Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 16, 2006

Luiz Garcia - Suando a camisa em Brasilia O GLOBO

Peixes e políticos morrem pela boca. O presidente Lula, nos últimos dias, pareceu empenhado em provar que isso é verdade.

Não se trata apenas dos tropeços e travancas de sua entrevista à Rede Globo. Poucos dias depois, em comício no Rio, cometeu uma desastrada frase de efeito — ou defeito —, ao pedir votos para o candidato Marcelo Crivella. Deus, disse Lula, decretara que o Rio seria a cidade mais bonita do mundo. E completou: “Para compensar a genialidade de Deus, é preciso escolher alguém que tenha compromisso com Deus.” Sequer sugerir que apenas um candidato — logo o da próspera Igreja Universal — tenha esse compromisso ofende os demais (inclusive o do PT) e as outras religiões.

Um dia depois, a metralhadora verbal disparou contra todos os políticos e partidos do país, quando ele afirmou, sem a cautela de abrir uma só exceção, que a imunidade parlamentar “protege a safadeza”. E foi adiante, ao duvidar que a classe política faça uma reforma política “de verdade”: “Eles estarão legislando em causa própria e poderão fazer muito arremedo em causa própria,” arrematou.

Na entrevista à Globo, Lula apenas tropeçou nos fatos. Nas outras manifestações, a desbragada generalização foi mais longe: ele ofendeu os fatos. É verdade que a Câmara dos Deputado, atingida por dois sucessivos e cabeludos escândalos, enfrenta cabeluda crise interna. Mas acusações generalizadas à inteira classe política são óbvia injustiça: chegam a parecer coisa de quem prefere governar sem ela. Sem esquecer que, no escândalo do mensalão, a porta para a corrupção de partidos e parlamentares foi aberta pelo Executivo, comandado pelo PT de Lula.

O eleitor tem a obrigação de escolher, com grande cuidado, seus representantes.

Esse seria tema legítimo e elogiável para o presidente. A propósito, e sem sair do tema, ele poderia abordar suas próprias escolhas no mandato que está acabando.

Como existe a versão oficial de que pérfidos auxiliares e falsos aliados criaram e gerenciaram o mensalão à revelia de Lula, seria pertinente e oportuno se ele, no mesmo fôlego, admitisse mistura de ingenuidade e desleixo na montagem e no controle de sua equipe no mandato que está terminando.

Em vez de denúncias generalizadas e imprecisas sobre políticos em geral, seria supimpa para a imagem do presidente se pedisse votos para a reeleição prometendo suar a camisa e fazer com mais capricho os deveres de casa no duro ofício de governar o Brasil.

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