O GLOBO
Embora tenha permanecido estável, e seus adversários imediatos tenham oscilado, para mais ou para menos, dentro da margem de erro, o presidente Lula manteve, na pesquisa do Ibope divulgada ontem, a possibilidade de vitória ainda no primeiro turno, o que revela que o apoio que tem do eleitorado das classes mais baixas e menos escolarizadas do país é sólido a ponto de continuar favorito, apesar de todos os quesitos de avaliação, tanto pessoal quanto de seu governo, terem voltado a regredir. A pesquisa revela que, embora mantenha saldo positivo em praticamente todos os segmentos da população, com exceção dos que recebem mais de dez salários-mínimos mensais, a queda nos índices de avaliação de Lula e de seu governo atinge de maneira homogênea quase todos os estratos da população.
A desaprovação ao governo Lula com relação à segurança pública cresceu de 61% em junho para 71% nesta rodada. A confiança em Lula, que era de 56% mês passado, caiu para 52%. Há um mês, Lula tinha um saldo positivo de 17 pontos percentuais entre os que confiavam e não confiavam nele, e esse saldo hoje é de apenas nove pontos.
Também a aprovação do governo diminuiu, com um índice de ótimo e bom que era de 44% — igual ao índice de intenção de votos — caindo para 40%, sem influenciar o resultado geral da pesquisa. Os especialistas da oposição insistem em que essa diferença entre o índice de ótimo e bom e o nível de intenção de votos não é compatível.
O potencial de voto do presidente Lula, obtido com a soma das respostas "com certeza votaria" e "poderia votar", também não se alterou significativamente, saindo de 67% para 64% agora, mesmo que o potencial de votos de Alckmin tenha crescido vigorosamente, de 42% há dois meses para 52% nesta rodada. As exceções, a favor de Lula, continuam sendo justamente os grupos que têm avaliado melhor o governo: o Nordeste e as faixas de menor escolaridade e renda.
O eleitorado do Sudeste e a faixa de eleitores que têm da 5 à 8 série continuam sendo os maiores problemas para Lula. Entre os eleitores com até um salário-mínimo de renda familiar, Lula tem 58% das intenções de voto, contra 16% de Alckmin. Entre os eleitores com renda familiar superior a dez mínimos, Alckmin tem 42%, contra 28% de Lula. Já 54% dos eleitores que cursaram até a 4 série do ensino fundamental escolhem Lula, contra apenas 19% de Alckmin.
Alckmin tem a preferência de 34% dos eleitores com ensino superior completo, mas Lula chega a ter 27%. A rejeição a Lula também voltou a subir, enquanto a de Alckmin regrediu, quase na mesma proporção: Lula tinha 28% de rejeição, enquanto Alckmin tinha 34%. Hoje, a situação se inverteu: Alckmin caiu para 28%, e Lula subiu para 32%, igualando-se a Heloísa Helena — que teve melhora no seu índice, que já foi de 36% — e Cristovam Buarque.
Esse quadro indica que a situação política de Lula e de seu governo pode ter voltado a entrar em decadência, o que só se poderá confirmar nas próximas pesquisas, que a partir deste mês serão feitas semanalmente. Há também a indicação de que Lula está fortemente ancorado nos grotões, utilizando não as máquinas partidárias tradicionais, mas seu carisma pessoal e os programas assistencialistas, seja o Bolsa-Família, seja o salário-mínimo com aumento real.
Nada menos que 87% dos municípios do país têm até 25 mil eleitores, e 60% deles têm até dez mil eleitores. Estudos mostram que, quanto menor o município, mais sujeito está à influência política das máquinas partidárias, especialmente à do governo federal. Fica claro que os grotões têm peso decisivo nas eleições majoritárias, pois nessa faixa está concentrado um patrimônio eleitoral de quase 38 milhões de votantes — num total de 125 milhões de eleitores.
Nesse mercado político, a Região Nordeste se destaca com um potencial da ordem de 15 milhões de votos. A aliança com os antigos caciques, muitas vezes informal na campanha, e depois explicitada em acordos políticos, contribuiu de forma importante na vitória de Lula na eleição de 2002, quando caiu o mito de que nas regiões com alto índice de exclusão social a grande maioria dos eleitores tende a votar em candidatos abastados.
Como exemplos clássicos temos as eleições de Fernando Collor e Fernando Henrique. No caso de Collor, os números são claros. O presidente eleito teve 49% de votos de pessoas carentes e ainda 55% dos votos de eleitores com instrução inferior ao antigo primeiro grau. Lula alcançou nos grotões uma média de 33% na eleição de 2002, coisa que nunca teve nas eleições desde 1989, e hoje chega a ter 60% de intenção de votos no Nordeste.
A forma pela qual primeiro Collor e depois Fernando Henrique venceram as eleições presidenciais mistura a máquina partidária trazendo maciçamente os votos do interior — nos municípios de até 50 mil eleitores estão mais de 40% dos votos — e o apoio dos grandes centros urbanos.
Embora não tenha crescido como queria no interior nas eleições municipais de 2004, o PT aumentou bastante sua penetração no interior do país, cresceu 120% no número de prefeituras em relação a 2000 e foi o partido que mais conquistou cidades com mais de 150 mil eleitores.
Mas também teve um recuo de 8% nessas mesmas cidades com mais de 150 mil eleitores em relação à eleição de 2000, e administra atualmente menos 21% da população brasileira. As pesquisas mostram essa mudança de eixo da política petista, ancorada especialmente na figura do presidente Lula.
O que veremos até as eleições é se essa maior penetração no interior do país dará uma base sólida para a reeleição, ou se a maior influência da oposição nos setores mais esclarecidos e nos grandes centros urbanos, juntamente com as máquinas partidárias atuando no Nordeste, acabarão influenciando o voto. Por enquanto, a força pessoal de Lula nos grotões vai superando a dos antigos caciques políticos.
Entrevista:O Estado inteligente
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