O mundo da energia está em ebulição. Todo dia tem novidade. Esta semana, a Câmara dos Deputados americana aprovou um conjunto de leis que reduzem o subsídio ao petróleo e redirecionam recursos para fontes renováveis. O World Energy Outlook, cenário da Agência Internacional de Energia, tem dois dados que chamam a atenção: o tamanho do Iraque, um país em dissolução, no fornecimento de petróleo; e o tamanho do Brasil no uso dos biocombustíveis.
O Brasil e o mundo terão muito o que fazer nos próximos anos para mudar o quadro energético diante de várias barreiras: uma delas é a ambiental. Mas o biocombustível não é solução mágica; pode ser até mais uma fonte de pressão sobre o meio ambiente. Já o petróleo será uma fonte declinante.
Não apenas porque os estoques são finitos, mas porque os fornecedores podem ser ainda mais instáveis. O Iraque, nas projeções da AIE, é o segundo maior produtor da Opep; e continuará sendo.
A dúvida é como um país sustenta essa posição à beira de uma guerra civil? “A segurança do fornecimento de petróleo está ameaçada”, diz a Agência. Por dois fortes motivos: a produção dos países produtores não-Opep bateu no teto, chegou no seu limite; a produção está se concentrando num número menor de países.
Num cenário alternativo, tentando imaginar o melhor futuro energético, a Agência prevê que a demanda por petróleo pode cair até 13 milhões de barris/dia em 2030, o que é a produção atual da Arábia Saudita e do Irã juntos. Em 2015, já se estaria poupando o uso de 5 milhões de barris/dia. Isso poderia reduzir as emissões de carbono do planeta num volume equivalente ao total que é emitido hoje pelos Estados Unidos e Canadá.
As projeções do uso dos biocombustíveis no transporte rodoviário, feitas pela Agência, mostram que o Brasil é — e continuará sendo — o pioneiro. Nem em 2030, nem no melhor cenário, os Estados Unidos e a Europa vão chegar ao tamanho que o produto tem hoje no mercado brasileiro. As projeções da Agência mostram a força do pioneirismo do Brasil nessa área. Hoje, o biocombustível é cerca de 14% do consumo e, em 2030, pode ser 30%. Os Estados Unidos têm planos de, até 2010, metade dos postos oferecerem uma mistura de 85% de etanol na gasolina — o E85. Para isso, a indústria automobilística teria que aumentar a oferta de carros flexfuel. No Brasil, hoje, os carros flexfuel podem usar até 100% de álcool e quase todos os postos oferecem o produto. Somos pioneiros no uso e país com mais possibilidades de ser um grande produtor.
A conversão nos outros mercados ao uso de combustíveis menos poluentes, entre eles os com matériaprima vegetal, vai se intensificar.
A Europa examinará, em março, uma proposta para reduzir ainda mais as emissões de gases de efeito estufa, que inclui o aumento do consumo de etanol.
Os Estados Unidos estão investindo pesado na produção de etanol para misturar à gasolina. Até pouco tempo, eles usavam o poluente MTBE. Estão agora produzindo álcool do milho.
Neste ponto, há um constrangimento: aumentar a plantação para a produção de combustível afeta a produção de alimentos. O Brasil tem área disponível, mas é menos do que se imagina, e o país precisa estabelecer parâmetros e estratégia para o crescimento dessa produção. O ideal seria converter as áreas já desmatadas e degradadas em área de produção de cana para álcool e de soja (ou outras matériasprimas) para o biodiesel, impedindo qualquer novo avanço da plantação sobre a floresta. Do contrário, teremos o pior dos mundos: um produto, que veio para resolver um problema, acabar o aprofundando.
Pela lei, no ano que vem, no Brasil, o diesel mineral terá que ter uma mistura de 2% de biodiesel. Em 2013, a mistura terá que ser 5%, mas o embaixador Jório Dauster, presidente do conselho da Brasil Ecodiesel, maior produtora de biodiesel do país, acha que essa proporção pode até ser antecipada. O diesel 100% vegetal reduz em 70% as emissões de carbono na atmosfera.
— Em 2008, só nós, teremos capacidade de produção de 800 mil m³ de biodiesel, o que já dá os 2% compulsórios. É bom que se aumente a mistura, pois o país importa US$ 1,3 bilhão só de diesel. O Brasil tem tudo para ser dos maiores.
Hoje, Indonésia e Malásia, que produzem também, fazem isso destruindo a floresta — denuncia Jório.
Biodiesel pode ser feito de qualquer oleaginosa: soja, amendoim, algodão, girassol, palmeira, mamona, dendê e pinhão manso. No mundo, atualmente, soja e palma são as matérias-primas mais utilizadas; se a soja continuar sendo usada em larga escala também com fins energéticos (além dos de alimentação), pode não haver produto, nem terra suficientes.
— É a competição da energia com a alimentação.
Queremos escapar dessa armadilha, então estamos investindo na mamona e no pinhão manso, ambos tóxicos para a alimentação do ser humano. Eles têm também a vantagem de poder ser plantados em solo pobre e com pouca chuva, como o semiaacute;rido nordestino; e as usinas trabalham com qualquer matéria-prima.
Em 2005, 90% da nossa produção vinha da soja; queremos que sejam 20% em 2008 — diz Jório.
Hoje a demanda por biodiesel na Europa é de cerca de 7 milhões de m³. Até 2010, dobra. No mundo, nesse mesmo ano, a demanda deve ser de 20 milhões de m³. A produção hoje no Velho Continente é de 5 milhões de m³, bem maior que a brasileira. Lá, eles usam a canola. Segundo um relatório do Banco Fator, vem da Alemanha mais da metade do biodiesel europeu.
