Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 19, 2006

Todos querem botocar

VEJA
Todos querem botocar

Na multidão de adeptos da testa livre
de sulcos, atores e apresentadores se
destacam. Mas muito poucos confessam


Bel Moherdaui


Fotos Mario Rodrigues/Caio Guimarães-Contigo e Monica Imbuzeiro-Ag. Globo
Reações variadas: Eliana e Justus fizeram uma vez "e nunca mais"; Paula faz sempre e adora; e o galã Celulari fez, mas não comenta

Já são quase vinte anos de serviços prestados ao rejuvenescimento. Nesse período, a injeção de toxina botulínica alcançou o posto de procedimento estético mais utilizado no mundo, em números que impressionam pela abundância. Só nos Estados Unidos, campeão dos campeões na área de embelezamento e rejuvenescimento, são 3,3 milhões de sessões de agulhadas por ano – 29% de todos os procedimentos estéticos no país. No Brasil, medalha de prata na categoria, as injeções são o tratamento não invasivo mais pedido nos consultórios de dermatologistas e cirurgiões plásticos, alcançando de 15% a 20% de crescimento ao ano. O laboratório Allergan, fabricante do Botox, informa que, em 2005, as vendas do produto no mundo alcançaram 831 milhões de dólares, um crescimento de 18% em relação ao ano anterior – mais significativo ainda por se tratar de um veterano no arsenal da beleza. Embora toxina botulínica seja praticamente sinônimo de Botox, outras duas marcas, Dysport e Prosigne, oferecem o mesmo serviço. "O crescimento do uso do Botox salta aos olhos e é compatível com a preocupação não só das mulheres como dos homens com a aparência", comenta o cirurgião plástico Paulo Matsudo, de São Paulo, pioneiro no uso da toxina no país.

O Botox é mais aplicado na área da testa e em volta dos olhos. A toxina paralisa os músculos (num efeito semelhante ao do botulismo, uma doença fatal) e, com isso, suaviza vincos e rugas. Seu efeito é temporário. Depois de seis meses, em média, é preciso fazer outra aplicação. A faixa etária dos entusiastas da toxina é ampla: vai desde modelos de 15 anos (isso mesmo: 15 anos) com uma ou outra ruguinha que, alegam, atrapalha seu trabalho a senhoras de 70 anos em busca de algo menos radical que uma cirurgia plástica para aliviar as marcas deixadas pelo tempo – como se testa lisa em rosto nada liso tivesse tal efeito. "Botox bom é o Botox secreto, que ninguém percebe que foi feito", diz a dermatologista Ligia Kogos.


Fotos Luciano Trevisan, Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem,
Valéria Gonçalves/AE e Rogerio Albuquerque
Eles e elas: como Marília e Bruna, as mulheres (de qualquer idade) são maioria no clube do Botox, mas Mesquita e Zezé já têm grande companhia

A atriz Marília Pêra, 63 anos, fez, admite e aprovou. Bruna Lombardi, 54 anos, também fez, "sem alarde", com bons resultados. Paula Burlamaqui, 39 anos, faz, sim, com freqüência. "Adoro", afirma. A maioria dos pacientes de Botox ainda são mulheres, mas os homens ganham terreno. Nos Estados Unidos, eles recebem 10% das agulhadas. "O cliente masculino clássico de Botox tem mais de 50 anos, certa importância profissional, é ocupado, objetivo, quer uma aplicação rápida e que não mude a expressão", descreve Ligia. A vergonha de botocar persiste, mas já começa a ser vencida. "Antigamente, eles marcavam o último horário e pediam para ficar em uma sala de espera separada. Hoje, alguns já ficam ali no meio das pacientes e falam abertamente sobre o tratamento", relata Matsudo. O ator Edson Celulari, 48 anos de verdade e até quinze a menos nas novelas, alisa a testa na clínica da dermatologista Denise Steiner, em São Paulo. O apresentador Otavio Mesquita, 47 anos, é outro que se submete a aplicações na testa e ao redor dos olhos a cada seis meses. "Serve para dar uma rejuvenescida, até porque televisão envelhece. Não sou escravo da beleza ou da estética, mas eu me cuido", diz ele, que também "apara" os pêlos do corpo, faz mão e pé, usa sabonete e creme especiais para o rosto e tinge o cabelo.

Em geral, celebridade (principalmente homem) que apela à toxina para parecer mais jovem prefere negar. Contrariando todas as evidências, o apresentador Cid Moreira, 78 anos e rosto lisíssimo, avisa: "Estou assim porque parei de comer carne há trinta anos. Fiz três ou quatro plásticas para corrigir uma malsucedida aplicação de silicone líquido no rosto, do tempo em que a televisão ainda era preta-e-branca. E só". O arquiteto Sig Bergamin, enxutíssimo aos 52 anos, ecoa: "Cuidar do rosto, para mim, é como escovar os dentes. Não durmo sem limpar e passar um creme. Botox e plástica, nunca fiz porque não precisei". Os que confessaram muitas vezes se arrependem, ou do tratamento, ou da confissão. O cantor Zezé di Camargo fez "uma vez, há dois anos"; a apresentadora Eliana experimentou há cinco anos e "nunca mais". Vaidoso assumido, o publicitário e showman Roberto Justus está no mesmo clube. "Fiz só uma vez, em volta dos olhos, há dois anos. Mas doeu tanto que mandei parar na terceira picada", afirma. Ouvindo, parece que o tratamento com Botox é um fracasso.

O EXEMPLO VEM DE CASA


Lincoln Iff


Quem converteu o presidente Lula ao Botox foi sua mulher, Marisa, que aderiu em 2003 à toxina botulínica e desde então repete fielmente o tratamento a cada seis meses, com a médica Denise Steiner, que trata também da pele clarinha da primeira-dama. Marisa, de 56 anos, tornou-se uma vaidosa assumida na campanha de 2002. Para acompanhar Lula, submeteu-se a um lifting no rosto, realizado pelo cirurgião paulista Pedro Albuquerque. No começo de 2004, voltou ao bisturi, dessa vez para uma plástica de abdômen e lipoescultura. Atualmente, faz regime (perdeu 5 quilos em três meses), caminha todos os dias e ainda faz ginástica com um personal trainer na academia do Palácio da Alvorada.

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