Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 13, 2006

Plínio Fraga: A carranca de Lula

Folha de S.Paulo - Rio de Janeiro -

Carrancas são esculturas de madeira de rostos afugentadores vistas com freqüência em barcas que singram pelo rio São Francisco desde o século 19. Na crendice popular, servem para espantar os maus espíritos das águas. Barqueiros mais antigos acreditam que, quando há perigo de a embarcação afundar, a carranca avisa com três gemidos.
Os dicionaristas têm várias hipóteses sobre por que carranca passou a designar também "fisionomia sombria, carregada, expressiva de mau humor, raiva, desgosto", como define o "Houaiss". A mais provável é a transformação por metáfora da expressão da cara feia da escultura na descrição do estado de espírito de desgosto.
Na primeira imagem da entrevista que concedeu ao "Jornal Nacional" na quinta-feira, impressionou a carranca de Lula. Estava na cara que o resultado seria um desastre. Antes mesmo de começar a ser questionado, mostrava-se desconfortável, e o conteúdo de suas respostas foi desabonador. Lula gaba-se constantemente de ser um comunicador de fala direta com a massa, mas desde que seja uma via de mão única. Não sabe ouvir.
A testa franzida de Lula mostrava mais do que as palavras que dizia ao tentar explicar o inexplicável. Cometeu atos falhos clássicos ao dizer que seu governo combate a ética e que o salário é a única coisa que cai. Será que Lula faz análise?
Tomou para si o papel de senhor da moralidade e anunciou ao país que demitiu José Dirceu e Antonio Palocci, caso comum de tentativa de reescrever a história a seu gosto.
O presidente, que promete desde 2002 mudar o curso das águas do São Francisco, podia pegar de suas embarcações algumas carrancas e espalhar pelo Palácio do Planalto. Quem sabe seus gemidos não o alertem para quando houver dinheiro vazando pelo ladrão.

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