O que se pode prever para o mercado de energia, e de biocombustível, em particular, é que ele continuará em ebulição nos próximos anos.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2007
(5161)
-
▼
janeiro
(447)
- Diálogos & dialéticas Roberto DaMatta
- FERNANDO RODRIGUES Lula 2.0
- CLÓVIS ROSSI Fim da história, de novo?
- Míriam Leitão - Destravar usinas
- Merval Pereira - Milho para as galinhas
- Dora Kramer - Vitória pírrica
- AUGUSTO NUNES O dinheiro foi para o buraco
- Opinião: A anistia que não deu certo Jarbas Passar...
- Dora Kramer - Conflito permanente
- Os crediários de Lula 1 - Vinícius Torres Freire
- O mundo começou e acabará sem o homem- Gilberto Dupas
- Médicos em emergência
- Clóvis Rossi - O fantasma do cassino
- Decisão temerosa- Ives Gandra da Silva Martins
- Jogo de palavras
- Luiz Garcia - Só para os outros
- Merval Pereira - Vitória política
- Míriam Leitão - Não adianta negar
- De novo, Angra 3 LAURA CAPRIGLIONE
- LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA Globalização comercial...
- FERNANDO RODRIGUES Razão e acomodação
- O contribuinte que se prepare
- Nivelando por baixo- Marcelo de Paiva Abreu
- Nem vai nem racha- Fernando de Barros e Silva
- Decadência sem elegância- Mário Magalhães
- Aliança perigosa
- A tentação chavista - Fábio Ulhoa Coelho
- PAC não ataca questão fiscal, diz Pastore
- Entrevista // Yeda Crusius
- LULA PERSEGUE NOVA REELEIÇÃO: AS PROVAS por Paulo ...
- AUGUSTO NUNES A CAPITULAÇÃO DOS FLAGELADOS
- AUGUSTO NUNES SETE DIAS JB
- FERREIRA GULLAR Pânico no jardim
- JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN Lula 2 x Lula 1
- PLÍNIO FRAGA Afeto que se encerra
- VALDO CRUZ Em nome de quem?
- CLÓVIS ROSSI -Moisés e as reformas
- MIRIAN LEITÂO Dois pontos
- MERVAL PEREIRA Reformas necessárias
- A 'quarentena' remunerada
- A agonia do Fórum Social Mundial
- As águas de Tom Jobim Daniel Piza
- Alberto Tamer Relançar Doha é conversa fiada
- Mailson da Nóbrega O Mercosul de Lula e a União E...
- Mailson da Nóbrega O Mercosul de Lula e a União E...
- O PAC esqueceu os excluídos Suely Caldas
- Dora Kramer Campeões morais
- Gaudêncio Torquato Um eterno recomeço
- Paulo Renato Souza Semana decisiva para o Brasil
- FERNANDO RODRIGUES Universo paralelo
- CLÓVIS ROSSI As duas cruzadas
- Fugindo das bolas divididas Jorge J. Okubaro
- Tema descabido
- DORA KRAMER Sem reforma, sem mais nada
- Miriam Leitão Fios desencapados
- MERVAL PEREIRA -Falsa questão
- VEJA Carta ao leitor
- MILLÔR
- Diogo Mainardi
- Roberto Pompeu de Toledo
- Lya Luft
- VEJA Entrevista: Delfim Netto
- Pesquisa VEJA/Ibope: os políticos no fundo do poço
- Controladores de vôo planejam novo caos aéreo
- Os tucanos tentam livrar o estado da calamidade
- As fraudes com as urnas eletrônicas
- Pacote não melhora a economia
- Líbano Hezbollah empurra o país para a guerra civil
- Israel O presidente é acusado de assédio e estupro
- Venezuela Chávez rasga jornal brasileiro e é apl...
- Bolívia Uma Marinha fora d'água
- Ecstasy atrai jovens da classe média para o tráfico
- Clint Eastwood, o maior ícone vivo do cinema
- Winston Churchill, de Stuart Ball
- Um déficit da Previdência caiu Vinícius Torres Freire
- PT anuncia "reflexão" mas mantém tudo como antes
- O crescimento da economia- Luiz Carlos Mendonça de...
- Infeliz aniversário- Barbara Gancia
- Justiça para todos - Nelson Motta
- Economia mundial ajudou o Brasil
- Corrida pelo álcool
- Ai dos vencidos!- Aldo Pereira
- Clóvis Rossi - Onde é mesmo a selva?
- Dora Kramer - Saída (quase) à francesa
- Luiz Garcia - Saindo e não voltando
- Merval Pereira - Sem competitividade
- Míriam Leitão - Até que ponto?
- Valdo Cruz - Independência, jamais
- Serra e os juros: "O Brasil precisa redescobrir o ...
- VINICIUS TORRES FREIRE Riso e ranger de dentes pós...
- PLÍNIO FRAGA Postar é...
- To PIB or not to PIB MELCHIADES FILHO
- CLÓVIS ROSSI Não é ainda caso de suicídio
- Roberto Macedo PAC - micro sem macro
- Alberto Tamer Com ou sem o PAC o mundo é belo
- DORA KRAMER Um barco a vagar
- Cora Ronai Brasil, o país mais caro do mundo
- Miriam Leitão Erros nada originais
- DEMÉTRIO MAGNOLI Sindicato de deputados
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Os vinhos no Chile
-
▼
janeiro
(447)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA