Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 07, 2007

ELIANE CANTANHÊDE "Parágrafo terceiro"

BRASÍLIA - Quando alguém diz que "está tudo pronto" para as Forças Armadas ou a Força Nacional (formada por policiais de elite de diferentes Estados) entrarem em ação, vem lá um oficial cricri e pergunta: "E o parágrafo terceiro?".
No jargão militar, o parágrafo primeiro é a situação geral; o segundo, informação e inteligência; o terceiro, a operação em si, as manobras. É passar da intenção à prática. Quantos homens? Atacar pelo flanco direito ou pelo esquerdo? Com que tipo de armamento? E quem (artilharia, engenharia, cavalaria...) faz o quê? Para oficiais, o "parágrafo terceiro" separa "brincadeira de criança da ação de gente grande".
É nessa fase que estão as negociações entre o Planalto e o governador Sérgio Cabral. Já decidiram o envio da Força Nacional para o Rio, com as Forças Armadas participando do comitê de gestão integrada e de ações de inteligência, por exemplo. Mas falta o "parágrafo terceiro": definir o emprego de tropas no patrulhamento ostensivo por tempo determinado. Aí complica.
Vai haver ainda uma série de reuniões, de divergências, de idas e vindas, de críticas da elite e de pedidos dos cidadãos para transformar a intenção em ação. Que depende, inclusive, de conceder legalmente poder de polícia às Forças Armadas e de estabelecer limites: onde, quem, quantos e como agir.
Engana-se quem acha que os militares estão loucos para invadir o Rio e praticar o que sempre treinaram e nunca usaram. Eles estão tão divididos quanto a opinião pública. Uns a favor, porque se trata de "segurança nacional". Outros contra, porque "não é função militar".
Quem vai resolver o impasse no governo, nas Forças Armadas e na sociedade é a própria situação, que o presidente da República chama de "terrorismo". É insuportável, alguma coisa tem de ser feita logo. E, se o Exército Brasileiro pode agir no Haiti, por que não aqui?

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