Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Eliane Cantanhede - E o FMI acabou no Irajá



Folha de S. Paulo
4/1/2007

Considerado desde Juscelino Kubitschek (às vezes de forma equivocada) como uma fera que devoraria as finanças nacionais e "deixaria o povo morrendo de fome", o FMI socorreu dezenas de países em crise ao longo de décadas e está se transformando num leão desdentado -e pobre. Ou melhor: com bom dinheiro em caixa, mas sem gerar renda.
Em interessante reportagem ontem, em "O Globo", o jornalista José Meirelles Passos relata como os funcionários do fundo foram todos serelepes para a "festa da firma" no final do ano, esperando os tradicionais lagosta, caviar, champanhe importada e orquestras hollywoodianas, mas tiveram que correr depois ao bar da esquina para encher a pança. A lagosta e o caviar viraram amendoim e azeitona.
E os funcionários ainda não viram nada. O FMI tem US$ 317 bilhões em caixa, fora reservas de US$ 61,9 bilhões em ouro, mas vive no dia-a-dia, digamos assim, com o que recebe de juros dos seus devedores. Só que esses devedores cansaram-se de pagar juros e estão quitando suas dívidas antecipadamente -como já fizeram nove deles, inclusive o Brasil, a Argentina e o Uruguai, só para ficar nos latino-americanos. A fonte de renda está secando.
Com ela, seca a champanhe e estão para secar também salários e benesses nada modestos que os diretores e funcionários do fundo recebem. O mesmo FMI que impõe arrochos fiscais draconianos aos países que financia, inclusive com cortes de salários e aposentadorias, é o que paga fortunas milionárias aos seus principais executivos e banca universidades para os filhos de até 24 anos dos seus funcionários. Caso típico de "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
Mas a moleza está acabando. Pelo que disse Meirelles em sua reportagem, o poderoso e rico FMI, quem diria?, vai trocando os camarões pelos espetinhos e corre o sério risco de... acabar no Irajá.

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