O GLOBO
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Esta foi uma semana de vários números que não dizem exatamente o que parecem. A queda da produção industrial de junho divulgada ontem não significa que o país esteja indo para uma recessão; o superávit comercial recorde de julho, divulgado na terça, não quer dizer que está tudo bem na exportação. A queda de venda dos supermercados não é sinal de queda do poder de compra.
Quando saiu o supersaldo comercial de US$ 5,6 bilhões, houve declarações estranhas, como a do ministro Luiz Fernando Furlan, de que a guerra ajuda porque nesse ambiente os países importam mais. O presidente Lula atribuiu-se mais esse feito e disse que havia virado um caixeiro-viajante.
Existem algumas explicações para o saldo comercial alto, mas não são essas. Uma das razões é a alta dos preços, no mercado internacional, de algumas commodities exportadas pelo Brasil. Aumentos fortes, como os 250% do suco de laranja, ou os 65% do açúcar e os 18% do minério de ferro. A alta do petróleo ajuda, apesar de as importações neutralizarem parte desse ganho. É que a Petrobras tem nos últimos tempos exportado cada vez mais.
Outra explicação é a greve da Receita Federal, que diminuiu um pouco o volume de comércio que poderia ter ocorrido nos dois meses anteriores.
O saldo é bom, mas não autoriza a conclusão de que o setor exportador brasileiro não está sentindo o efeito do câmbio baixo. Mil empresas deixaram de exportar no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Fortaleceu-se o movimento de concentração, em alguns poucos produtos, do bom resultado da balança comercial.
A produção industrial caiu fortemente em junho. A queda de 1,7% em relação a maio é pior do que o número esperado pelo mercado. Esperava-se um número negativo, mas ele veio pior do que a expectativa.
A economia brasileira é tão cheia de sinais contraditórios que, numa mesma semana, os mais otimistas e os mais pessimistas podem ver a confirmação de suas previsões. A produção industrial de junho parece confirmar as más notícias; a sondagem conjuntural da FGV confirmou as boas. O empresário está otimista, acha que os últimos seis meses do ano serão melhores do que os primeiros.
Há analistas sustentando que já há sinais de um terceiro trimestre com um ritmo de produção industrial maior do que o segundo trimestre.
Seja como for, o Brasil terá mesmo um terceiro trimestre melhor do que o segundo trimestre. Este ano o país vai crescer mais do que no ano passado, mas ainda menos que concorrentes, vizinhos, países em desenvolvimento.
Os supermercados divulgaram na quinta-feira um dado mostrando que o setor teve a pior venda em dez anos. Houve queda de faturamento e de volume vendido.
Não tem a ver com a perda do poder aquisitivo do consumidor, como poderia dar a entender.
Na verdade, está havendo uma recuperação da renda por causa da inflação baixa deste ano e alguma recuperação do emprego. A queda de vendas dos supermercados pode ser resultado, primeiro, da redução do preço dos alimentos em alguns produtos, ou da alta em valores inferiores à inflação. Pode ser resultado também do aumento da concorrência. Sem a pressão do "compre já que amanhã será mais caro", o consumidor se acostumou a comprar apenas o que vai consumir e passou a comprar pequenos volumes em lojas de conveniência ou pequenas lojas que não são parte das grandes redes. Para recuperar o cliente, as grandes redes precisam aumentar a eficiência e reduzir os preços.
Dos números divulgados esta semana, um realmente é o que parece: o grande lucro dos bancos é lucro e ponto final. Nada contra o lucro, porque afinal o capitalismo é feito disso, mas quando a gordura é demais o consumidor desconfia.
Uma das explicações para tanta saúde é a alta das tarifas bancárias, que tiveram aumentos realmente espantosos.
O Itaú teve um lucro que representa um retorno sobre o patrimônio líquido de 35%, um dado que não é explicável só por aumento de eficiência.
Os bancos ganhavam com a inflação e depois passaram a ganhar com outros desvios da economia brasileira. Ganham muito com os juros altos, apesar de terem razão quando argumentam que a cunha fiscal é alta e o recolhimento compulsório, exagerado. Ganham também muito com a falta de transparência do custo dos serviços bancários, que permitiria ao cliente escolher entre as instituições e ajudaria a criar um clima de competição entre os grandes bancos brasileiros.
Um levantamento do economista Miguel José de Oliveira mostra que, de dez tarifas bancárias, nove tiveram aumentos acima da inflação. O custo pago por um cliente do Banco do Brasil que queira fazer a substituição de garantia bancária aumentou 49.000%. A tarifa de depósito em outra agência saltou 2.614%, e a cobrança de cheque na compensação aumentou 540% para uma inflação acumulada em dez anos de 50%. Esses números são o que parecem ser: um absurdo.
Seria ingênuo aceitar a explicação da Febraban de que as tarifas são definidas em regime de livre concorrência. Se fossem, não teriam subido tanto exatamente num momento em que os bancos reduziram custos e informatizaram a maioria dos serviços, deixando ao consumidor algumas rotinas que antes requeriam funcionários.
O Banco Central deveria ter algo a dizer sobre isso.
Entrevista:O Estado inteligente
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