Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 16, 2006

MERVAL PEREIRA O Globo


Bater ou não bater?

 A propaganda eleitoral pelo rádio e pela televisão começa hoje com o candidato da oposição Geraldo Alckmin em uma posição pior do que já esteve, mas dentro do parâmetro que ele mesmo traçou para sua candidatura, por cautela ou por conhecimento de causa, saberemos logo. Ao lado de seu mantra de que a campanha eleitoral começa somente quando muda o horário da novela, Alckmin sempre repetiu que, se iniciasse a campanha na televisão com um patamar de 20% das intenções de voto, estaria em ótima situação. Ele estava nesse patamar em abril, e subia quando, em junho, foi apresentado formalmente ao eleitorado pelos filmetes e pelo programa oficial do PSDB.

Rapidamente ele atingiu o patamar de 30% das intenções, o que foi considerado um fenômeno de comunicação na época.

O cientista político Silvério Zebral, da Universidade Candido Mendes e representante no Brasil do programa de graduação em Political Management (Administração Política) da George Washington University, defendeu dentro da campanha, contra a tese pefelista de “desconstrução” da imagem política de Lula, que melhor esforço seria “construir previamente” a imagem de Alckmin, “para que uma desconstrução futura possa resultar em reversão de intenções de voto favoráveis a Lula para intenções de voto em Alckmin, de forma mais direta e com maior rendimento”.

Ele considerou na ocasião que “o efeito líquido dos esforços de construção de Geraldo Alckmin (via mensagem positiva, comunicada através dos filmes do PSDB) superou em muito os efeitos líquidos da desconstrução do presidente Lula (via mensagem negativa, comunicada através do filme do PFL)”. Sua análise: a) houve crescimento da intenção de votos em Geraldo Alckmin, acompanhado de “aprofundamento”, com o aumento do número de eleitores que apresentam razões/motivadores de voto não transitórios; e b) aumento da rejeição do presidente Lula, sem queda no nível de intenção de votos, evidenciando uma polarização, todavia sem desconstrução do presidente.

O fato é que Alckmin não conseguiu manter o índice nesse período que antecedeu a propaganda gratuita no rádio e na televisão, enquanto a candidata do PSOL, Heloísa Helena, simplesmente dobrou o índice de intenção de votos, subindo para o patamar de 13%. Na análise técnica, essa queda de Alckmin era prevista, e na linguagem marqueteira, o candidato tucano teria um “suporte” de 22% a 23%, e uma “resistência” de 28%. A campanha que começa hoje vai obedecer, pelo menos no seu início, à proposta de apresentação do candidato Alckmin.

Na análise de Silvério Zebral, que faz parte do comitê do candidato tucano, a distribuição de intenções de voto pró-Lula — concentrada nas faixas mais baixas de renda, de menor escolaridade, no Nordeste — “empresta uma rigidez importante para a desconstrução do presidente pela via moral”. Este segmento, além de apresentar outras motivações da intenção de voto (Bolsa Família, por exemplo), “não é facilmente alcançável pelo debate fora do período eleitoral”.

O entendimento geral é de que o “público-alvo simplesmente não está escutando, não está atento, ou não está interessado”.

Uma vez vencida essa barreira de comunicação, no entanto, esses eleitores seriam mais sujeitos à ação dos formadores de opinião, no caso as chamadas “estruturas políticas” que, na sua maioria, estão apoiando Geraldo Alckmin.

Até mesmo um exercício econométrico foi feito, mostrando que “o grupo potencial que pode ser impactado com a adoção de uma estratégia de desconstrução de Lula pela oposição é exatamente o grupo no qual Geraldo Alckmin ainda é mais desconhecido (bate tudo: faixa etária, faixa de renda, escolaridade, região)”.

A propaganda mais agressiva será feita através dos filmetes, mas a orientação é de que: a) o portador da mensagem negativa não seja o próprio candidato; b) a estratégia esteja dirigida a um público-alvo passível de ser impactado, identificado através dos motivadores de intenção de voto em Lula, revelados em pesquisas quantitativas; e c) apoiada nos argumentos desconstrutivos corretos, identificados através de grupos específicos.

Os alvos seriam: a) eleitores de Lula que desconhecem as denúncias contra o governo; b) eleitores que motivam seu voto em considerações acerca da conduta moral do presidente; c) eleitores com intenção de voto em Lula ainda não consolidada; e d) eleitores passíveis de serem alcançados pelas imprensa escrita.

Também o especialista em propaganda política Jorge Guilherme Oliveira diz que toda eleição majoritária tem caráter plebiscitário, seja reeleição ou não: “Todo pleito vai ser decidido pelo sentimento majoritário do eleitorado considerando dois vetores: continuidade ou mudança”. Para ele, o sentimento que prevalece é o de continuidade, e por isso Lula é o favorito. Mas, ele lembra, “o eleitorado pode perfeitamente identificar como melhor alternativa de continuidade um candidato que não é o mesmo do governante aprovado. Desde que um candidato de oposição se posicione corretamente”.

Por isso, “optar pela desconstrução de Lula é uma alternativa estratégica que somente se justifica quando o objetivo não é ganhar a eleição”.

Ele lembra que, eventualmente, diante da impossibilidade de vencer uma eleição, a campanha pode ser feita para marcar posições, consolidar a imagem de um candidato, firmar um espaço político-partidário.

“Na trajetória política (que forma a imagem do homem público), nem sempre a vitória numa eleição específica é o mais importante. Perder para voltar mais forte pode ser uma alternativa estratégica. Como certamente Lula estará desgastado após o segundo governo, quem o combateu mais fortemente terá um crédito adicional de credibilidade”.

E-mail para esta coluna: merval@oglobo.com.br

Arquivo do blog