Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 07, 2007

CLÓVIS ROSSI De cortes e estadistas

De cortes e estadistas

SÃO PAULO - O propósito de cortar gastos parece ser o que une a grande maioria dos governadores recém-empossados e também o presidente da República.
Nada contra. Governo, no fundo, é como botequim ou como você e eu: o ideal é gastar apenas o que ganhamos mais o que temos de crédito, quando temos. Como raríssimas são as administrações brasileiras que têm crédito, resta-lhes gastar o que ganham e olhe lá.
Mas convenhamos que é muito pouco ter como prioridade de governo o corte de gastos. É fácil cortar gastos. Tranca-se o cofre e acabou-se. Claro que as conseqüências do trancamento podem ser dramáticas (e o Brasil vive um drama atrás do outro por falta de certo tipo de gasto). Mas o ato em si de cortar é banal.
Qualquer tecnocrata (com todo o respeito por eles) faz uma planilha bonitinha e corta os gastos. Estadistas são outro tipo de animal, em falta no mercado -e não só no mercado interno.
Estadista é o que consegue determinar, claro que com ajuda de uma equipe competente, como gastar bem e, também, como arrecadar bem. Todo mundo sabe que o sistema tributário brasileiro não é exatamente exemplar.
Em 1994, nas entrevistas (inescapáveis) que a Folha fez com os candidatos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, ambos puseram a reforma tributária como grande prioridade.
Uns oito anos depois, perguntei a FHC porque não a fizera. "É difícil", respondeu. Foi sincero, e até acho que Lula daria resposta idêntica. Mas estadistas são fabricados justamente para fazer o difícil.
Cortar gastos é o fácil. Mas alguém aí, mesmo os entusiastas do corte de gastos, acha que com ele e só com ele se ajeitam educação, saúde, estradas, portos, aeroportos, segurança pública e toda a vastíssima lista de etc. que você conhece tão bem quanto eu?

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