Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Clóvis Rossi - As Forças Armadas e suas guerras



Folha de S. Paulo
4/1/2007

O governador do Rio, Sérgio Cabral, pôs na roda um tema que é quase tabu no Brasil ao sugerir que as Forças Armadas sejam usadas no policiamento, ainda que lateralmente.
A cada vez que a questão surge, há um diálogo de surdos entre os que defendem a idéia e os que a torpedeiam, uns e outros com argumentos interessantes.
Como não há consenso, conviria pelo menos usar a sugestão de Cabral para discutir o papel das Forças Armadas no Brasil.
Afinal, a situação delas é um paradoxo. O país investe recursos nas Forças Armadas, mas parece escandalosamente óbvio que não é o suficiente para dotá-las de equipamento ou de treinamento para enfrentar exércitos de potências grandes ou médias.
O custo de prepará-las para essa hipótese é tamanho que nem adianta pensar nisso.
Como é insano supor uma guerra contra os vizinhos, resta aos militares a tarefa de vigiar as fronteiras, missão que tampouco está claramente estabelecida.
As fronteiras brasileiras estão entre as mais porosas do mundo, com tráfico intenso de drogas e armas.
Uma das causas da porosidade parece ser o excesso de instalações e recursos humanos militares concentradas em centros urbanos, longe das fronteiras.
Como drogas e armas são insumo básico para o crime organizado (chame-se de terrorismo ou não, o que não muda a natureza do problema), às Forças Armadas acaba restando o papel de espectadoras da guerra urbana, para a qual não são treinadas (nem desejadas, em alguns ou muitos círculos).
Enquanto isso, faltam policiais para patrulhar o que o governador do Rio chama de "áreas críticas" (raciocínio que se aplica a outros grandes centros, como é óbvio).
Não faz sentido, pois, restringir o debate só a "sim" ou "não" à presença militar na guerra urbana.

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