Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 17, 2006

JB Villas-Bôas Corrêa A campanha em feitio de oraçã



Vamos raciocinar juntos: qual é o nó da crise que ronda e ameaça as eleições de 1º de outubro?

Para começo de conversa, descartemos os pretextos e dribles dos candidatos e das gangues que rodopiam em volta das urnas, a esmolar o voto esquivo do eleitor nauseado. Eleição não é ameaça, é solução, como ensinava um secretário de governo fluminense a respeito das favelas, quando iniciavam a ocupação da Barra da Tijuca.

A crise, que marca como ferro em brasa a temporada da caça ao mandato, é moral. E anda sumida, dissimulada nas raras aparições no horário de propaganda eleitoral, justamente esperado como capaz de produzir o milagre da massificação da campanha com as cutucadas de alerta da indignação do eleitor, cada vez mais tentado ao protesto suicida do voto em branco, o alçapão da fuga.

O fogo da roubalheira recordista, "como nunca aconteceu neste país", ilumina os esconsos do governo e clareia, como incêndio na floresta amazônica, as duas Casas do Congresso. O Senado quase escapole do laço das CPIs dos Bingos, dos Correios e da mais recente, da inacreditável patifaria da compra de ambulâncias e ônibus escolares esmiuçada pela CPI dos Sanguessugas. Dos 72 parlamentares denunciados, 69 são deputados e três senadores. A quadrilha que se acoita nas cafuas do baixo clero - com mais de duas dezenas de fervorosos filiados às igrejas evangélicas, piedosas arrecadadoras de dízimo - demonstrou a sua força solidária na absolvição de quase todos os denunciados pelas CPIs e pelo Conselho de Ética da Câmara. Com o show final da deputada-bailarina petista, Ângela Guadagnin, que sambou no plenário, em desempenho inesquecível.

Quando a poeira baixou no lamaceiro, o repique dos Sanguessugas arrancou a casca das feridas e remexeu no entulho. E, na fase final da campanha, quando se decide a sorte do emprego milionário, dos melhores do mundo, com todas as vantagens e nada para fazer.

O horário eleitoral deslocou a frouxa curiosidade popular para o desempenho dos candidatos aos mandatos majoritários de presidente e de 27 governadores, além de um terço dos 81 senadores.

Na calada da madraçaria das sessões sem quorum, a ativa esperteza traça as rotas de fuga. Todos fingem que nada vêem, de nada sabem, seguindo o exemplo que cai do céu.

Cada vez parece mais próxima e provável uma nova escapada pelas várias frestas no muro da impunidade. Os mais afoitos e aflitos desafiam o eleitor no peditório do voto do perdão.

Trata-se de uma imprudência suicida. O Congresso renovado não se instalará com a cauda de suspeição da reeleição de envolvidos no festival da corrupção.

E a solução virá por bem ou por mal. Para bom entendedor...

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