Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 04, 2006

Luiz Garcia - Depois de Fidel





O Globo
4/8/2006

Políticos e jornalistas, dizem detratores perversos, têm uma norma comum: quando menos sabem, mais falam. O vácuo é detestável; à falta de fatos, especula-se; se tudo é escuro, interpreta-se a opacidade das sombras.

É mais ou menos o que está acontecendo em relação a Cuba, desde que a operação de Fidel exigiu seu afastamento e a passagem do poder temporariamente — segundo a versão oficial — para o herdeiro ungido: Raúl, irmão mais moço. Desse jovem septuagenário (tem 75) não se sabe muito. Chefia as forças armadas, é homem de família e marxista ortodoxo.

Ignora-se se o estado de Fidel é suficientemente grave para causar, a médio prazo, abdicação definitiva. Também não se sabe se Raúl tem vocação, desejo e capacidade política de exercer o poder absoluto, segundo o modelo em vigor. Igualmente importante: um governo do irmão teria traços iguais ou aproximados daqueles que têm caracterizado o reinado do primogênito?

Pelo sabido, Raúl é absolutamente fiel à obra do irmão. O que se ignora é se ele, com muita fidelidade e escasso carisma, conseguirá se manter no poder. Não é sabido, também, quanto pesará o fato de que os cubanos mais jovens — tanto os que não puderam como os que não quiseram escapar para Miami — não conhecem outro regime além do tipo particular de comunismo implantado por Fidel. Já os bem mais velhos certamente não têm saudades da ditadura de Batista.

Alguma oposição existe — mas aqueles que pensam diferentemente dos castristas fugiram ou são mantidos sob pesada vigilância.

De qualquer forma, alimentada pela esperança ou pelo pessimismo, a boataria come solta. Quarta-feira, o "Miami Herald", com larga experiência em acompanhar o que se passa na ilha e na comunidade cubana na Flórida, registrou declarações pessimistas tanto de asilados como de habitantes de Cuba. Falavam em aumento da repressão e de intensa movimentação de tropas. Mas outros moradores e diplomatas estrangeiros em Havana diziam que tudo está normal.

Nessas horas, cada um vê o que quer. Mas esperanças são permitidas. Como a de que um possível fim do castrismo signifique um passo real em direção à democracia na ilha.

Mas, pensando nos padrinhos conhecidos, é bom especificar: democracia de verdade, com independência real. Com certeza, não se precisa de um Iraque no Caribe.

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