Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 01, 2006

Míriam Leitão - E agora?



Panorama Econômico
O Globo
1/8/2006

Hoje será divulgado o ótimo saldo comercial do mês de julho. Pode ser US$ 5 bilhões. O número será visto como sinal de que está tudo bem no comércio exterior. Não está. Dois problemas assombram o comércio: o câmbio e o colapso da Rodada Doha. Uma onda de perplexidade está agora batendo em negociadores do mundo inteiro. Diplomatas trocam telefonemas para se perguntar: “E agora?”.

No fim de semana, a representante comercial americana, Susan Schwab, veio aqui exatamente para fazer essa pergunta. Apesar de ser um fim previsível, ninguém estava preparado para o dia seguinte à suspensão da rodada.

Os números do comércio revelam que alguns produtos vão tão bem que mascaram os problemas que atingem o comércio como um todo. Os bastidores da Rodada Doha mostram que será difícil desfazer o nó e essa paralisia significa revogar avanços que já estavam previstos, principalmente em relação ao comércio agrícola com a Europa. A única esperança é que a parada foi tão brusca que assustou todos os passageiros.

— Nas últimas horas, as pessoas ficam se telefonando o tempo todo, de todos os países, querendo entender o que vai acontecer daqui para diante. Nas próximas semanas, devem proliferar reuniões, troca de informações entre os países para se entender exatamente o que houve. Não me surpreendeu, eu vi que estávamos indo para esse impasse, mas, mesmo assim, é um susto — disse o ministro Roberto Carvalho de Azevedo, diretor do Departamento Econômico do Itamaraty.

A curto prazo, o dado do comércio surpreende. Esperava-se uma queda do saldo e este julho vai ser tão bom quanto o julho que passou. O Bradesco prevê US$ 5,1 bilhões. A RC Consultores calcula que pode ficar entre US$ 4,5 bilhões e US$ 5 bilhões. O economista Fábio Silveira acha que os números enganam.

— Isso não significa que está tudo bem no comércio. Na verdade, uma grande parte é o efeito preço. Minério de ferro acabou de ter um aumento de 19% de preço. Começou a colheita de cana e o açúcar está com um preço 62% maior que um ano atrás. Suco de laranja está com um preço 2,5 vezes mais alto que em 2005, por causa dos furacões que atingiram a Flórida. Há uma série de produtos com vantagens de preço. Mas se pegarmos, por exemplo, carros, produto com mais valor agregado, a exportação está caindo e vêm aí os carros chineses, produzidos pelas mesmas montadoras que estão aqui. Na soja, o preço não está ruim, mas o Brasil perde competitividade para a soja argentina, unicamente por causa do câmbio — explica Fábio Silveira.

O dólar caiu em relação a quase todas as moedas, mas, em relação ao real, caiu muito mais; o que afeta os produtos que não tiveram aumentos de preço no mercado externo. Mas isso é um problema conjuntural. O que preocupa, no mais longo prazo, é para onde vão as regras de comércio. O diretor do Departamento Econômico do Itamaraty não acredita numa onda de protecionismo, mas o mundo pára de avançar.

Um desses avanços já previstos era a redução dos subsídios à exportação. Esses subsídios são os que mais distorcem o comércio mundial. Já havia se decidido reduzi-los e, agora, a discussão era o subsídio à produção.

Essa rodada foi convocada exatamente porque havia uma redução das barreiras ao comércio agrícola já decidida. Ao fim da Rodada Uruguai, o acordo que saiu de lá determinava uma liberalização do comércio agrícola em 2000. Como isso afetava principalmente a Europa, ela pediu uma rodada porque, no contexto de uma negociação, seria mais fácil reduzir as barreiras ao comércio agrícola.

Seis anos depois, pode-se perder até avanços que pareciam garantidos. A negociação se dava num tripé: primeiro, a redução do subsídio à produção interna, o chamado apoio doméstico; segundo, a redução das barreiras ao comércio, o chamado acesso ao mercado; terceiro, liberalização de produtos industriais.

Os Estados Unidos são, ao mesmo tempo, um grande produtor e exportador e um país com enormes subsídios. Nesse duplo papel, eles se dispunham a cortar o apoio doméstico desde que houvesse avanço grande em acesso ao mercado. Ou seja, cortariam o subsídio à produção desde que a Europa abrisse mais seu mercado. Assim, seus produtores perderiam ajuda do governo, mas ganhariam mais mercado para seus produtos.

Na reunião da semana passada, a representante americana chegou pedindo mais abertura do que o próprio G-20 havia pedido. O G-20, liderado pelo Brasil, tem suas contradições: a Índia, por exemplo, é grande importador de alimento e não quer abrir seu mercado. O G-20 está dividido entre os agressivos e os defensivos. O Brasil, forte produtor, está no primeiro grupo. A Índia, no segundo. A média dos dois lados dá uma posição moderada. Os Estados Unidos chegaram lá pedindo uma abertura muito mais radical. Foi isso que paralisou a conversa.

E agora? Há vários prazos fatais pela frente. O mandato para o executivo americano negociar, o TPA, esgota-se no meio do ano que vem, a lei agrícola americana terá que ser renovada, os Estados Unidos estão no meio da campanha eleitoral para a renovação parcial do Congresso. A nova lei agrícola, Farm Bill, como será? Se a Rodada Doha estivesse marchando para o final, ela seria bem mais liberal. A Europa havia se comprometido a reduzir fortemente o subsídio à exportação até 2010 e eliminá-lo até 2013. E agora, como será? Uma sombra ronda o comércio mundial.

27/070,7167%

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10/080,7533%

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28/080,6690%

Obs: Segundo norma do Banco Central, os rendimentos dos dias 29, 30, 31 correspondem ao dia 1 do mês subseqüente.

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