Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 07, 2007

Entre o alarmismo e a esperança LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA




Há momentos em que a visão de um futuro mais próspero parece prevalecer. Em outros, o medo toma conta de corações e mentes


NOVO ANO , novas esperanças e novos medos. Há momentos em que a visão de um futuro mais próspero e mais livre, mais seguro e mais justo, que melhor respeite a natureza parece prevalecer, mas, em outros, o medo e o alarmismo tomam conta dos corações e das mentes.
De repente, anuncia-se que o mundo está para ser dominado por um novo inimigo: o perigo islâmico; ou nos dizem que os países pobres estão destruindo a economia dos países ricos e civilizados com sua mão-de-obra barata e seus recursos naturais abundantes; ou, ainda, que o problema está no desenvolvimento tecnológico e científico que produziu as armas nucleares que agora ameaçam o mundo; ou, finalmente, que o crescimento econômico está ameaçando a espécie humana de extinção.
Todos esses temores têm alguma base na realidade, mas são essencialmente equivocados.
Mesmo o último é discutível, embora o aquecimento global seja uma ameaça real -provavelmente a maior que a humanidade enfrenta. É discutível porque não existe contradição absoluta entre desenvolvimento econômico e proteção do ambiente. Existem conflitos, mas que são marginais: os custos econômicos para resolvê-los são muito menores do que, tanto os liberais radicais que não admitem regulação de suas atividades quanto os ambientalistas igualmente radicais que tudo subordinam à proteção da natureza, estão dispostos a admitir.
Os custos apenas se tornam altos quando se definem padrões extremos de não poluição; como os custos de não poluição somente crescem fortemente quando definimos esses padrões, proteger o ambiente de forma razoável é muito mais barato do que se pretende.
Não obstante, nós vivemos hoje sob o signo do medo, e não da esperança; sob o alarmismo dos que temem os movimentos islâmicos nacionalistas, a concorrência dos países em desenvolvimento, o holocausto nuclear, o aquecimento global.
E quais as soluções que nos oferecem para esses problemas? A repressão dos nacionalismos, a proibição da proliferação de armas nucleares sem que se destruam as armas existentes e a redução das taxas de crescimento dos países em desenvolvimento que ousam sair da pobreza.
De todos esses problemas, apenas um realmente me preocupa: o do aquecimento global. É evidente, entretanto, que não é paralisando o crescimento na China ou na Índia que se vai resolver o problema. Ainda que a emissão de gás carbônico esteja aumentando nesses países, a origem da mudança de clima está nos países ricos -particularmente nos Estados Unidos, país que é o grande poluidor, mas não assina o tratado de Kyoto.
O problema preocupa, mas não me alarma, porque, apesar da irracionalidade das ações humanas quando conflitos de interesses nacionais prevalecem, estou convencido de que a humanidade, embora não possua um Estado mundial que evite os "free riders", os caronas, está hoje suficientemente consciente de seus problemas para poder agir de forma coletiva.
A sociedade global já dispõe de informações e de mecanismos que lhe permitem coordenar de forma imperfeita, mas aceitável, seus cinco objetivos políticos: segurança, liberdade, bem-estar, justiça social e proteção do ambiente.
Como era de esperar, os países ricos usam de sua hegemonia ideológica para impor seus pontos de vista, mas seu alarmismo -para uso mais externo do que interno- merece cada vez menos credibilidade.
Os povos do Oriente Médio têm direito à autonomia nacional, os povos dos países pobres têm direito ao desenvolvimento e não há razão para impedir que alguns países se protejam nuclearmente se aqueles que os ameaçam não se desarmam.
Por outro lado, a possibilidade de uma ação coletiva razoavelmente equilibrada aumenta todos os dias na medida em que aumentam as comunicações, e os homens e as mulheres, em todas as partes do mundo, aumentam a sua capacidade de se informar e de manifestar suas opiniões.
Por isso, não estou pessimista. O medo é grande, o alarmismo é uma arma, mas a informação e a esperança são mais fortes.

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