Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 07, 2007

JANIO DE FREITAS Entre drama e tragédia

JANIO DE FREITAS


Favelas não são sinônimos de criminalidade. Mas o crime sem colarinho tem relação direta com a favelização

O COMPROMISSO PÚBLICO de enfrentar para vencer a criminalidade organizada em seus Estados, assumido pelos quatro governadores do Sudeste, é o mais difícil dentre os proclamados por todos os que iniciam novos governos pelo país afora, mesmo incluindo na lista as promessas mais mirabolantes.
Transpor os obstáculos para as ações eficazes contra o estado de violência é mais difícil do que repor a criminalidade em níveis, digamos, compreensíveis.
O primeiro dos obstáculos está no próprio motivo que permitiu, no correr de sucessivos mandatos de prefeitos e governadores, a multiplicação e o gigantismo de concentrações "urbanas" desprezadas, em todos os sentidos, pelo Estado e seus deveres.
A motivação inabalável para essa postura anti-social (senão criminosa) dos poderes públicos, apesar das conseqüências óbvias, cabe em duas palavras: interesse eleitoral.
Manifesto em duas vias: possíveis votos nas novas concentrações e, muito mais determinante, evitar manifestações eleitoralmente corrosivas, sempre intermediadas pela mídia, contra ações restritivas à formação e ao aumento incessante das aglomerações desgovernadas.
Favelas não são, por si mesmas, sinônimos de criminalidade. Muito mais que seculares, por longo tempo conviveram nas cidades brasileiras com a imagem, apenas, de mão-de-obra abundante e barata para classes indiferentes à desgraça alheia.
Mas a criminalidade sem colarinho tem relação direta com a favelização descomunal. As favelas densas são, para a bandidagem organizada em torno de armas e crimes, o que a floresta é para a guerrilha. Com uma vantagem incomparável: além da densidade de construções e esconderijos, a melhor proteção não é feita por troncos de árvores, mas por troncos humanos, desarmados, desprevenidos, inocentes no crime e na batalha que ocorra entre policiais e bandidos.
Daí provém o segundo obstáculo para a disposição de quebrar a criminalidade. O grau de violência da bandidagem sobe sem limite. Seu armamento é farto e atualizado. Combinação de violência e recursos que significa a impossibilidade de extingui-los com os métodos convencionais de ação policial. É uma realidade dramática que sugere tragédias, em caso dos enfrentamentos capazes de levar a restauração da segurança pública a níveis aceitáveis.
Por menos que se duvide das intenções de Sérgio Cabral, José Serra, Aécio Neves e do capixaba Paulo Hartung, é difícil imaginá-los dispostos a mais do que métodos convencionais contra a criminalidade sem colarinho e, adversário que lhes seria muito mais difícil e conseqüente, contra os movimentos de opinião que tanto são contra a criminalidade quanto se mostram contrários à polícia de combate. Hoje, parte dessa opinião já chega a recusar aos policiais, postos diante da metralha bandida, que se protejam com um carro-forte, o tal Caveirão, como se fossem candidatos a mártires por nada.
Há muito a discutir sobre esse tema. Só não é aconselhável que alguém se dê ao trabalho de refletir sobre o que cabe em tudo isso aos jornais, TV, rádios e revistas - aos jornalistas, em resumo. O risco de desalento total é muito grande.

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