Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 16, 2007

Luiz Garcia - Votar ou contar cabeças?



O Globo
16/1/2007

Toda facada dói. Pelas costas, dizem que muito mais.
Fernando Henrique Cardoso tem exercido até agora, comedido quando possível, enfático quando necessário, o papel de estadista mais velho do PSDB - tradução infeliz mas adequada, em sentido figurado, da expressão em inglês elder statesman.

Ele não merecia a rasteira do apoio de deputados de seu partido à candidatura do PT à presidência da Câmara. Aldo Rebelo, do quase fictício PCdoB, exerceu o cargo com honestidade e esforço para se manter acima dos partidos. Seu nome em momento algum foi associado à sucessão de escândalos que sujaram a imagem da bancada governista. O que se pode dizer de poucos.

O candidato petista, Arlindo Chinaglia, não tem má biografia, mas parece impossível esperar de sua gestão uma razoável medida de independência em relação ao Executivo: não existe adesão pela metade. Pelo retrospecto recente, não é bom negócio para a cúpula do Legislativa ficar atrelada a tudo que o Planalto põe e dispõe.

Aldo foi e pode voltar a ser um isento interlocutor do Executivo. Não é palpite esperançoso, mas previsão baseada no retrospecto.

Um pode lavar a roupa suja. O outro, a não ser que demonstre independência surpreendente, talvez apenas a esconda.

A decisão da bancada do PSDB, ainda não definitiva, pode atender a interesses dos governadores do partido interessados na próxima sucessão presidencial. É longo prazo que não acaba mais - e não parece compensar o enfraquecimento imediato da postura oposicionista.

Nem a falta de consulta a Fernando Henrique. Outro dia mesmo, ele disse a Aldo que não via possibilidade de a bancada do PSDB votar num candidato do maior adversário.

Não era palpite ou simples desejo: são palavras que soam simplesmente como conclusão racional, óbvia: o que se deveria esperar de um partido de oposição. Por acaso os peessedebistas esperavam outra atitude de seu guru? Quanto mais não seja, ficou no ar a impressão de que, em decisão de crucial importância, o nome mais respeitável do PSDB não foi consultado.

Apoiando Chinaglia, o partido receberia um prometido apoio petista nas assembléias legislativas de São Paulo e Minas. Se for só isso (há quem diga que há mais angu debaixo desse caroço), não parece ser bom negócio.

A não ser para quem ache interessante ganhar no nível estadual e perder no federal. Qualquer comerciante de esquina poderia ensinar ao PSDB que nunca vale a pena perder no atacado para ganhar no varejo.

Ainda há uma chance razoável de que o partido acabe mudando de rumo. O presidente Tasso Jereissati quer levar a pendenga para a executiva nacional, enquanto o líder da bancada, Jutahy Magalhães, diz que não abre mão da adesão ao candidato do PT. Alega que deve prevalecer o critério baseado no tamanho das bancadas.

Por quê? Se tudo dependesse de contar cabeças, nem se precisaria de eleição.

Arquivo do blog