O Globo |
3/1/2007 |
A posse dos governadores foi uma boa oportunidade para os brasileiros serem apresentados aos dois estilos de fazer oposição que seu maior partido, o PSDB, adotará neste segundo mandato de Lula. Potenciais candidatos à sucessão em 2010, os governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, apresentaram seus argumentos de maneiras bastante distintas, mas ambas firmes. Serra, mais objetivamente oposicionista, Aécio com um discurso marcado pela prudência, mas sem deixar de marcar também uma posição independente. Serra deu um tom mais nacional a seu discurso de posse, jogando o peso de São Paulo na disputa. Aécio falou mais aos mineiros, colocando-se na disputa presidencial através de suas realizações, mas sobretudo pela importância histórica de seu estado. Os dois deram estocadas no governo federal, com linguagens diferentes. Sobre ética na política, o governador José Serra foi direto: "Outro mote fatalista e acomodador, até reacionário, é aquele que considera a desonestidade inerente à vida pública, ao garantir que o poder necessariamente corrompe os homens. Não é assim: são alguns homens que corrompem o poder; outros, pelo contrário, combatem a corrupção no poder." Já o governador Aécio Neves preferiu se utilizar da filosofia e da história de Minas para atingir os mesmos objetivos: "Tenho para mim que nenhuma definição do que seja a Política é melhor do que a de Aristóteles. (?) A Política é a mediação do equilíbrio entre iguais, o que a faz inseparável da Ética. Em seu incontestável raciocínio, a Política terá que ser Ética, ou não será Política; e a Ética necessita da administração política da sociedade, para que seu exercício encontre o apoio nas leis do Estado". O governador José Serra não teve receios de colocar claramente sua posição sobre o papel do governo, que lhe traz muitas críticas, a maioria das vezes por desconhecimento do que realmente pensa: "Defendo o ativismo governamental. O poderoso Estado Nacional Desenvolvimentista do passado - produtor, regulador de toda a atividade econômica, patrono de todos os benefícios sociais - não tem mais lugar no presente, mas isso não significa que deva ser substituído pelo Estado da pasmaceira, avesso à produção, estagnacionista." Na definição de Serra, "entre a estagnação e a estabilidade, o país parece ter preferido as duas. Em nome desta produz-se aquela; em nome da virtude, acabamos escolhendo o vício. (?) Um país que não cresce acaba não distribuindo renda, mas equalizando a pobreza. A economia da pobreza não pode ter como base a pobreza da economia. A falta de desenvolvimento pune os mais necessitados; torna-os clientela cativa do assistencialismo". O governador José Serra, sobre a relação com o governo federal, foi objetivo: "Como é evidente, à oposição cabe... se opor. Não a tudo e a todos, mas ao que, a seu juízo, atente contra o espírito das leis, contra os fundamentos do Estado e contra o interesse público. (?) Não fomos, não somos nem seremos adeptos do quanto pior melhor. Seremos oposição no plano federal justamente porque não somos iguais. Em suma: não esperem de mim o adesismo que não se respeita nem a agressão que não oferece respeito". O governador Aécio Neves mais uma vez utilizou-se da História para declarar sua independência política: "O sal de nosso batismo, como povo, teve o sabor da liberdade. Não fomos educados para a dócil aceitação do despotismo, mas, sim, instruídos, pelas vicissitudes, a encontrar a paz no diálogo entre iguais. Por isso, sempre nos rebelamos contra a opressão da Metrópole, e a ela nunca nos curvamos". Falou também sobre sua ação para reduzir a desigualdade em Minas, entrando na seara teoricamente dominada por Lula: "Diminuir a distância entre o governo e a população, através de um aumento significativo dos investimentos nas áreas essenciais: educação, saúde e segurança. Diminuir a distância entre as diversas regiões de Minas, estimulando o desenvolvimento de um Estado mais solidário. Diminuir as diferenças entre as pessoas, criando e democratizando as oportunidades. O PIB de Minas, em 2005, foi 4,7%, o dobro do obtido pelo Brasil. E alcançamos resultados emblemáticos no campo social". Aécio destacou também um de seus feitos, fazendo uma crítica indireta ao aumento de gastos do governo federal: "Com o "Choque de Gestão", foi possível reduzir as despesas com a máquina pública e dar prioridade à recuperação da nossa capacidade de investimentos. Gastar menos com o governo para gastar mais com a população foi o nosso lema". E, assumindo a defesa de estados e municípios, Aécio Neves deu o tom nacional ao seu discurso: "Não haverá crescimento verdadeiro; não haverá desenvolvimento consolidado; não haverá democracia plena enquanto não refundarmos a federação e os princípios norteadores da República brasileira". Serra respondeu às críticas sobre o domínio paulista na política: "São Paulo acolhe, não discrimina. São Paulo é o maior estado nordestino depois do Nordeste; São Paulo tem o maior número de sulistas depois do Sul; de nortistas depois do Norte; de mineiros depois de Minas; de brasileiros do vasto Brasil central depois do Centro-Oeste. A verdadeira identidade de São Paulo é a fraternidade brasileira". São dois estilos distintos de fazer política, dois estilos distintos de fazer oposição, até mesmo na retórica. Serra, apesar de mais velho, tem uma linguagem mais direta e objetiva. Aécio, talvez por ser muito jovem, imprime a seu discurso um tom mais solene. O estilo assertivo de Serra, que teve mais repercussão política, levará a que Aécio seja mais arrojado. A prudência de Aécio fará com que Serra seja mais cauteloso. Dois estilos que estarão disputando o mesmo espaço até 2010. Bom para o país. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, janeiro 03, 2007
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