Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Clóvis Rossi - Sabedoria nada convencional




Folha de S. Paulo
3/1/2007

Obediente como sou às ordens do presidente Lula, apresso-me, tal como ele pediu no discurso de posse, em oferecer a ousadia de desafiar a sabedoria convencional e repassar novos pensamentos sobre temas tabus, capturados em fontes insuspeitas de simpatias pela heterodoxia.
Primeiro caso, controle de capitais, abominado pelo pensamento único. A revista "The Economist", a única com credenciais liberais absolutamente impecáveis, admitiu no fim do ano passado que a introdução de um "estrito controle de capitais" pela Malásia, "vista como heterodoxa à época", agora merece ao menos algum crédito por ter "ajudado na recuperação" do país (pós-crise asiática de 1997).
Já um editorial do "New York Times", que não é tão liberal mas tampouco chega a ser esquerdista, critica a reforma previdenciária chilena, feita pela ditadura Pinochet, e objeto de desejo de 11 de cada 10 liberais tupiniquins.
O jornal lembra que metade da força de trabalho chilena ou não participa do sistema privado ou não acumulou o suficiente para ter direito à aposentadoria mínima (equivalente a US$ 140).
Conclusão do jornal: "A primeira medida de sucesso de um sistema de aposentadoria não é quanto certos indivíduos conseguem acumular, mas se o sistema como um todo provê dignidade básica para todos. Por essa medida, o sistema privatizado chileno fracassou e a Seguridade Social foi bem-sucedida".
Podia acrescentar que a recuperação econômica da Argentina, pós-crise de 2001, varreu para o lixo todas as afirmações de que o calote (componente da recuperação, goste-se ou não dele) levaria o país que o pratica ao inferno para todo o sempre. Argumento falacioso, como cansei de escrever aqui e como a realidade o demonstra. Mas falar (bem) da Argentina deixou de ser ousadia e está começando a ficar convencional.

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