áreas. Só então se pensará em retirada. Bush, portanto, ainda acha que pode ganhar a guerra. Ele tem a seu favor o fato de que, apesar da oposição interna ao conflito, os soldados americanos que voltam são recebidos como heróis, e não escorraçados como durante a Guerra do Vietnã.

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