Movimento de defesa da ética no Parlamento
indica o tucano Fruet à presidência da Câmara
Otávio Cabral
Dida Sampaio/AE |
Gustavo Fruet, no lançamento da candidatura: debate com os adversários |
O deputado Gustavo Fruet, do PSDB do Paraná, lançou na semana passada sua candidatura à presidência da Câmara. Fruet representa um grupo de parlamentares que se insurgiu contra o tradicional vale-tudo da política e se propôs a resgatar a imagem do Congresso Nacional. Embora entre na disputa a poucos dias da eleição, marcada para 1º de fevereiro, o deputado acredita que pode mudar o atual quadro em que o candidato petista Arlindo Chinaglia desponta como favorito. A candidatura de Fruet já gerou efeitos positivos. Nos últimos trinta dias, as discussões entre Chinaglia e Aldo Rebelo, do PCdoB, o outro postulante ao cargo, se limitavam a quem conseguia costurar acordos melhores, fossem eles à base de promessa de cargos e vantagens ou de monumentais aumentos salariais para os deputados. Fruet se dispõe a debater idéias. Seu primeiro ato, aliás, foi convidar os adversários para um confronto público. Outro efeito positivo da candidatura alternativa foi a suspensão da barganha de cargos no governo em troca de votos no plenário. Para cooptar apoio, o candidato petista estava negociando nomeações e liberação de emendas ao Orçamento. Ao perceber que a eleição não está definida, o presidente Lula mandou suspender as negociações.
Há receio no Planalto da reedição do que aconteceu dois anos atrás, quando dois petistas afinados com o governo – Luiz Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães – disputavam a presidência da Câmara nos moldes do que ocorre hoje entre Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia. A oposição decidiu lançar uma candidatura alternativa, a do deputado Severino Cavalcanti, que acabou eleito. Foi um desastre, como se sabe, mas a possibilidade existe e assusta os governistas. A diferença agora é que o candidato alternativo nada tem a ver com Severino Cavacanti. Gustavo Fruet, 43 anos, é quase um noviço na política. Vai assumir seu terceiro mandato. Foi eleito duas vezes pelo PMDB, mas trocou de partido por não concordar com a submissão ao governo. Advogado, teve uma atuação de destaque na CPI dos Correios, em que foi sub-relator da comissão de movimentação financeira, que descobriu as contas que abasteceram o duto de dinheiro que o petismo inventou para subornar deputados. "Sem ingenuidade, não se trata do bem contra o mal, dos éticos contra os não-éticos. É fugir do debate de quem é mais leal ou não ao governo, de quem vai dar o aumento maior", resume Fruet. Essa biografia lhe dá legitimidade para defender as propostas da terceira via e ganhar os votos dos deputados comprometidos com as mudanças no Legislativo. Por outro lado, afasta aquela multidão de parlamentares envolvidos em escândalos. "Deputado que participa de CPI não ganha eleição aqui dentro", avalia o deputado Sandro Mabel, do PL de Goiás, com a experiência de quem foi investigado pela CPI dos Correios e só escapou da cassação graças ao corporativismo dos colegas no plenário.
Sergio Lima/Folha Imagem |
Os sorridentes Chinaglia e Aldo: embate entre o fisiologismo e o corporativismo |