Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 13, 2006

ELIO GASPARI A reeleição pode virar carta branca

FOLHA


Ao contrário do que disse, "nosso guia" não afastou o pessoal da quadrilha. Todos saíram prestigiados, por ele

O DESEMPENHO de Lula na entrevista que deu ao "Jornal Nacional" foi catastrófico. Ofendeu a inteligência da patuléia. Atravessou a linha do fizemos-o-que-todos-fazem, indo para o fizemos-tudo-certo. Eco do hino Bourbon: "Nada esquecemos, nada aprendemos". Prenúncio de uma Presidência imperial que tentará impor ao Congresso desmoralizado um programa de aparelhamento do Estado. Se o golpe pela Constituinte não for ressuscitado, vão falar em plebiscito.
Ao contrário do que disse o "nosso guia", seu governo não defendeu a moralidade afastando José Dirceu e Antonio Palocci dos ministérios. Nos dois casos, o Diário Oficial informa que eles pediram demissão. Pode-se dizer que isso é uma formalidade da etiqueta palaciana, mas Lula carpiu os ex-ministros. Chamou Palocci de "mais que irmão". A Dirceu, disse o seguinte:
"Compartilho seu sentimento de que esta decisão permitirá a você melhor defender nosso governo, nosso partido e sua própria pessoa. Como parlamentar brilhante que é -um dos líderes políticos mais importantes e respeitados da República- você poderá, na Casa do Povo Brasileiro, desfazer as infundadas acusações lançadas por aqueles que querem desconstruir nossa história e nosso projeto de mudança social".
(A Casa do Povo cassou o mandato do comissário.)
A cumplicidade de Lula com a quadrilha que o procurador-geral da República identificou no Planalto começou num ponto extremo, quando concordou que Waldomiro Diniz, subchefe da Casa Civil, deixasse o governo "a pedido".
Palocci é candidato a deputado pelo partido de Lula. Dirceu montou uma promissora empresa de consultoria. Defende o voto de lista (expediente do agrado de um pedaço do tucanato), pelo qual a choldra é chamada a decidir em cima de listas elaboradas pelas direções partidárias. Olhando-se pelo retrovisor, se em outubro próximo existisse o voto de lista, Roberto Jefferson mandaria nas preferências do PTB, Dirceu, na do PT e Eduardo Azeredo, na do PSDB.
Em maio de 1989, Lula discursou para uma platéia de empresários americanos e disse o seguinte:
"A gente fica orgulhoso quando o primeiro-ministro Noburo Takeshita renuncia no Japão por causa de 1 milhão de dólares. Se fosse no Brasil, o sujeito ia para um cargo maior".
Exagerou um pouco, mas não muito.

Telejatinho
A briga pelo controle da Brasil Telecom terá fogo se forem conhecidos os nomes dos principais passageiros dos jatinhos alugados regularmente pela empresa. O Senado passará por novo aborrecimento.

Recordar é viver
A professora Condoleezza Rice defende a ocupação de um pedaço do Líbano. Ela disse isso há 15 dias, e a discussão patinou. Não se fazem mais impérios como antigamente. Os Estados Unidos invadiram o Líbano em 1958 e é de Eleanor Dulles, irmã de John Foster Dulles, o secretário de Estado da época, a seguinte observação, feita em 1984: "Hoje as coisas andam muito devagar. Lembro que Foster começou a discutir o desembarque no Líbano numa manhã. No dia seguinte, nossa tropa já estava lá".

Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e não perde reunião do conselho político da campanha de Geraldo Alckmin. Na terça-feira, ele viu a turma do PFL reclamar porque o PSDB mal fala com ela. A de Brasília queixa-se de falta de comunicação com a marquetagem de São Paulo. Ele não entendeu porque se fala tanto em comunicação na campanha de Alckmin. Eremildo aderiu à sua candidatura levado pelo fascínio por frases sem substantivos, discursos sem idéias e programas sem propósitos.

Deflação eleitoral
Um mau olhado acompanha o senador Aloizio Mercadante. Desde que foi eleito, em 2002, orgulha-se, com razão, dos 10,5 milhões de votos que recebeu. Havia duas cadeiras na disputa.
Segundo o Datafolha, Mercadante tem 17% das preferências na disputa pelo governo paulista. São 4 milhões de votos.

Breve aqui, CPI
As negociações de Lula com o PMDB podem acabar numa CPI das Porteiras Fechadas.
No último jantar que tratou do assunto, "nosso guia" ofereceu o que não devia.

Mistura fina
Geraldo Alckmin mostrou que não sabe o que foi a Prova Brasil. Mau começo para quem quer ser presidente da República. No final do ano passado, a Prova Brasil testou os conhecimentos de 3,3 milhões de estudantes em 41 mil escolas da rede pública.
Censitário, o exame avaliou todos os estudantes de todas as escolas. O governo de São Paulo não aderiu à iniciativa.
Enquanto as redes municipais paulistas foram testadas censitariamente, a rede estadual foi avaliada por amostragem. Apareceram buracos no desempenho da rede escolar do Estado.
Os resultados colhidos em testes censitários e noutros realizados por amostragem são preliminarmente confiáveis, desde que sejam mantidos separados.
Juntar dados de um com os de outro, sem advertência expressa e permanente, confunde os curiosos.
O MEC faz isso com as notas que divulga pela internet.

Só monólogos
Depois da entrevista em que foi emparedado por Fátima Bernardes e William Bonner, diminuíram as possibilidades de "nosso guia" vir a dar uma entrevista coletiva livre e incondicional.

Por que Raúl não é parecido com Fidel?

Um registro para quem já estranhou a dessemelhança fisionômica entre Fidel e Raúl Castro: eles são irmãos de fé, mas é possível que sejam meio-irmãos de sangue. O fazendeiro Angel Castro casou-se com uma professora, com a qual teve um casal de filhos (Lídia e Pedro Emílio). Teve mais uma uma ninhada com Lina Ruz, que trabalhava em sua casa.
Fidel e seus irmãos só foram morar na casa do pai quando o Grande Guia tinha 9 anos. Angel só reconheceu os filhos oito anos depois. Ramón, o irmão mais velho do comandante, parecia-se bastante com ele. Raúl diferencia-se no tamanho, na fragilidade e mesmo nos traços.
Quando ele nasceu, em 1931, Lina e seus filhos ainda não viviam na casa-grande de Angel. A maledicência, que pode ser encontrada na biografia de Fidel escrita pelo ex-embaixador inglês em Havana, Leycester Coltman, atribui a paternidade de Raúl Castro ao comandante do destacamento policial da região, Felipe Miraval, apelidado "Chinês".
Em 1959, quando os dois irmãos chegaram ao poder, Miraval era coronel, foi preso, condenado à morte e poupado. Ele nunca disse que era o pai de Raúl. Para quem gosta de psicologia de botequim, é um prato cheio.

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