Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 15, 2006

A verdade sobre o metrô: PSOL e PT unidos contra adversários tucanos e contra os passageiros de SP; aqui, a verdade técnica e política

BLOG REINALDO AZEVEDO

Só para deixar claro. O Sindicato dos Metroviários é filiado à CUT, uma correia de transmissão do PT. Mas sua direção política hoje, vejam só, está sendo dada pelo PSOL, da senador Heloisa Helena, candidata à Presidência da República. É aquela que chama todo mundo de "meu amor", "meu querido", "minha linda" e contribui para deixar. "como mãe, como mulher, como socialista, como cristã", 2,8 milhões de pessoas sem condução.

Se esse tema do metrô for tratado nos jornais amanhã, é claro que as autoridades serão ouvidas, mas também os sindicaleiros grevistas. Cada um dizendo uma coisa. E o leitor que se dane. Que vire especialista em metrô e em PPP para entender. Há alguns dias, qual não foi minha surpresa quando vi ninguém menos do que a própria Loló escrever um artigo na página 3 da Folha contra a PPP da Linha 4 do metrô. Ela entende disso tanto quanto de taxa de juros. O texto deve lhe ter sido soprado por algum sindicalista. O PSOL e o PSTU tentam roubar sindicatos da base petista, e é forte a influência da extrema esquerda na área. Nesse caso, todo mundo opera junto, na boca da urna.

Compreende-se: serviço fácil, limpo, com excesso de mão-de-obra, estabilidade e muito tempo ocioso. Tudo aquilo de que um esquerdista precisa para ser feliz. Assim eles podem dedicar algumas horas do dia à revolução socialista... Bom, vamos lá, ao meu texto que tem lado: contra a greve política e a favor da parceria. O "outro lado", vocês já sabem, lá no blog que os pariu.

Há mais de dois anos se fez a concorrência para a Linha 4 do Metrô. Os "companheiros socialistas" resolveram se revoltar agora. Antes, Heloísa Helena não era candidata à Presidência. E a CUT também andou um tempo sem querer confusão. Agora, eles se juntam para tentar infernizar a vida de Geraldo Alckmin e José Serra "inventando" um caso. Estão em construção 12,8 km de linha, incluindo túneis e nada menos de 11 estações. Os nossos salvadores estão movendo uma greve contra uma obra que mobiliza US$ 922 milhões de recursos — US$ 418 milhões têm origem num consórcio entre Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento e bancos japoneses.

A licitação a que se opõem os iluminados é para a operação da linha, que demanda outros US$ 340 milhões — a compra dos trens está incluída aí. A empresa privada que participar ficará com a concessão por 30 anos. Mas a tarifa continuará a ser definida pelo sistema. E será a mesma do metrô. Até porque não haveria como ser diferente num sistema integrado.

Os gênios do bem não querem que a concessionária privada, que arcaria com 27% desse custo para o início da operação, tenha acesso a linhas de crédito do BNDES porque dizem que é capitalismo sem risco. Ou é desinformação ou é pilantragem. Estes mesmos argumentos estavam no artigo de Heloísa Helena e coincidem com as reservas feitas pelo Sindicato dos Engenheiros, que também se opõe à PPP. O BNDES está emprestando dinheiro para o metrô de Caracas, do companheiro Hugo Chávez, mas não pode emprestar para uma empresa que atua no Brasil. A China acaba de fechar uma PPP para o metrô. Nos mesmos moldes.

Mas vamos à falácia do capitalismo sem risco. A empresa concessionária terá de comprar 14 trens para a primeira fase de operação da linha, que começa em 2008. A demanda estimada nesse caso é de 700 mil usuários por dia. Em 2012, começa a segunda fase, com uma previsão de 970 mil/dia. Terá de adquirir mais 15 trens. Se não houver tal número, menos trens serão comprados. Mas atenção: essa demanda pode ser maior, e aí a empresa concessionária terá de comprar ainda mais trens. O governo repassará o que for necessário para complementar o mínimo da demanda caso ela não seja atingida — hipótese, convenha-se, improvável, mas vamos dar de barato. Ocorre que a empresa repassará ao governo — na verdade, ao sistema Metrô — o que exceder o número estabelecido.

E isso é capitalismo de risco. Só não é na cabeça perturbada de Heloísa Helena e seus rapazes. Se ela não entendeu, até hoje, a diferença entre spread bancário e Taxa Selic, por que iria entender um negócio desses? De resto, todo o estudo que resultou no edital de licitação, previsão de fluxo de passageiros, normas, tudo foi feito por técnicos do Metrô com ampla experiência na área. Ok. Ainda assim, poderia conter irregularidades. Mas não irregularidades não há.

Para os que acham que Heloísa Helena é só um mandacaru que acordou e resolveu filosofar, que fique a lição. Os métodos do PSOL, onde ele consegue, não se distinguem dos do PT. No caso do Metrô, os dois partidos se uniram contra adversários políticos e, sobretudo, contra a população.

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