Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 02, 2007

Clóvis Rossi - Popularidade virtual



Folha de S. Paulo
2/1/2007

É bom deixar claro, de saída, que o pequeno público que foi a segunda posse de Luiz Inácio Lula da Silva não tem a ver com popularidade, prestígio, augúrio para o futuro etc. Tem muito mais a ver com o fato de se tratar de repeteco -e repetecos, em geral, causam pouco entusiasmo.
De todo modo, a ausência de público pode, sim, ter a ver com a análise de Isidoro Cheresky, professor de Teoria Política da Universidade de Buenos Aires, para o número mais recente de "Nueva Sociedad", a revista da social-democracia internacional para a América Latina.
Contra a corrente dos que dizem que o rosário de eleições do ano passado na América Latina conduziu ao poder majoritariamente populistas e/ou esquerdistas, Cheresky classifica a grande maioria dos eleitos como "lideranças de popularidade, sustentados em uma relação direta, mas virtual, com a opinião pública".
Ou, posto de outra forma, o apoio aos governantes eleitos é passivo, distante. Ou, nos termos do discurso do senador Renan Calheiros, o eleitorado se manifesta apenas no "silêncio do voto". O próprio Lula admitiu, no discurso de posse, que nunca houve, no mundo, "tão grande descrédito na política", e defendeu a necessidade de "produzir uma cidadania ativa".
Essa passividade parece ter sido a grande marca da posse, na medida em que o discurso do presidente produziu muito calor (especialmente na auto-avaliação positiva de seu primeiro período), mas pouca luz sobre o segundo, até por ter sido a repetição de temas, bordões e promessas de campanha.
Vale, de todo modo, registrar uma mudança de tom. No primeiro discurso de posse, Lula dizia que a "mudança" se daria "sem atropelos e precipitações". Agora, pede "pressa, ousadia, coragem e criatividade". Muito bom. Mas, em vez de pedir, não seria melhor exibir tudo isso, na fala e na prática?

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