Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 17, 2006

Merval Pereira - Números contra Alckmin




O Globo
17/8/2006

Os próximos 15 dias são cruciais para se saber se o candidato tucano Geraldo Alckmin tem fôlego para tentar reverter a grande vantagem que o presidente Lula tem na corrida presidencial. Mesmo entre seus correligionários, há um convencimento de que somente com um crescimento de cerca de 5 pontos percentuais nas próximas duas semanas será possível pensar em uma mudança no rumo da eleição no segundo turno. Alckmin gosta muito de citar sua própria experiência na eleição de 2002 para o governo de São Paulo, quando começou a propaganda pela TV e rádio com 16 pontos atrás de Maluf, em 16 de agosto, e chegou ao fim do primeiro turno com 38%, à frente de José Genoino, que ultrapassou Maluf e foi para o segundo turno na onda da vitória nacional petista na eleição presidencial.

Infelizmente para Alckmin, seu exemplo é um ponto fora da curva, uma exceção à regra de que candidatos que entram na propaganda eleitoral com vantagem acabam vencendo, mesmo que seja no segundo turno. Além da tecnologia do marketing político, as campanhas eleitorais se prestam também a estudos matemáticos, e um deles, da MCM Consultores, mostra que em 90 eleições analisadas de 1989 até hoje, apenas em 37% dos casos houve mudança dessa tendência, e nenhum desses casos ocorreu na disputa pela Presidência da República: em 1994 e 1998, Fernando Henrique começou o período de propaganda eleitoral oficial na frente e venceu no primeiro turno.

Em 1989 e em 2002, Fernando Collor e Lula mantiveram a dianteira desde o início da propaganda gratuita, e venceram no segundo turno. Os estudos da MCM têm mais más notícias para Alckmin: candidato que entre na propaganda eleitoral com 45% ou mais de intenções de voto, como é o caso de Lula hoje, tem 50% de chance de vencer ainda no primeiro turno. Perderam a eleição apenas 9% dos que tinham entre 40% e 49%, e apenas 10% dos favoritos que tinham mais de 20 pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado.

Um outro estudo, este elaborado pela Mosaico Economia Política, do economista Eduardo Marinis, montou modelos estatísticos analisando as pesquisas de intenção de voto dos institutos Ibope, Sensus e Datafolha desde 2001, e mostra a correlação entre a taxa de aprovação ao presidente e as intenções de voto no candidato governista, e também a correlação entre a avaliação ótima e boa do governo e as intenções de voto no candidato governista.

Os modelos revelam que o percentual de intenções de votos válidos no candidato governista tende a cair abaixo do piso de 50% necessário à sua eleição quando a taxa de aprovação ao presidente é inferior a 44%, ou quando a taxa de avaliação ótima e boa do governo é inferior a 30%. A análise das últimas pesquisas mostra que a taxa de aprovação ao desempenho pessoal do presidente Lula é bastante confortável, constata a Mosaico e, dependendo do instituto de pesquisa, está, no mínimo, 11 pontos percentuais acima do nível que poderia colocar em risco a sua reeleição. A taxa de avaliação ótima e boa do governo também é confortável e está, no mínimo, dez pontos percentuais acima do nível que poderia ser considerado mais crítico para a reeleição do presidente.

Um outro modelo matemático organizado pela Mosaico permite avaliar as intenções de voto no segundo turno. Para cada ponto percentual de queda na taxa de aprovação ao presidente, as intenções de votos válidos em Lula na simulação de segundo turno contra Alckmin tenderiam a cair aproximadamente 1,2 ponto percentual. E para cada ponto percentual de queda na avaliação ótima e boa do governo, as intenções de votos válidos no presidente na simulação de segundo turno contra Alckmin tenderiam a cair pouco mais de 1,4 ponto.

A estreita relação entre a popularidade do presidente e seu governo de um lado e as intenções de voto no candidato governista de outro, também se aplica às diferentes regiões do país. O estudo da Mosaico mostra que quanto maior a popularidade do presidente e seu governo em uma determinada região, maior será o seu percentual de votos naquela região. No Nordeste, por exemplo, o governo Lula é avaliado como ótimo ou bom por 54% dos eleitores e o presidente tem 78% dos votos válidos na simulação de segundo turno contra Alckmin. Já no Sul, onde o governo é avaliado como ótimo e bom por 31% dos eleitores, o presidente Lula tem 48% das intenções de votos válidos no segundo turno contra Alckmin.

A Mosaico mostra que, em média, as intenções de votos válidos em Lula aumentam cerca de quatro pontos da simulação de primeiro turno para a simulação de segundo turno. Isso sugere, segundo os consultores, que as simulações de um hipotético segundo turno entre Lula e Alckmin só tenderiam a indicar um empate estatístico entre os dois candidatos se, nas simulações de primeiro turno, o presidente Lula perdesse oito pontos desde a última pesquisa CNI-Ibope, caindo de 54% das intenções de votos válidos para aproximadamente 46%. Esse índice corresponderia a uma queda na taxa nacional de avaliação ótima e boa do governo medida pela CNI-Ibope de 40% no fim de julho para pelo menos 35%, mesma taxa de avaliação ótima e boa que o governo Lula atualmente desfruta no Sudeste, região onde ele tem pior avaliação.

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